Pequenos agricultores da Bahia estão melhorando de vida com o cultivo de palmito pupunha. Esse é o resultado da união numa cooperativa, que se tornou modelo na região.
A região do baixo sul da Bahia é famosa pela natureza exuberante, com praias de areia clara, palmeiras e turistas. A região dos municípios de Igrapiúna e Ituberá fica a 200 quilômetros de Salvador.
Nascido e criado na região, Adalto dos Santos resolveu ganhar a vida com a pupunha, uma palmeira usada para a produção de palmito. Ele explicou que nos primeiros anos de trabalho a família não sabia muito sobre pupunha. Sem orientação, a colheita era fraca. O pior é que na hora venda entravam em cena os atravessadores, que compravam a pupunha nos sítios por preço baixo e revendiam mais caro para as indústrias. “Ficava difícil. Era muito trabalho e pouca renda”, avaliou.
Com tantos problemas, a família passava apertado. Adalto dos Santos mora no sítio, com a mulher, a dona Elineis, e duas filhas. “Muita preocupação. É muito difícil cidadão chegar do trabalho e ver a criança chorar sem ter aquele recurso para saber onde vai buscar alimentação para aquela criança”, disse.
A situação começou a mudar em 2004. Foi quando alguns agricultores da região resolveram fundar a Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia, a Coopalm, sediada em Ituberá.
A entidade é formada basicamente por pequenos sitiantes, como Raimundo dos Santos. Com três hectares de pupunha, ele é o atual presidente da cooperativa. “Tinham muito abandono de terra e muita gente indo embora para a cidade grande. A pupunha mudou a realidade”, contou.
Hoje, a cooperativa já soma 484 associados. Tem sede própria e uma equipe de administradores, técnicos e agrônomos. Enfim, foi montada uma estrutura profissional para apoiar as famílias de produtores.
Para ver na prática isso funciona, a equipe de reportagem saiu de Ituberá. Depois de duas horas em estradas de terra, o grupo chegou ao destino: um assentamento de reforma agrária, no município de Igrapiúna. O Assentamento Mata do Sossego foi criado oficialmente em 1997, em uma antiga fazenda de cacau. Setenta e duas famílias produzem pupunha e são filiadas à cooperativa.
Nilza e José Maturino, conhecido como Zequinha, convidam a equipe para conhecer a lavoura, que fica há um quilômetro da agrovila. O plantio comercial de pupunha ocupa 1,5 hectare.
O seu Zéquinha e a dona Nilza contaram que a propriedade tem todas as etapas da produção da pupunha. O trabalho começa no viveiro de mudas. As plantas foram formadas com sementes compradas pela cooperativa para todos os produtores. Esse tipo de compra, em volumes maiores, garante preços mais baixos pras famílias.
Com pouco mais de um ano de idade, as palmeiras já começam a formar corredores sombreados e bonitos. Em média, cada hectare concentra 7,2 mil touceiras de pupunha. Com um ano e oito meses, a lavoura chega ao ponto de colheita.
Com formato cilíndrico, o palmito nada mais é do que a base das folhas jovens da palmeira. São folhas ainda em formação.
O seu Zéquinha corta a planta mais robusta da touceira. Em seguida, ele vai fazendo a limpeza. O pedaço do caule que contém o palmito é chamado de haste. Nessa fase, um dos manejos mais importantes é a poda.
Cada touceira deve ficar no máximo com três ou quatro brotações em idades variadas. Isso reduz a competição e garante plantas mais fortes, com boa saúde para formar os palmitos. Outro cuidado é evitar fazer a colheita em várias touceiras vizinhas para não abrir clareiras no cultivo.
Técnico agrícola e sociólogo, Luís Carlos Pereira é superintendente e responsável pela assistência técnica da cooperativa. Quatro agrônomos e 15 técnicos agrícolas visitam propriedades e orientam os produtores.
“Antes desse trabalho com cooperativa, não tínhamos assistência técnica. Não tinha nada e ficava difícil. A gente tentava fazer e não conseguia por falta desse entendimento técnico que a gente não tinha”, disse Zequinha.
Com orientação, os agricultores foram aprendendo a cuidar corretamente da lavoura e a produtividade disparou. Se no passado cada hectare de pupunha de seu Zéquinha não rendia mais do que duas mil hastes por ano, hoje a família consegue colher o triplo. São seis mil hastes por hectare.
Logo após a colheita, seu Zéquinha e dona Luzia entregam as hastes para um caminhão da cooperativa. Ele e dona Nilza recebem R$ 1,25 por cada haste entregue à cooperativa. O valor é aproximadamente o dobro do que as famílias da região conseguiam no passado com os atravessadores.
O beneficiamento ocorre numa indústria que foi contratada pela cooperativa. Ela recebe a matéria prima dos cooperados e, no final, entrega o palmito prontinho pra venda.
A cooperativa vende a maior parte produção para grandes redes de supermercados do Sul e do Sudeste do Brasil. No final do ano, fechada a contabilidade da cooperativa, os agricultores ainda podem receber uma segunda parcela em dinheiro. É a participação nos lucros.
Atualmente, só com a pupunha, dona Nilza e seu Zéquinha conseguem uma renda líquida livre de R$ 1,2 mil por mês, fora o aproveitamento caseiro do palmito e de vários outros produtos do sítio.
Pela primeira vez, a família conseguiu ter alguma sobra para investir em qualidade de vida. “Compramos cama nova e colchão novo. Também temos um freezer. A gente colocou esse piso depois da pupunha. Tem batedeira de bater bolo, ferro e liquidificador. Então, eu fico muito alegre de saber que estou mudando para melhor e que vai mudar mais ainda”, comemora dona Nilza.
O seu Zéquinha lembra que há apenas alguns anos a família lutava contra a fome. “A situação de hoje em relação ao passado não tem nem comparação. Sonhar a gente sonhava, mas o difícil era conseguir”, disse.
“Agora, está bem fácil porque a gente a gente sonha e temos”, concluiu dona Nilza.
Essa melhoria aconteceu com centenas de famílias da região. (Fonte: G1)