Uma nova técnica para a reprodução de abelhas sem ferrão transforma todas as recém-nascidas da colmeia em rainhas e pode facilitar a polinização de lavouras no país. Isso levaria à redução do custo das produções agrícolas e à melhoria da produtividade em até 40%.
O trabalho foi feito por pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Amazônia Oriental, da USP (Universidade de São Paulo) e da Ufersa (Universidade Federal Rural do Semiárido).
Com a nova técnica, seria possível produzir 2.000 rainhas por colmeia em um mês, afirma Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. Em uma situação normal, cada colônia produz apenas duas abelhas-rainhas por mês.
Para multiplicar o número de rainhas produzidas, larvas de abelhas recém-nascidas recebem uma quantidade seis vezes maior de alimento – uma mistura de pólen com secreções de abelhas operárias – do que o normal. Dessa forma, todas as abelhas fêmeas superalimentadas se tornam rainhas, algo que não aconteceria normalmente.
A rainha desse tipo de abelha não tem, no entanto, capacidade para começar do zero uma nova colmeia. Para formar uma colônia, é preciso contar de início com cerca de 200 abelhas operárias adultas e depois introduzir a rainha, que dará continuidade ao aumento da população de abelhas.
Com um suplemento alimentar à base de soja e com a multiplicação do número de rainhas, a pesquisa conseguiu fazer com que cada colmeia produza outras dez no período de um ano – sem o uso da técnica, seria possível obter apenas três.
A pesquisa focou na abelha mandaguari, mas já estão sendo feitos experimentos com as espécies canudo e tubuna, também sem ferrão.
De acordo com Menezes, para polinizar toda a área plantada de morango no Brasil, por exemplo, seriam necessárias cerca de 50 mil colmeias de abelha sem ferrão, sendo que cada colmeia tem uma média de 10 mil abelhas. “Atualmente, a gente não tem quem forneça essa grande quantidade”, informou.
Hoje, quando há falta de abelhas numa plantação, produtores precisam gastar com trabalhadores que passam o dedo de flor em flor para transportar o grão de pólen.
Um dos exemplos em que esse trabalho é necessário é no cultivo do maracujá. “Se não tiver polinização, a produção de frutos é zero”, disse Menezes.
Ao pousar nas flores para coletar o néctar, do qual se alimentam, as abelhas se sujam de grãos de pólen. Ao visitar outra flor, os grãos são transportados, levando à reprodução da planta.
Para ter melhores resultados na lavoura, alguns produtores – principalmente de frutas, como a laranja – contratam o serviço de criadores de abelhas, que recebem para instalar suas colmeias no meio do pomar.
“Além de o custo ser bem menor, a abelha é muito mais eficiente que o ser humano. Nasceram para fazer isso. Quando você aluga uma colônia, ela já tem 10 mil indivíduos trabalhando”, disse Menezes. Isso aumenta a produção em cerca de 20% a 40%, afirma o pesquisador da Embrapa.
Além do baixo número de rainhas, o grande volume de área desmatada para plantação e o uso intensivo de pesticidas explicam a insuficiência de abelhas em áreas como o sul de Minas Gerais, onde se planeja realizar os primeiros projetos de campo da pesquisa, no ano que vem.
“É onde o controle biológico já é bastante difundido”, disse Menezes. Ele afirma que o estudo está sendo feito em parceria com uma empresa produtora de agentes biológicos para que seja disponibilizado um pacote de serviços mais adequado à polinização.
“Não adianta nada o agricultor alugar colmeia e usar bastante inseticida, porque vai matar abelhas”, disse.
Hoje, o serviço de aluguel de colmeias para a polinização de lavouras só está disponível em espécies com ferrão, que requerem mais cuidados no manuseio. De acordo com o pesquisador, o custo médio da instalação de uma colmeia é R$ 60 pelo período de dois meses. “Na época da plantação, o agricultor vai alugar o serviço e a gente ‘estaciona’ as abelhas no período da floração. No café, por exemplo, dura em torno de 15 dias”, afirmou.
No caso das abelhas sem ferrão, como é um mercado novo, não há estimativa de preço, mas Menezes avalia que o custo deve ser similar ao que é praticado com as abelhas comuns.
Os pesquisadores estão agora iniciando a fase de coleta de colônias para produção em larga escala. A partir do próximo ano, elas serão levadas para a plantação, para testar seu desempenho e, em 2015, espera-se que o serviço esteja disponível para produtores. (Fonte: UOL)