Cada vez mais, os países terão que desenvolver novas formas de garantir um abastecimento seguro de água. E para o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018, a saída não está só na construção de represas, estações de tratamento de água e esgoto e canais de irrigação de lavouras, mas também na preocupação de restauro e manutenção da natureza.
O documento, produzido pela Unesco (órgão da ONU para a educação e cultura), será divulgado nesta segunda-feira (19), na 8ª edição do Fórum Mundial da Água, que acontece em Brasília até o próximo dia 23.
Segundo o relatório, a ideia é estimular políticas públicas que encarem o cuidado à natureza não como uma barreira, mas como parte estimuladora da segurança hídrica. “Mais do que nunca, devemos trabalhar com a natureza e não contra ela”, resume na abertura do documento, a Diretora-geral da Unesco.
O relatório traz experiências adotadas em diversos países que, segundo a ONU podem preparar melhor o campo e as cidades para eventos extremos causados pelas mudanças climáticas, diminuir a pressão sobre o uso da terra e gerar uma oferta sustentável de água para o futuro.
No caso do campo, por exemplo, estima-se que a adoção de técnicas verdes possam aumentar em 20% a produção agrícola. Um estudo analisou 57 países de baixa renda e constatou o aumento de 79% no rendimento das colheitas após a adoção do uso mais eficiente da água, a redução de pesticidas e melhoria no manejo do solo.
EXEMPLOS
O Brasil é lembrado no relatório da ONU ao lado do Paraguai, devido o trabalho “Cultivando Água Boa”, da Itaipu Binacional.
O projeto consiste em recuperar fazendas e áreas no entorno do rio Paraná para diminuir o assoreamento da represa da usina de Itaipu. Entre as técnicas estão a recuperação de nascentes, readequação de estradas, aplicação de cultivos diversificados e revitalização de matas. Com as ações, Itaipu conseguiu aumentar a vida útil de sua operação na geração de energia.
Outro exemplo de gestão da água com foco na natureza é de Nova York. Desde 1997, a municipalidade investiu pesado na conservação da natureza no entorno de suas represas. A estimativa é de que hoje essa proteção já tenha gerado um aumento da qualidade de água captada capaz de reduzir os gastos em estações de tratamento e manutenção de estruturas em U$ 330 milhões (R$ 1,08 bilhão, ou o equivalente a 28% de todo o investimento feito pela Sabesp em 2016).
A experiência de Nova York é um exemplo de como tecnologias verdes podem render resultados também para as cidades.
Com esse mesmo foco, a China iniciou um projeto arrojado chamado Cidade Esponja. A ideia é aumentar a infiltração de água no solo, construir estruturas capazes de captar água da chuva e purificar 70% desse volume. A política será implantada em 16 cidades por meio de projetos-piloto até 2020. A previsão de investimento é de U$ 1,25 bilhão (R$ 4,1 bilhões).
A expectativa é de que inundações e alagamentos não sejam mais problemas tão graves nesses locais. Além disso, a água de chuva captada e tratada pode ser utilizada dentro da própria cidade para irrigação ou limpeza. E espera-se ainda uma melhora do cenário das cidades.
Entre as técnicas utilizadas estão a adoção de jardins nos terraços de prédios, pavimentação permeável, revitalização de lagos e várzeas.
Fonte: Folha Press / FABRÍCIO LOBEL