Equipes de resgate estão enfrentando dificuldades para chegar a aldeias em áreas remotas de Moçambique, atingido em pouco mais de um mês pelo segundo ciclone com destruição generalizada.
Há temores de que milhares de pessoas possam ficar ilhadas nas áreas atingidas, em um momento em que chuvas e ventos fortes aumentam o risco de inundações e deslizamentos de terra.
“A coisa mais difícil é o transporte”, diz o capitão Kleber Castro, da equipe de resgate brasileira especializada em operações de busca, salvamento e gestão do desastre, que foi enviada ao país no final de março.
A equipe é composta por 20 militares do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e relata, por exemplo, que faltam helicópteros para realizar o serviço. “Estamos precisando de muito apoio”, frisa Castro.
O ciclone Kenneth atingiu Moçambique na quinta-feira, com ventos de 220 km/h, e especialistas ainda veem riscos na esteira da tempestade.
Ele chegou à região quase um mês depois do Ciclone Idai – classificado pela ONU como um dos piores desastres climáticos já registrados no hemisfério sul – ter matado mais de 900 pessoas em três cidades.
Destruição
Com o Keneth, milhares de casas foram destruídas, linhas de energia foram danificadas e áreas de baixa altitude foram inundadas.
A jornalista da BBC News, Pumza Fihlani, diz que o dano às linhas de energia em partes do norte de Moçambique está dificultando também a comunicação.
Quase 20 mil pessoas se abrigaram em centros improvisados para os desalojados, incluindo escolas e igrejas, acrescentou a correspondente.
Um porta-voz da ONU confirmou a morte de cinco pessoas, a partir de informações do governo.
Uma pessoa teria morrido atingida com a queda de uma árvore. A tempestade também matou três pessoas na ilha de Comores.
Isso é incomum para a região?
Especialistas em clima da ONU dizem que é inédito ter dois ciclones de tal intensidade atingindo Moçambique na mesma época.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) também disse que nenhum registro anterior mostra um ciclone atingindo a região tão ao norte quanto o Kenneth.
Segundo a entidade, uma missão de investigação analisaria o “impacto das mudanças climáticas e do aumento do nível do mar sobre a resistência de Moçambique” às condições meteorológicas extremas.
O secretário-geral da Anistia Internacional, Kumi Naidoo, disse que as duas tempestades são “exatamente o que os cientistas do clima advertiram que aconteceria se continuássemos a aquecer nosso planeta além de seus limites”.
“O povo de Moçambique”, disse ele, “está pagando o preço de uma mudança climática perigosa sem ter feito quase nada para causar essa crise.”
Qual foi o impacto de Kenneth?
O Kenneth chegou à província do norte de Cabo Delgado na noite de quinta-feira, com velocidades de vento equivalentes a um furacão de categoria quatro, o segundo tipo mais forte.
Os ventos diminuíram na sexta-feira, mas a agência meteorológica da França disse que até 800 mm de chuva deverão cair sobre Moçambique nos próximos dias – quase o dobro do volume acumulado em 10 dias que inundou a cidade portuária de Beira durante o ciclone Idai.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU informou que está trabalhando em um “plano de preparação para emergências” com o governo de Moçambique e outros grupos humanitários.
O Instituto Nacional de Gestão de Desastres de Moçambique (INGC, na sigla em inglês) disse que 30 mil pessoas foram evacuadas das áreas afetadas.
Como é a área afetada?
A província de Cabo Delgado não é tão densamente povoada como a área atingida pelo ciclone Idai, e aparentemente é composta por mais áreas elevadas.
Mas há relatos de que milhares de casas foram destruídas pelos ventos e de que área foi atingida por uma onda de violência supostamente promovida por militantes islâmicos nos últimos meses, o que pode complicar as operações humanitárias.
Milhares de pessoas já haviam fugido de suas casas para buscar abrigo contra a violência nos campos montados para os desalojados.
E os outros países da região?
Comores ainda está se recuperando dos danos causados pelo ciclone, e em algumas áreas do sul da vizinha Tanzânia, autoridades ordenaram o fechamento de escolas e empresas.
A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho compartilhou imagens dos danos nas redes sociais. Em um tuíte, o grupo confirmou que tinha voluntários em campo ajudando comunidades.
Apesar de o Zimbábue estar localizado mais para o interior, autoridades disseram que também estavam colocando suas agências de gestão de desastres em alerta.
“Tirando as devidas lições do Cyclone Idai, não podemos mais arriscar”, disse o diretor do Departamento de Proteção Civil Nathan Nkomo.
Fonte: BBC