A Patagônia argentina, onde está a segunda reserva mundial de hidrocarbonetos não convencionais, também é o local onde viveram os maiores dinossauros da Terra, o que faz dela um ‘El Dorado’ do sul para as petroleiras e um verdadeiro Jurassic Park para os cientistas.
O país sul-americano coloca todas as suas apostas energéticas na exploração deste gigantesco reservatório de gás de xisto, situado na bacia Vaca Muerta, onde a petroleira estatal YPF pôs mãos à obra, atraindo investimentos, entre outros países, de China, Estados Unidos, Holanda e Alemanha.
Nesta mesma região, no começo de maio, paleontólogos argentinos assombraram o mundo com a descoberta de fósseis de sete saurópodes gigantes, entre eles um fêmur de 2,40 metros de comprimento, correspondente a um exemplar destes herbívoros que há 90 milhões de anos chegavam a pesar tanto quanto 14 elegantes adultos e eram tão altos quanto um prédio de sete andares.
A formação geológica Vaca Muerta tem 30 mil quilômetros quadrados, com uma espessura rochosa de 60 a 520 metros e se estende pela província de Neuquén (sudoeste), embora também alcance o sul de Mendoza (oeste).
Estima-se que com suas reservas de gás poderia abastecer o consumo da Argentina por pelo menos 400 anos.
Somente em petróleo, a YPF prevê uma produção para este ano de 38 mil barris de hidrocarbonetos não convencionais por dia e planeja elevá-la a 70 mil em 2016 nos 12 mil km que explora.
Isto é ínfimo diante do potencial de recursos estimado pela EIA (Administração Americana de Informação sobre Energia), de 27 bilhões de barris, em seu último relatório de 2013.
“A Argentina ganhou na loteria”, disse o secretário adjunto de Energia dos Estados Unidos, Daniel Poneman, ao percorrer, há duas semanas, esta bacia patagônica ao lado do presidente da YPF, Miguel Gallucio.
Paraíso da ciência – Seu potencial energético é apenas comparável ao valor que Vaca Muerta possui para a geologia e a paleontologia. “Tem condições extraordinárias porque é uma enorme faixa com pouca umidade ambiente e, portanto, pouca vegetação, isto é, com um solo nu onde toda a geologia está à vista”, disse à AFP o paleontólogo Sebastián Apesteguía.
A movimentação tectônica com a formação da Cordilheira dos Andes fizeram seu papel para fraturar a rocha e a erosão colaborou para deixar fósseis únicos expostos.
“Durante milhões de anos, a América do Sul esteve isolada do resto do mundo, por isso o desenvolvimento evolutivo das espécies aqui foi completamente único, por isso os fósseis que aparecem são extraordinários”, explicou.
Diferentemente de Europa ou Estados Unidos, onde se conhece muito bem a fauna que habitava há milhões de anos, na Patagônia ainda reina o mistério. “Toda a Patagônia é uma jazida de fósseis, para a ciência seu valor é incomensurável”, afirmou o paleontólogo Leonardo Filippi, diretor do Museu Argentino Urquiza, em Rincón de los Sauces (Chubut). Para Filippi, as explorações petrolífera e científica podem caminhar de mãos dadas.
Recentemente, a petroleira Exxon Mobil concordou em desviar um traçado de logística e financiou a pesquisa que resultou na descoberta de fósseis de uma manada de saurópodes titanossauros, espécie herbívora com 20 metros de comprimento e de um carnívoro terápode, o segundo do tipo encontrado na Argentina no último século.
Gigantes da terra – Vaca Muerta é uma formação geológica marinha habitada há milhões de anos por animais apenas suspeitos. “Dessa formação vem uma enorme quantidade de répteis marinhos, invertebrados e crocodilos, espécimes raros, que poderiam ter carapaças ou estar cobertos de espinhas”, disse Apesteguía.
Sob sua direção, uma equipe de cientistas anunciou, em meados de maio, a descoberta em Neuquén de fósseis de um dinossauro diplodocídeo, herbívoro de pescoço e cauda longos, o primeiro registro na América do Sul desta espécie até agora encontrada na América do Norte.
A riqueza da região, tanto em fósseis quanto em hidrocarbonetos, vai da Cordilheira até a costa atlântica, confirmado pela descoberta recente do maior saurópode do mundo conhecido até agora nesta região.
“Trata-se da descoberta mais completa deste tipo de dinossauros em nível mundial porque vai permitir uma reconstrução quase completa”, disse à AFP José Luis Carballido, um dos cientistas encarregados e paleontólogo do Museu Egidio Feruglio de Trelew, 1.400 km ao sul de Buenos Aires.
A ciência espera que os troncos fossilizados e o relevo de folhas encontrados no local ajudem a explicar o tipo de meio ambiente onde viviam estes gigantes que devem ter requerido florestas para sobreviver nesta região hoje desértica, outra das perguntas ainda sem resposta. (Fonte: UOL)