A Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Cururupu, no Maranhão, que foi visitada na sexta-feira (4) pelo ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, é a maior área de manguezais preservados em unidades de conservação do Brasil, servindo de berçário para uma grande variedade de peixes e crustáceos, além de abrigar e alimentar mais de 325 mil aves migratórias.
Na ilha de Guajerutiua, uma das 15 que compõem a reserva, o ministro elogiou o esforço da comunidade durante a campanha “Pesca para Sempre”. “Este foi um exemplo bem-sucedido de trabalho em defesa da pescada-amarela e os belos legados deste projeto, como a Casinha do Pescador e o Cine Escola que foram entregues à comunidade”, disse.
O ministro recebeu várias reivindicações dos pescadores, destacando a instalação de energia limpa – eólica e solar – e também de um plano de manejo para a pescada-amarela. “Acredito que os estudos e as ações realizados aqui, indicando a necessidade de proteção nos períodos de reprodução, vão ajudar a garantir os estoques pesqueiros, para que as famílias continuem a se beneficiar da comercialização desse peixe”, afirmou Sarney Filho.
Nessa região, vivem cerca de quatro mil pessoas, a maioria pescadores vindos de outros estados do Nordeste, que começaram a ocupar as ilhas da costa do Maranhão fugindo das grandes secas no início do século passado. “Hoje temos aqui a sexta geração de pescadores que, apesar das dificuldades, luta para melhorar as condições de vida”, afirma o morador Vagner Loureiro.
Seu Vaguinho, como é conhecido (foto ao lado), tem sempre as portas de sua casa aberta para os pesquisadores, visitantes e amigos, e vê com esperança os planos para a Resex, mas não esconde a sua angústia. “Minha preocupação maior é com os mais jovens, que saem para longe para estudar, depois da nona série, e muitos viram presas fáceis dos traficantes”, desabafou.
Ele revela que às vezes chegam em Guajerutiua pessoas suspeitas de envolvimento com o tráfico, mas a comunidade logo os identifica. “Vivemos numa área distante, que desperta o interesse do tráfico e da pesca predatória”, explicou Vaguinho, ao pedir mais apoio do ministério e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“Precisamos oferecer estudo até o segundo grau (ensino médio) aos jovens, desenvolver programas de capacitação, e dar condições de trabalho aqui mesmo nas ilhas”, pediu Vaguinho. Assim ele acredita que adolescentes e jovens adultos não precisarão deixar suas famílias tão cedo.
O mesmo pedido foi feito ao ministro do Meio Ambiente pela estudante Adriele Setubal, que falou em nome dos jovens das ilhas da Resex de Cururupu. “Nosso desejo é permanecer aqui e seguir os nossos estudos, com boas escolas e oportunidades”, disse Adriele (foto ao lado).
Responsável pela campanha Pesca para Sempre, desenvolvida desde 2015 pela ONG Rare do Brasil, o diretor da entidade, Luís Lima, defende projetos que valorizem a cultura dos pescadores e ao mesmo tempo reforcem a proteção do meio ambiente. “O Pesca para Sempre tem esse olhar. A pesca costeira no Brasil está passando por um momento decisivo. Se continuar no ritmo atual, resultará numa gravíssima degradação dos ecossistemas dos pescadores, com o declínio de seus meios de subsistência”, alerta Luís Lima.
“Na Resex Marinha do Delta do Parnaíba, a campanha que também conta com o apoio da Rare protege o robalo; e em Cururupu, o nosso foco é a pescada-amarela, peixe nobre mais consumido pelos maranhenses”, explicou Luís Lima.
Josenilde Ferreira, que coordena o projeto em Cururupu, elogia os resultados da Campanha, afirmando que trouxe mais conscientização sobre a necessidade de se proteger a pescada-amarela. Além da sobrepesca (pesca excessiva) para consumo, a espécie também passou a ser alvo do comércio internacional de barbatanas natatórias, que tem grande demanda do comércio de cosméticos e produtos para cirurgia (cola). A China é hoje o maior comprador do produto.
O Plano de manejo estabelece as normas de ocupação do território e de utilização dos recursos naturais, estipulando zonas sob diferentes graus de proteção. Inclui também medidas para promover o desenvolvimento econômico e social das comunidades residentes, no caso de UCs de uso sustentável com moradores em seu interior e entorno.
O trabalho de implantação do Plano de Manejo é coordenado nacionalmente pelo ICMBio, com o apoio das comunidades e entidades da sociedade civil. Em Cururupu abrange uma área de 186 mil hectares de zona costeira e marinha.
O diretor de Criação e Plano de Manejo do ICMBIO, Paulo Carneiro, explicou que a Resex já dispõe de plano de gestão e de conselho consultivo. “Com o plano de manejo, ela atinge um alto nível de implementação, tornando-se mais preparada para oferecer vida digna para os seus moradores e beneficiários, por meio do uso sustentável de seus recursos naturais”, disse Carneiro.
Agora será necessário realizar melhorias nas condições de infraestrutura da Reserva. “Esse é um trabalho contínuo e uma prioridade do Ministério do Meio Ambiente. Técnicos do ministério e do ICMBio, altamente capacitados, irão avaliar as demandas de implantação de energia alternativa nas ilhas da Resex e de definição dos períodos de defeso da pescada-amarela”, afirmou o ministro Sarney Filho. (Fonte: MMA)