Desastre no Rio Doce faz 5 meses e pescadores esperam respostas

Cinco meses após o rompimento da barragem da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP, em Mariana, Minas Gerais, a pesca segue proibida no Rio Doce, o Ministério Público Federal do estado quer ampliar a área de proibição e os pescadores cobraram, nesta terça-feira (5), uma resposta da mineradora.

A Samarco, no entanto, garantiu, em Vitória, durante a apresentação de um balaço deste período, na tarde desta terça, que não é possível associar os níveis elevados de metais encontrados nos peixes e camarões com o acidente ocorrido em novembro.

A pesca está proibida na região da Foz do Rio Doce desde o dia 19 de fevereiro. No dia 31 de março, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) recomendou que a pesca no Rio Doce continuasse interrompida por prazo indeterminado, em função da presença de elevados níveis de contaminação por metais tóxicos nos peixes e crustáceos da região.

O relatório final e conclusivo do estudo realizado pelo Instituto sairá no final de abril. Apesar de o Instituto ressaltar que ainda não é possível fazer uma associação direta da contaminação com os resíduos de mineração da Samarco, o ICMBio diz que a incidência desse material aumentou após o rompimento das barragens.

A Samarco, por sua vez, diz que há a presença de peixes ao longo do rio Doce e que não identificou alterações nos parâmetros do ambiente marinho. De acordo com a empresa, as substâncias em alta concentração encontradas em organismos foram detectadas em todas as áreas monitoradas, sejam elas próximo à foz do rio ou em pontos mais distantes.

“O que tem de arsênio e selênio [nos peixes] é típico da região, nada relacionado ao rompimento da barragem”, disse o diretor de projetos e ecoeficiência da Samarco, Maury de Souza Júnior. “O rio não está morto, o rio tem peixe”, acrescentou.

Pescadores – Acostumados a tirar do rio o próprio alimento e sustento da família, pescadores da região Norte do Espírito Santo cobram uma resposta conclusiva o mais rápido possível.

“Não adianta pescar porque ninguém compra. Não se sabe a situação que está a contaminação do peixe. Eu sou pescadora há mais de 25 anos e essa é a época em que o pescador ganha dinheiro, que é a época da manjuba. Mas não adianta pescar, porque ninguém compra”, contou uma pescadora.

“Dá até tristeza de olhar [para o rio]. Saber que através dele você matava a fome de muitas pessoas e hoje se você pegar o pescado de dentro do rio aí realmente você vai estar matando outras pessoas, com o grau de contaminação”, desabafou outra pescadora.

De acordo com a Samarco, 4.184 pescadores e ribeirinhos do Espírito Santo e de Minas Gerais estão recebendo o auxílio financeiro previsto em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre a empresa e o Ministério Público.

Já a colônia de pescadores de Linhares afirma que dos 800 pescadores associados, pelo menos 150 ainda nem foram cadastrados para receber a quantia mensal.

“A colônia disse que ia resolver os problemas, mas a gente fica aí, sem poder pescar, sem uma solução. Eles mataram o rio e dizem que ele está liberado para pescar. Mas a gente vai pegar esse peixe e vai fazer o que com ele?”, questionou um pescador.

Qualidade da água – A Samarco garante que tem monitorado a água em 118 pontos, sendo 84 na bacia do Rio Doce e 34 no oceano. Segundo a empresa, a fase crítica passou e a concentração de metais na água já voltou aos patamares registrados antes do rompimento da barragem.

Ainda de acordo com a mineradora, a qualidade da água do Rio Doce apresenta concentrações de metais dentro dos limites estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) na maioria dos pontos monitorados.

Quanto ao ambiente marinho, a mineradora diz que não há ocorrência significativa de metais acima do limite estabelecido pelo Conama e que os resultados indicam que a qualidade da água encontra-se similar aos padrões observados em 2010.

Água potável – Os estudos realizados pela Samarco também garantem que, após tratada, a água cumpre as exigências do Ministério da Saúde.

Em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, onde a única fonte de abastecimento é o Rido Doce, moradores tem medo de beber a água que vem de lá.

“Eu não penso mais em consumi-la, porque a situação que ela está não tem nem lógica”, disse a ambulante Márcia de Andrade.

“A gente olha e não acredita que está pronta para ser tomada. Em casa a gente compra água mineral para cozinhar e beber”, acrescentou a estudante Marina Monteiro.

Rompimento – O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale a anglo-australiana BHP, causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, na tarde do dia 5 de novembro.
Inicialmente, a mineradora havia afirmado que duas barragens haviam se rompido, de Fundão e Santarém. No dia 16 de novembro, a Samarco confirmou que apenas a barragem de Fundão se rompeu.

Mortos e feridos – Até o dia 9 de março, havia um corpo desaparecido após o rompimento da barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana. Dezoito corpos foram reconhecidos.

Repasse do Governo Federal – O Ministério da Saúde liberou, por meio de portaria publicada nesta segunda-feira (4), no Diário Oficial da União, o repasse de mais R$ 2,025 milhões aos estados e municípios afetados em Minas Gerais e no Espírito Santo pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, da mineradora Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP. O repasse se soma os mais de R$ 4,4 milhões já liberados pela pasta em 3 de dezembro de 2015. (Fonte: G1)