Um dos cientistas pioneiros em alertar o planeta para o perigo do aquecimento global viajou a Paris para a cúpula do clima, a COP21, para defender aquilo que em sua opinião é uma solução para o problema: uma taxa global sobre emissão de carbono.
James Hansen, 74 anos, é talvez hoje o climatologista mais conhecido do mundo, tendo ganhado status de celebridade em 1988, quando foi chamado ao Congresso dos EUA onde foi interrogado sobre suas pesquisas. A história é contada no documentário “Uma Verdade Inconveniente”, vencedor do Oscar.
Hansen, que trabalhou para o Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa por 45 anos, publicava na época trabalhos com evidências importantes sobre o papel das emissões de gases do efeito estufa por atividades humanas no aquecimento do planeta. Por contrariar interesses de congressistas que atuavam em nome do lobby do Petróleo, foi chamado a depor na plenária e, pela primeira vez, detalhes sobre o problema foram expostos diante de uma plateia de políticos.
Há dois anos, o cientista trocou a Nasa pela Universidade Columbia, em busca de mais tempo para conseguir fazer ativismo. Sua campanha tem uma medida de sucesso: já conseguiu ser preso duas vezes em frente à Casa Branca, em Washington, protestando contra mineração de carvão e depois contra a construção de um oleoduto.
Hansen apareceu para dar uma palestra na COP21 usando o mesmo chapéu de caçador com que é visto frequentemente em trabalhos de campo e em protestos de rua. Sua missão agora é defender a adoção de uma taxa global de carbono, solução que ele aponta como a única forma viável de obrigar países a reduzirem suas emissões.
Segundo ele, tratados para redução do efeito estufa no formato como o daquele que vem sendo negociado em Paris são fadados ao fracasso.
“Aqui temos a mesma estratégia que foi tentada em Kyoto, em 1997: dizer a todos os países para prometerem reduzir suas emissões”, afirmou a um grupo de jornalistas em Paris. “As emissões se aceleraram depois do Protocolo de Kyoto. Após alguns países terem concordado em estabilizar e até terem reduzido suas emissões, as emissões globais totais cresceram mais rápido, porque os combustíveis fósseis ficaram muito baratos.”
Segundo Hansen, impondo um preço único à emissão da tonelada de carbono mundo afora, as forças de mercado por si só dariam conta de incentivar eficiência e energias renováveis, provocando a redução da produção de CO2 necessária para segurar a temperatura do planeta em níveis seguros.
Segundo o cientista, o principal problema com os combustíveis fósseis é que eles apenas parecem ser mais baratos, porque em seu preço não estão embutidas as consequências de saúde pública causados pela poluição atmosférica e os prejuízos que as mudanças climáticas vão provocar.
Para ele, porém, mercados nacionais de carbono não funcionarão, porque com o preço de carbono podendo flutuar, é difícil cobrar esses custos das emissões. O cientista também é contra impostos nacionais de carbono, que na prática abariam provocando a “exportação” de emissões.
A fórmula que ele defende é um grupo de países relevante – EUA, China e União Europeia – se reunindo para determinar um preço fixo na tonelada de emissão de CO2. Pela força econômica desse bloco, outras nações do mundo seriam simplesmente obrigadas a seguir esse grupo e adotar política semelhante.
A secretária-geral da Convenção do Clima, Christiana Figueres, já afirmou que uma precificação global de carbono não é uma proposta prática para implementar na COP21, porém. Hansen, contudo, se diz otimista de que em algum momento os países relevantes devem considerar a adoção dessa estratégia. (Fonte: G1)