A chefe do governo alemão, Angela Merkel, anunciou nesta segunda-feira (6) a sua intenção de prolongar o funcionamento das centrais nucleares da maior economia europeia, abrindo uma frente de batalha política que corre o risco de ser uma das mais difíceis de seu mandato.
“Precisamos de energia nuclear e de carvão como energia de transição. Sei que muita gente é muito cética e crítica em relação à energia nuclear e leva muito a sério essas preocupações”, disse Merkel nesta segunda-feira.
A energia nuclear civil será utilizada “pelo tempo que for necessário” para se “chegar à era das energias renováveis”, acrescentou.
Foram necessárias doze horas de negociações para que Merkel conseguisse que seu governo de coalizão conservador-liberal chegasse a um acordo e pudesse cumprir uma das promessas eleitorais feitas aos industriais: adiar a data limite (2022) fixada para pôr fim à indústria nuclear civil por seus antecessores verdes e social-democratas.
O governo alemão vai dar aos 17 reatores do país um prazo de mais doze anos em média, ou seja, oito anos para os mais antigos, construídos antes de 1980, e 14 para os mais recentes.
Com estes novos prazos, o reator nuclear alemão mais novo, o de Neckarwestheim 2 (sudoeste), construído em 1988, teria o seu funcionamento interrompido em 2040, segundo cálculos da imprensa.
Mas as datas não são definitivas, já que o governo não estabelece seus prazos em anos, mas sim em quantidade de eletricidade atribuída a cada reator.
Com este sistema, os operadores poderão fechar rapidamente as antigas centrais nucleares e transferir as quotas obtidas para as centrais mais recentes.
O setor nuclear gera cerca de 25% da energia que a Alemanha consome. As energias renováveis produzem 15% e o restante é proveniente do carvão ou dos hidrocarbonetos.
A discussão foi trabalhosa dentro do governo. O ministro da Economia, Rainer Brüderle, pedia cerca de 20 anos de prolongação e o do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, não queria nem ouvir falar de mais de oito anos.
Outro ponto sensível do debate foi a aplicação de um imposto aos operadores das centrais, que deveriam pagar 2,3 bilhões de euros por ano.
Segundo o compromisso alcançado, essa taxa será provavelmente limitada a seis anos, apesar de o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, desejar que fosse aplicada por tempo ilimitado.
O imposto não será a única concessão pedida às quatro maiores empresas energéticas da Alemanha (EON, RWE, EnBW e Vattenfall), que também terão que investir 15 bilhões de euros em energias renováveis.
As empresas deverão destinar “somas consideráveis” à segurança, afirmou nesta segunda-feira Merkel, em uma tentativa de tranquilizar a opinião pública, majoritariamente hostil às centrais nucleares e ainda traumatizada com a catástrofe de Chernobyl.
As organizações ecologistas, mais populares do que nunca no país, convocaram uma manifestação em Berlim no dia 18 de setembro.
Mas, além dos protestos nas ruas, Merkel terá de enfrentar a oposição no Parlamento e nos tribunais.
Seu governo espera que o projeto possa evitar a passagem pela Câmara Alta do Parlamento, a Bundesrat, que representa os estados regionais, onde a sua coalizão perdeu a maioria em maio passado.
Mas o Partido Social-democrata (SPD) e os Verdes já anunciaram que recorrerão à justiça, e muitos analistas consideram que o caso poderá chegar ao Tribunal Constitucional, com um resultado incerto. (Fonte: G1)