Conservacionistas estão pedindo que as autoridades indonésias tomem medidas urgentes para salvar os orangotangos, depois de um relatório ter avisado que os grandes macacos, uma espécie ameaçada, vêm sendo caçados em um ritmo que pode levá-los à beira da extinção.
Erik Meijaard, líder de uma equipe que fez a primeira tentativa de avaliar a escala do problema em Kalimantan, a parte indonésia de Bornéu, disse que os resultados mostram que nos 12 meses encerrados em abril de 2008 entre 750 e 1.800 orangotangos foram mortos na região em função da caça e do desmatamento.
O número, que superou as previsões, indica que as populações de orangotangos de Kalimantan podem correr perigo sério “no futuro previsível”, disse Meijaard, da organização People and Nature Consulting International, com sede em Jacarta. “Se continuar assim, dentro de 10 a 15 anos praticamente todos os orangotangos de Kalimantan terão desaparecido.”
A Indonésia, onde vivem 90% dos orangotangos do mundo, também tem um dos maiores índices mundiais de desmatamento, fenômeno movido pela extração ilegal de madeira, a plantação de palmeiras para extração de óleo e o garimpo de ouro.
A perda do habitat é a razão principal do declínio forte nas populações de orangotangos de Bornéu (Pongo pygmaeus) e do orangotango de Sumatra (Pongo abelii), que já corre perigo crítico. Acredita-se que restam menos de 7.000 orangotangos de Sumatra, e a espécie está na lista dos 25 Primatas que Correm Maior Perigo no Mundo desde que a lista foi criada, em 2000.
Em Bornéu ainda restam estimados 54 mil orangotangos, metade do número de 25 anos atrás.
A perda dos habitats do animal é agravada pela caça, que, embora seja sabidamente uma das causas do declínio dos orangotangos, é um problema que não tem sido tratado.
Embora boa parte da matança de orangotangos documentada por Meijaard e seus pesquisadores parece ter sido motivada por oportunismo, com camponeses caçando para sua subsistência, uma parte importante pode estar relacionada à perda de habitats.
“Quando há plantações sendo feitas, ocorre a caça de conflito. As pessoas estão ampliando seus campos e roças e invadindo o habitat dos orangotangos, que são comprimidos em bolsões de floresta cada vez menos, o que automaticamente aumenta a frequência dos contatos com humanos”, disse Meijaard.
“Se você encontra um orangotango sentado em sua horta, comendo as frutas de sua árvore ou arrancando suas palmeiras usadas para extrair óleo, sua reação lógica será assustá-lo, para ele fugir, ou matá-lo. É o que as pessoas fazem.”
Para fazer frente à queda na população de orangotangos as autoridades indonésias precisam reprimir os responsáveis pela degradação dos habitats, para que as florestas de Bornéu sejam “mais bem administradas”, disse Meijaard.
É igualmente importante conscientizar a população do status ameaçado dos orangotangos e implementar a lei quando são descobertos casos de caça ilegal do macaco.
“Até agora, em toda a história da conservação dos orangotangos, acho que apenas duas pessoas na Indonésia foram parar na prisão em função de atividades ilegais relacionadas aos orangotangos”, disse Meijaard.
Na semana passada, dias apenas após a divulgação do relatório dele, dois trabalhadores indonésios em plantações foram presos por suspeita de terem matado pelo menos 20 orangotangos e macacos probóscides.
A polícia disse que os homens admitiram ter perseguido os primatas com cães antes de matá-los a tiros e facadas, mas alegaram ter recebido ofertas de dinheiro para cada animal morto, feitas por produtores de palmeiras interessados em reduzir as investidas dos macacos contra suas plantações. Se forem condenados, os trabalhadores enfrentarão até cinco anos de prisão.
Ashley Leiman, da Fundação Orangotango, de Londres, concordou que a implementação melhor das leis precisa ser a prioridade na luta para salvar a espécie. “É preciso haver mais conscientização e, com certeza, mais implementação das leis”, disse ela, acusando as autoridades indianas de serem “muito relapsas”. Ela acredita, também, que as leis atuais são quase impossíveis de implementar. “É preciso praticamente flagrar as pessoas no ato da matança”, disse ele.
Um porta-voz do Ministério Florestal indonésio descreveu como “bombásticas” as conclusões do relatório e disse duvidar de sua veracidade.
Mas a questão da caça não deve desviar as atenções da ameaça fundamental da degradação da floresta, que é a causa original da caça relacionada a conflitos, disse Leiman.
“Agora, quando se combinam os dois fatores, o problema é totalmente agravado. Em todo caso, porém, tudo se deve ao problema original [a perda dos habitats]”, disse ela, para quem, se a floresta continuar a ser derrubada no ritmo atual, o governo indonésio vai precisar criar mais áreas protegidas.
Para Leiman, tentar assustar é contraproducente. “Não acredito que os orangotangos sejam extintos. Acho que a espécie vai sobreviver. Talvez sobreviva apenas em áreas protegidas, e provavelmente em número menor que agora.” (Fonte: Folha.com)