Em seu tempo livre, a estudante Sydney Langton, de 16 anos, tem uma paixão singular: empalhar pássaros, raposas ou qualquer animal que tenha morrido perto dela. No texto abaixo, ela explica porque adora ser uma taxidermista.
“Se você olhar o freezer de qualquer amigo meu, provavelmente vai encontrar batatas fritas, peixes ou sorvetes.
Esse não é meu caso. Meu freezer pessoal, guardado em um galpão na casa da minha família, está cheio de animais mortos em atropelamentos.
Nele há texugos e raposas, uma gaivota e um pato, além de alguns faisões e perdizes.
Eles não servem para comer, é claro. São usados para meu hobby bastante incomum: empalhar animais (taxidermia).
Sei que é um mundo de nicho. Enquanto meus amigos estavam interessados em esportes ou leitura, eu estava pensando em animais mortos.
Se eu visse um ouriço morto ou um pássaro, eu iria lá cutucá-los com um bastão ou os levaria para casa para examinar, maravilhada com as anatomias deles.
Meu interesse ficou mais aguçado quando, aos oito anos, visitei a casa de um amigo e vi a cabeça de uma raposa em uma parede.
Meus pais me ajudaram e comprei uma igual para mim, mas percebi rapidamente que aquilo não era suficiente.
Então comecei a pedir conselhos de alguns taxidermistas profissionais, e, no meu 13º aniversário, meus pais me deram de presente um curso no qual aprendi a empalhar um pássaro.
Foi um procedimento bastante complicado: aprendi como remover a carne dos ossos, separar as penas e encher tudo de lã desfiada. Tive que fazer infusões e costuras bastante precisas.
Depois desse curso, acho que aumentei bastante o meu repertório.
Desde então tenho feito raposas, texugos, doninhas e até uma coruja que tinha sido criada em cativeiro e morreu com 10 anos de idade.
Sou membro do Grêmio de Taxidermistas e assisto a conferências. E, apesar de esse não ser um ambiente com muitas mulheres ou adolescentes, os especialistas que conheci sempre me ajudaram e me encorajaram.
Meu trabalho também melhorou quando meus professores da escola disseram que eu poderia usar os animais como uma tarefa na área de artes.
Claro, sei que algumas pessoas acham a taxidermia uma coisa controversa.
Mas não tolero matar animais para taxidermia, e eu só aceito trabalhar com bichos que morreram de causas naturais ou que foram atropelados por carros.
Quando trabalho com espécies protegidas, como esquilos-vermelhos, preciso ter um documento oficial provando que não matei os animais para taxidermia.
Pessoalmente, acho o processo muito bonito. Vejo a criatura que estava ali naquele corpo. Também sinto que é um jeito de preservar os animais para estudos e também uma forma de mantê-los para os próximos anos.
Só não gosto de empalhar animais de estimação, porque não sinto que seja possível capturar a personalidade do animal.
Meu hobby me levou a ser conhecida na região como “a garota da taxidermia”.
Meus vizinhos batem na nossa porta com raposas e pega [tipo de pássaro], ou me dizem onde tem um animal morto. Meu pai e eu vamos até lá e os recolhemos quando temos certeza de que é seguro.
Gasto muito do meu tempo nesse trabalho. Um simples corvo pode levar 10 horas para empalhar, e pode ser difícil e frustrante. Às vezes termina em lágrimas.
Não se trata simplesmente encher um animal. O principal objetivo, de fato, é fazer com que as criaturas fiquem o mais realista possível em sua postura – isso necessita de muita habilidade, e eu ainda estou aprendendo.
Meu interesse cresceu tanto que pretendo ser uma taxidermista quando deixar a escola. Já tenho até vendido algumas peças.
Um pássaro ou animal pode custar de 80 libras (cerca de R$ 380), um texugo sai por 400 libras (R$ 1.900) e minha coruja vendo por 800 libras (R$ 3.800).
Pessoalmente adoro pássaros e uma das minha ambições é empalhar um pavão.
Acho que a taxidermia é um passatempo, mas, para mim, também é uma arte de pura beleza.
Fonte: BBC