Dos oito estados cobertos integralmente pela Rede Brasileira de Detecção de Descargas Atmosféricas (BrasilDat), São Paulo lidera o ranking de ocorrências de raios em janeiro deste ano, com 462.530 descargas elétricas. O levantamento foi feito a pedido do G1 pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O número de raios em São Paulo em janeiro de 2011, segundo o Elat, é maior do que o registrado no mesmo período de 2010, quando o estado teve 400.353 descargas elétricas. Só no dia 23 de janeiro, São Paulo registrou 1.736 raios.
“Esse número de raios em um único dia não é normal. Porém os detalhes das causas desse índice não são totalmente conhecidos. O que se sabe é que o impacto da urbanização sobre a formação das tempestades com certeza faz parte do processo”, diz o coordenador do Elat, Osmar Pinto Júnior.
Já a diferença das ocorrências de raios entre 2010 e 2011 está dentro da variabilidade natural para o período de um mês, segundo o Elat. “No período não houve variações significativas. Somente no final do verão poderemos ter uma visão mais clara se houve ou não um aumento de 2010 para 2011″, diz o especialista.
No estado de São Paulo, recordista em mortes, 25 pessoas morreram por conta das descargas elétricas em 2009. Entre 2000 e 2009, foram 230 mortes estado. Em 31 de janeiro deste ano, um agricultor de 58 anos morreu após ser atingido por um raio enquanto trabalhava em uma horta em Presidente Prudente (SP).
Enquanto São Paulo sofre com o aumento das descargas elétrica, a quantidade de raios no estado do Rio de Janeiro diminuiu no começo deste ano, justamente devido ao grande volume de chuvas registrado. “De início parece contraditório, mas, quando as chuvas ultrapassam um limite, isto é, quando chove muitos dias seguidos, como no Rio de Janeiro, a atmosfera esfria e a ocorrência de raios diminui”, afirma.
Formação dos raios – De acordo com Pinto Júnior, os raios ocorrem em meio a tempestades severas, com ventos e precipitações intensas. Isso porque as nuvens de tempestade possuem partículas de gelo que, ao se chocarem, ficam carregadas eletricamente. Essas cargas, acumuladas, geram descargas elétricas, que são os raios.
“Se uma nuvem não tem gelo, não produz descarga. E só há gelo em nuvens que ultrapassam os 6 km ou 7 km de altura, no Brasil. As mais baixas causam chuvas, não raios”, afirma.
Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, ainda de acordo com o especialista, as tempestades são mais comuns no verão. Já no Sul e no Norte, os picos de raios acontecem na primavera. “As tempestades se formam a partir de choques de massas de ar que se movem no planeta, e a circulação dessas massas tem características peculiares em cada região do país e do mundo”, explica.
Rede de monitoramento – A BrasilDat, rede de monitoramento de descargas elétricas do Elat, abrange integralmente os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e Santa Catarina.
Para a escolha dos locais de instalação dos sensores, segundo o Elat, foram preponderantes os aspectos econômicos, incluindo a logística e a possibilidade de manutenção do equipamento. A BrasilDat permite ao Elat fazer levantamentos pontuais em cidades desses estados, em tempo real.
O monitoramento de raios em outras regiões do país existe, mas funciona de um modo diferente. Neste caso, são utilizadas duas fontes de informações: a Rede Mundial, que conta com sensores espalhados pelo mundo; e satélites americanos, que mapeiam todos os continentes e captam dados sobre raios, mas não em tempo real. Os dados dessas duas fontes são usados pelo Elat apenas para estimativa do total de raios e levantamentos a longo prazo. (Fonte: Nathália Duarte/ G1)