Autoridades japonesas estão preparando uma nova abordagem ao trabalho de resfriamento dos reatores da usina nuclear de Fukushima, após descobrirem no subsolo de uma unidade inutilizada pelo terremoto e tsunami de março um tanque de água radiativa que tem as dimensões de uma piscina olímpica.
A descoberta obrigou as autoridades a abandonarem seu plano original para controlar o reator 1 da usina de Fukushima Daiichi, enquanto focam sobre como lidar com o tanque crescente de água, visto por alguns especialistas como ameaça ao lençol de água subterrânea e à costa do Pacífico.
Apesar do revés, as autoridades de segurança nuclear japonesas e a operadora da usina, a Tokyo Electric Power Company (Tepco), pretendem manter a meta de estabilizar a usina e levar seus reatores ao estado de “fechamento a frio” até janeiro próximo.
Nesse momento, a temperatura do combustível no núcleo dos reatores terá caído, e o combustível não poderá mais fazer ferver a água que o cerca.
“Queremos preservar o cronograma, mas ao mesmo tempo vamos ter que mudar nossa abordagem”, disse Goshi Hosono, assessor do primeiro-ministro Naoto Kan, em um talk show de televisão no domingo.
Alguns especialistas externos sugerem que o cronograma inicial para Fukushima talvez tenha sido demasiado otimista. O terremoto de 9,0 graus e o tsunami que o seguiu desencadearam o pior acidente nuclear mundial desde o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
“Nós teríamos cautela em dizer que o perigo acabou, enquanto a descontaminação e limpeza do local não estivessem bem adiantados, sem mais vazamentos”, disse em e-mail Serge Gas, porta-voz da Agência de Energia Nuclear, sediada em Paris.
A Tepco está prevista para apresentar informações atualizadas sobre o progresso dos trabalhos na terça-feira. Em duas aparições na televisão no domingo, Hosono disse que o governo também anunciaria seu próprio cronograma.
A Tepco se prepara para pagar indenizações a milhares de moradores e estabelecimentos comerciais da região da usina, agricultores e pescadores, sob um plano dirigido e parcialmente financiado pelo governo.
O terremoto e o tsunami de 15 metros que o seguiu devastaram a costa nordeste do Japão, deixando mais de 15 mil mortos. Outras 9.500 pessoas ainda estão desaparecidas.
Problema – Na última semana emergiram detalhes sobre a situação no reator 1. Os avanços no sentido de controlar a unidade vêm sendo vistos como teste da rapidez com que poderão proceder os trabalhos nos outros três reatores danificados.
Uma das revelações feitas foi que o combustível no reator se derreteu após o terremoto e caiu para o fundo do recipiente de pressão no núcleo do reator, cerca de 16 horas após o terremoto.
Um robô no primeiro piso do prédio do reator registrou na sexta-feira radiação em um nível que impede que os trabalhadores fiquem na área por mais de oito minutos sem exceder os limites de exposição.
Além disso, o recipiente de contenção do reator deixou vazar grandes volumes de água radiativa dentro do prédio do reator.
No sábado, um técnico da Tepco pôde olhar dentro do subsolo do reator 1 e o viu cheio de água até quase a metade de sua altura de 11 metros, volume maior que o de uma piscina olímpica.
Críticos disseram que a injeção de grandes volumes de água pode provocar graves riscos ambientais.
Um porta-voz da Agência de Segurança Nuclear e Industrial, Hidehiko Nishiyama, disse que estão sendo preparadas novas medidas para tratar e armazenar a água radiativa em Fukushima. (Fonte: Folha.com)