A conferência que começou nesta terça-feira (09/04) no Ministério do Exterior, em Berlim, parece uma tentativa de recuperar o tempo perdido. O tema é a proteção climática e a política energética internacional. Em seu discurso, o anfitrião, ministro Heiko Maas, fez logo referência aos protestos que, todas as sextas-feiras, levam milhares de estudantes às ruas, em todo o mundo, em prol do combate às mudanças climáticas.
“Há semanas que, uma sexta-feira após a outra, jovens de inúmeros lugares em todo o mundo nos fazem parecer velhos. Eles exigem de nós que façamos mais pela proteção climática. Eles exigem de nós que não apenas reconheçamos a realidade, mas que também a mudemos. Que nós próprios nos mudemos. Em jogo está a nossa existência.”
Em seguida, o ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, acrescenta mais algumas palavras. “Isso só vai funcionar se deixarmos aos nossos filhos e netos um planeta que proteja o clima, que funcione com energias renováveis, e que preserve os seus recursos naturais.”
Por muitos anos, os políticos alemães puderam apresentar com orgulho resultados na política ambiental e na proteção climática. A palavra mágica era Energiewende (virada energética) e ela significava a expansão das usinas solares e eólicas e o abandono da energia nuclear. Tudo isso estava encaminhado. Na conferência do clima de 2015, em Paris, a Alemanha colaborou para fechar um acordo que deveria impedir que a temperatura média do planeta subisse mais do que 2 graus.
Mas esses tempos se foram. Hoje a Alemanha não consegue cumprir a sua própria meta, de reduzir em 40% as emissões de gases prejudiciais ao clima entre 1990 e 2020. O resultado alcançado, até aqui, é de 31%, e grande parte se baseia em sucessos dos primeiros anos. A questão de como isso pode melhorar resultou numa briga dentro da coalizão de governo na Alemanha.
E, para debater a questão, foi criada um novo fórum: o gabinete do clima, que deverá esclarecer como a Alemanha vai conseguir cumprir a sua meta na proteção climática. A presidente oficial é a chanceler federal, Angela Merkel, da União Democrata Cristã (CDU), mas as reuniões de cúpula, que começam nesta quarta-feira, serão presididas pela ministra do Meio Ambiente, Svenja Schulze, do Partido Social-Democrata (SPD).
Os demais integrantes do governo são o ministro da Finanças, Olaf Scholz, também do SPD, o ministro Altmaier e a da Agricultura, Julia Klöckner, ambos da CDU, e os ministros da Construção, Horst Seehofer, e dos Transportes, Andreas Scheuer, da União Social Cristã (CSU, aliada da CDU).
O chefe de gabinete de Merkel, Helge Braun, disse esperar sobretudo que o governo debata, no novo órgão, como pretende reduzir as emissões de gases prejudiciais ao clima em 55% até 2030. Na verdade, já há um plano para isso, apresentado em março pela ministra do Meio Ambiente. Ele prevê reduções nas emissões em cada setor da economia, incluindo a construção civil, a agricultura e os transportes.
Se o plano não der certo e a Alemanha não alcançar suas metas, terá de comprar créditos no comércio de emissões por milhões de euros. Pelo plano de Schulze, cada ministério terá de pagar pela sua parte, se isso acontecer, e os ministérios mais ameaçados são aqueles comandados por políticos da CDU e da CSU.
E, assim, a briga em torno da proteção climática virou briga dos parceiros de coalizão: SPD, de um lado, e CDU e CSU, do outro. A nova presidente da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, manifestou-se contrária à ideia de que cada setor seja responsável pela redução de emissões. “Estou convicta de que isso deve ser uma questão suprassetorial”, afirmou, sugerindo que eventuais multas sejam pagas com dinheiro do orçamento conjunto. Kramp-Karrenbauer, que não integra o governo, também é integrante do gabinete do clima.
O Partido Verde, que é oposição, acompanha tudo atentamente e declarou que não é contra a criação do gabinete do clima. O líder da bancada no Parlamento, Anton Hofreiter, disse que é necessário esperar pelos resultados e lembrou que as metas de 2020 dificilmente serão cumpridas.
Segundo ele, o mesmo acontecerá com as metas de 2030 se as coisas continuarem como estão em alguns ministérios. “Sobretudo nos Transportes, no qual temos um ministro que passa ao largo de suas tarefas de forma desastrosa”, afirmou, em referência a Scheuer e ao setor rodoviário e de transporte de cargas, que há anos não consegue reduzir as próprias emissões de gases do efeito estufa.
Fonte: Deutsche Welle