Os números por si só justificam a realização no Brasil da segunda edição de um dos principais encontros sobre o etanol em todo o mundo, o Ethanol Summit, concebido para ser um palco de discussões aprofundadas e de alto nível sobre o biocombustível, reunindo empresários, representantes de governo, produtores e pesquisadores de várias partes do mundo. O encontro teve início na segunda-feira (1°), em São Paulo.
“As empresas do setor sucroalcooleiro pelo mundo, em especial no Brasil, viveram momentos difíceis nos dois últimos anos, seja por conta da elevada escassez de crédito ou devido aos preços deprimidos do açúcar e do etanol”, disse Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), entidade que reúne 127 empresas industriais associadas e que organizou o encontro.
“Mas, apesar da crise econômica mundial, fizemos questão de realizar o evento para mostrar ao mundo que acreditamos na competitividade e na sustentabilidade do etanol brasileiro. Isso porque o desempenho energético e ambiental da cana-de-açúcar não encontra paralelos em todo o mundo”, afirmou.
Jank lembrou que o Brasil é o único país do mundo a atualmente misturar até 25% de etanol à gasolina, além de ter uma ampla frota de veículos bicombustíveis, que já representa cerca de 90% da venda de automóveis novos no país.
A produção e o uso de etanol de cana-de-açúcar, segundo ele, é uma importante ferramenta no combate ao aquecimento global, uma vez que se estima que cerca de 45 milhões de toneladas de dióxido de carbono deixaram de ser emitidas no Brasil desde 2003, quando foram lançados os veículos flex fuel.
“Desde a década de 1970 o uso do etanol de cana produziu uma redução estimada de 600 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Para atingir uma economia semelhante seria necessário plantar, pelo menos, 2 bilhões de árvores”, apontou.
O governador de São Paulo, José Serra, também apresentou dados sobre a redução de dióxido de carbono (CO2) na abertura do Ethanol Summit. “Entre 2004 e 2008, a frota de veículos flex fuel no Estado economizou cerca de 35 milhões de toneladas de CO2, que deixaram de ser emitidos na atmosfera. A utilização de etanol por essa frota equivaleria ao plantio de cerca de 110 milhões de árvores”, disse.
“Para se ter uma ideia, se 10% da gasolina do mundo tivesse álcool em sua formulação, 530 milhões de toneladas de CO2 deixariam de ser emitidos por ano, o que equivale a 1 milhão de árvores em pé. No caso brasileiro, a adição do etanol à gasolina atualmente varia de 20% a 25%. Esses dados são extremamente significativos e reforçam os benefícios ecológicos do biocombustível”, destacou.
1 bilhão de toneladas
De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (AIE), a produção e utilização de etanol ajudam a reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa em até 90% em comparação com a gasolina, com base em análises realizadas em todo o ciclo de vida do produto, desde o plantio até o veículo abastecido.
Além das vantagens econômicas e ambientais, a produção e utilização nacionais de etanol pouparam o país de bilhões de dólares na importação de petróleo e de seus derivados nas últimas três décadas. “Temos todo o interesse em disseminar o conceito de commodity para o etanol. Essa é uma questão-chave, porque permitirá o melhor desenvolvimento do comércio interno e externo, evitando que o etanol concorra diretamente com o açúcar”, disse o governador paulista.
O etanol e o bagaço da cana representam 16% da matriz energética brasileira, o que os coloca no segundo lugar no ranking das principais fontes energéticas do país, ficando apenas abaixo do petróleo e derivados. “Mas, comparativamente ao petróleo, as vantagens ambientais e econômicas do etanol são muito mais significativas”, disse Serra.
Em março de 2008, o consumo de etanol produzido a partir da cana-de-açúcar representava mais de 50% do combustível utilizado pelos automóveis e veículos comerciais leves movidos a etanol e/ou gasolina no Brasil, excluindo, portanto, veículos movidos a diesel ou gás natural.
Ao fim da safra 2007/2008 a cana ocupava 7,8 milhões de hectares, ou 2,2% do total de terras cultiváveis no país, sendo que a região Centro-Sul produz cerca de 90% da cana-de-açúcar brasileira. O Estado de São Paulo responde por 60% do total de cana produzida no Brasil e o setor sucroenergético é responsável pelo emprego direto de mais de 800 mil trabalhadores em todo o país.
Em outros dados apresentados no Ethanol Summit, a produção de etanol no Brasil superou 22,5 bilhões de litros na safra 2007/2008, um aumento de 27% em relação à safra 2006/2007. A exemplo dos anos anteriores o mercado interno absorveu cerca de 84% dessa produção, sendo que os 3,6 bilhões de litros restantes foram dirigidos à exportação.
A receita bruta anual dos setores de açúcar e etanol no país gira em torno de US$ 20 bilhões, sendo que em 2007/2008 cerca de 54% desse valor foi gerado pela venda de etanol, 44% pela venda de açúcar e os 2% restantes pela bioeletricidade vendida no mercado interno. Estima-se que a produção brasileira de cana para todas as finalidades (açúcar, etanol e bioeletricidade) atinja 1 bilhão de toneladas até 2020, mais do que o dobro da safra 2007/2008.
“Há 35 anos o Brasil produz etanol, um combustível que, como todos sabem, emite 90% a menos de gases do efeito estufa quando comparado com os combustíveis fósseis. Mas não podemos esquecer que nosso país ainda utiliza apenas 1% de seus 400 milhões de hectares de terras disponíveis para a agricultura para a produção de etanol”, disse o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva em um vídeo gravado para a sessão de abertura do evento.
A segunda edição do Ethanol Summit abriga ainda o Brazil Etanol Trade Show, que reúne cerca de 80 expositores apresentando produtos, equipamentos e serviços com acesso livre para os participantes do congresso. (Fonte: Thiago Romero/ Agência Fapesp)