Transição energética na Alemanha já afeta grandes empresas do setor

O plano de transição energética da Alemanha, que pretende substituir usinas poluentes, como as de carvão, ou aquelas consideradas perigosas, como as nucleares, por complexos renováveis já traz consequências negativas para empresas do setor, que têm planos de fechar unidades ou mesmo transferir plantas para outro país.

O futuro das usinas movidas a carvão e gás é um dos grandes pontos de interrogação desta transição, que deve levar a Alemanha a abandonar, em 20 anos, a energia nuclear, e as fontes renováveis a se tornarem 80% da produção elétrica até 2050.

Merkel, que espera se eleger para um terceiro mandato nas legislativas de 22 de setembro, reivindica o popular abandono da energia atômica.

Mas esta política energética vai privar os produtores de eletricidade, EON e RWE em primeiro lugar, de ganhos proveitosos obtidos com suas usinas atômicas. A empresa energética alemã RWE quer fechar seis usinas na Alemanha e a EON pretende se mudar para a Turquia.

E a partir de agora, ela transforma suas usinas de gás e carvão, marginalizadas pela concorrência das renováveis, em fontes de prejuízo. “Muitas de nossas usinas operam no prejuízo”, afirmou recentemente o diretor financeiro da RWE, Bernhard Günther.

Como consequência, a RWE pretende fechar várias usinas na Alemanha e na Holanda, que representam uma capacidade acumulada de 4.300 Megawatts (Mw). E outras podem seguir o mesmo caminho, acrescentou Günther.

A Agência de Redes, que deve avaliar estes fechamentos, recebeu desde o fim de 2012 quinze pedidos de fechamento, segundo um porta-voz. A norueguesa Statkraft, entre outras, anunciou que fechará duas instalações na Alemanha.

Em função do boom de energia solar nos últimos anos, devido a um regime generoso de subsídios, a capacidade instalada das renováveis atualmente é tal que, se o vento soprar ou o sol brilhar, inclusive ao mesmo tempo, a Alemanha pode em algumas oportunidades deixar de usar suas usinas convencionais.

Eólica e solar são prioridades – O apoio às renováveis se traduz, sobretudo, na prioridade dada à própria energia que alimenta a rede. Tudo o que as eólicas e os painéis solares produzem deve passar, enquanto a produção de carbono e gás só serve para tapar buraco.

Em função do boom de energia solar nos últimos anos, devido a um regime generoso de subsídios, a capacidade instalada das renováveis atualmente é tal que, se o vento soprar ou o sol brilhar, inclusive ao mesmo tempo, a Alemanha pode em algumas oportunidades deixar de usar suas usinas convencionais.

Entre abril e maio, algumas usinas da RWE funcionaram a menos de 10% de sua capacidade, explicou Günther. Como o preço do atacado da eletricidade é o mais baixo da Europa, isto se traduz em perdas substanciais.

Recentemente, o problema dizia respeito às usinas a gás, mas, segundo ele, a partir de agora até mesmo o carvão não é mais obrigatoriamente rentável.

A EON brigou durante meses com as autoridades regionais sobre o destino de sua usina a gás de Irshing, na Bavária. Inaugurada em 2010, a central funciona precariamente. O grupo concordou em mantê-la em serviço, como desejavam reguladores e poder público em uma solicitação de garantia de abastecimento, mediante o pagamento de uma compensação.

Garantia de abastecimento – A Agência de Redes advertiu que não aprovará mais fechamentos de usinas no sul do país, onde a demanda é maior. A geração a partir de fontes renováveis é inteiramente dependente do clima e as fontes convencionais precisam garantir o abastecimento quando estas falham. Quando isto ocorre, os operadores pedem compensação.

Atualmente, as usinas do grupo EON “trabalham por nada”, lamentou recentemente o diretor Johannes Teyssen, que estuda outros cenários de fechamento e – por que não? – transferir a empresa para a Turquia, onde o grupo está solidamente implantado. “Eu acredito que é sempre uma ameaça, será muito, muito complicado, e me espantaria que pensassem nisso seriamente’, comentou uma fonte do setor.

Neste período pré-eleitoral, as ameaças fazem parte do jogo. Todo o setor espera do futuro governo uma revisão profunda das modalidades da transição energética. “Todos os problemas são conhecidos e identificáveis, não haverá descanso para o futuro governo”, advertiu Hildegard Müller, presidente da federação do setor, BDEW.

Em 2011, o G1 visitou o estado de Baden-Württemberg, no sul da Alemanha, e mostrou projetos do país voltados à geração de energia limpa e que terão a responsabilidade de substituir, principalmente, as usinas nucleares em operação por todo o território alemão.

O emprego das energias renováveis no país, como a solar, eólica e biomassa, saltariam para 80% até 2050, segundo o plano oficial. A potência instalada de fontes renováveis deverá chegar a 163,3 GW.

É como se em quatro décadas a Alemanha construísse o equivalente a mais de 14 usinas com a mesma potência da de Belo Monte, que terá capacidade para produzir 11,2 GWh de energia no Rio Xingu, no Pará. (Fonte: G1)