Ao contrário do que muitos pensam, a Alemanha nunca foi um país na vanguarda climática. E Angela Merkel também nunca foi uma “chanceler do clima”. É simples acaso que o ano de 1990 sirva de base de cálculo para as metas de redução de CO2 e a Alemanha ter, naquele ano, a suprema sorte de ainda ter funcionando, no leste do país, todas aquelas fábricas poluidoras da Alemanha Oriental.
Elas tiveram que fechar rapidamente após a Reunificação, o que naturalmente contribuiu muito para enfeitar as estatísticas de emissão de CO2. Nos últimos dez anos, as emissões de gases de efeito estufa quase não diminuíram.
Se o acidente nuclear de Fukushima jamais tivesse ocorrido, as usinas nucleares alemãs teriam continuado a gerar eletricidade sem interrupção por ainda muitos anos. Mas a tragédia no Japão levou a autoproclamada “chanceler do clima” a uma “dupla guinada”.
Em 2010, um ano depois de assumir o cargo pela segunda vez e um ano antes da tragédia de Fukushima, Merkel voltara atrás no cronograma para o fim da produção de energia nuclear determinado pelo governo dos social-democratas e verdes em 2000. Na época, ela afirmou que a energia nuclear era uma “tecnologia de transição”. Aí veio Fukushima, e Merkel recuou da recuada, anunciando de novo o fim da energia nuclear.
Desde então, a Alemanha luta contra as consequências dessa Energiewende (virada energética) proclamada pelo governo federal. Ela levou, é verdade, a um aumento significativo na parcela de eletricidade que é gerada por fontes renováveis. Mas a que preço? Bilhões e bilhões de euros.
Mais exatamente: 160 bilhões de euros só nos últimos cinco anos! O resultado é a energia mais cara da Europa (o que afeta tanto os consumidores privados quanto o setor industrial). E nem assim as emissões desse maldito CO2 diminuem. Por isso chegou a hora de uma nova virada, desta vez no setor de transportes.
E aí cabe a pergunta: será que não teria sido muito mais eficaz se os 160 bilhões de euros (ou pelo menos uma boa parte deles) tivessem sido investidos logo no setor de transportes? Não teria sido uma medida muito mais direta para reduzir as emissões de CO2?
Afinal, a turma verde da república não culpa hoje de forma quase fanática o setor de transportes por todos os males do clima? (Só uma curta observação: o setor dos transportes é responsável por apenas 18% das emissões totais de CO2). O que os membros do Partido Verde atualmente têm proposto é capaz de deixar qualquer um aterrorizado: proibição dos voos de curta distância, proibição de motores de combustão a partir de 2030. Isso é comunismo ambiental!
Que tal, em vez disso, uma abordagem baseada na economia de mercado? Por exemplo, um preço de mercado para o CO2?
E agora temos na Alemanha também um “gabinete do clima”alem! Nele estão os ministros que precisam de “recuperação” porque foram incapazes de agir de forma coordenada para alcançar as metas de proteção climática. A coisa vai ficar realmente engraçada se, como planejado, os ministérios tiverem que pagar multas porque não conseguiram alcançar as suas metas de proteção climática. Gabinete do clima? Parece mais um gabinete dos horrores. Só falta convidar as novas estrelas do clima, como a sueca Greta Thunberg ou sua equivalente alemã, Luisa Neubauer. Aí seria o auge da hipocrisia.
Mas não me entendam mal: acho ótimo que os jovens saiam às ruas e expressem suas preocupações. Os adolescentes, afinal, ouvem todos os dias, na escola e no noticiário, que o apocalipse é iminente. “Estamos destruindo o planeta!” (quem argumenta assim não tolera ser questionado) é um dos principais slogans dos populistas do clima, que se sobrepõem à gigantesca rede de pesquisadores do clima mundiais por sua presença constante na mídia.
Se os pesquisadores do clima acreditam que conquistaram aliados com o movimento Fridays for Future, estão muito enganados. Os jovens são apenas vítimas dessa grande bolha climática, que se autoalimenta. Há algo muito mais fundamental por trás dessa bolha climática: uma crítica flagrante ao sistema econômico capitalista vigente (apontado como culpado pela “destruição do planeta”).
Não, eu realmente não vejo nada de bom nesse pânico por causa do clima. Não se trata de negar que haja uma mudança climática. O que me interessa é que cada um forme a sua própria opinião e veja o que pode fazer para mudar a situação. Eu concordo com o grande e infelizmente já morto cientista sueco Hans Rosling. Ele apresentou, com Factfulness, o livro mais otimista da última década. “Quando me dizem que algo tem que acontecer já, começo a hesitar. Na maioria das vezes, se esconde ali a tentativa de evitar que eu pense.” Nada a acrescentar.
O jornalista Henrik Böhme escreve para a Editoria de Economia da DW.