Os efeitos das queimadas na região amazônica e no centro-oeste não são vistos apenas no céu de parte do Brasil; mapas produzidos por institutos internacionais também mostram essa realidade.
As queimadas se intensificaram no país entre julho e setembro e, nesta semana, sua fumaça ajudou a escurecer o céu de São Paulo, a milhares de quilômetros de distância, em plena tarde.
De acordo com o cientista Mark Parrington, do Serviço de Monitoramento Atmosférico da Copernicus, o programa de observação da Terra da União Europeia, é preciso esperar o fim da temporada mais forte de queimadas para avaliar a dimensão exata do fenômeno.
Ele diz que certamente é possível dizer que houve um período – de pouco mais de uma semana – com atividade acima do normal, entre 10 e 18 ou 19 de agosto. Mas, segundo ele, só em setembro poderemos ter noção “do quão grande é essa temporada de queimadas”.
“Dia após dia, está claro que houve um aumento, e há mais fogo do que houve nos últimos oito ou nove anos. Mas ainda é menor do que víamos no começo dos anos 2000 no Brasil”, afirma.
De qualquer forma, destaca Carly Reddington, uma pesquisadora do Instituto de Ciência Climática e Atmosférica da Universidade de Leeds, no Reino Unido, “o aumento do desmatamento tem impactos negativos no meio-ambiente, no clima e na saúde dos seres humanos”. Ela estudou a queima de biomassa na Amazônia em 2012.
“As pessoas estão respirando esse ar. E não só pessoas próximas às queimadas – a fumaça pode ser carregada durante dias pelo vento e pode impactar outras populações.”
Veja abaixo alguns mapas que mostram a extensão dos incêndios.
Fumaça
O serviço de Monitoramento Atmosférico da Copernicus mostra dados da situação atual e também faz previsões atmosféricas com o objetivo de medir a qualidade do ar e da composição da atmosfera.
Os mapas abaixo mostram a previsão da concentração de aerossóis na atmosfera liberados pela queima da biomassa. Aerossóis são partículas líquidas ou sólidas suspensas na atmosfera, como pó, cinza vulcânica e fumaça, que geram impacto na qualidade do ar e no clima. O site da Copernicus traz uma animação da previsão.
Em outras palavras – e no caso desse mapa -, vemos a fumaça gerada pelas queimadas.
Em 17 de agosto, sobre a região amazônica, no Estado de Rondônia, por exemplo.
17 de agosto
Depois, em 19 de agosto, a projeção mostra a fumaça saindo da região amazônica em direção à costa, passando por São Paulo. O céu da capital paulista e outras cidades do Estado escureceu nesse dia por causa da fumaça proveniente de queimadas combinada à chegada de uma frente fria que fechou o tempo para os paulistas.
19 de agosto
Parrington, da Copernicus, faz um alerta: “Gases muito tóxicos são liberados com incêndios na vegetação. Isso é ruim para a respiração, e pode causar doenças. Isso é muito sério para quem está no local”. Médicos também apontam o perigo.
No mundo
Os mapas da Copernicus também mostra a fumaça no mundo. O Brasil é um dos destaques, ao lado de outras regiões tropicais – em época de inverno, período mais seco – e da Sibéria, na Rússia.
Há concentração de aerossóis na África Central – em Angola e na República Democrática do Congo – e na Indonésia.
As queimadas aceleram emissões de carbono e causam grandes problemas de saúde para as comunidades locais.
No mapa, a Sibéria é uma exceção. “Nessa época do ano, verão no hemisfério norte, esperamos ver alguns pontos quentes aqui e ali nessa região, mas tão espalhado e intenso todos os dias é muito surpreendente em qualquer lugar do mundo”, diz Parrington.
Normalmente, segundo ele, um incêndio pode ter alta intensidade por talvez uma semana ou dez dias. Há queimadas intensas na Sibéria, no entanto, há dois meses.
Como no Brasil, moradores de outras regiões da Rússia também respiraram o ar tóxico do fogo que queimou e continua queimando milhares de metros quadrados de florestas siberianas.
Nuvens negras cobriram cidades como Novosibirsk e Krasnoyarsk, cada uma com cerca de um milhão de pessoas.
21 de agosto
Monóxido de carbono
“O monóxido de carbono é resultado de uma combustão incompleta. É o produto restante da queimada”, explica Parrington, da Copernicus. “Tem uma vida de cerca de um mês. Carregado pelos ventos, pode viajar milhares de quilômetros.”
Ou seja, os mapas que mostram os índices de monóxido de carbono também indicam a presença de queimadas e a qualidade do ar.
17 de agosto
21 de agosto
Partículas
A Copernicus também produziu um mapa com a projeção da presença de material particulado da categoria PM10 no ar. Segundo Parrington, são “partículas ultrafinas que contribuem para problemas com a qualidade do ar e problemas respiratórios”.
São, por exemplo sal do mar ou partículas de fumaça. Nesse caso, diz ele, podemos assumir que se trata de partículas de fumaça.
Ele diz que as áreas em verde ou azul mostram uma qualidade ruim do ar.
21 de agosto
Fumaça, outra vez
Essa outra imagem mostra a fumaça sobre o Brasil vista do satélite NOAA-20, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional do Departamento de Comércio dos Estados Unidos (NOAA).
“Nessa imagem, tirada pelo NOAA-20, a fumaça desses incêndios pode ser vista claramente. Essa fumaça absorve luz solar, impedindo que chegue ao solo, esfriando a superfíce e esquentando a atmosfera. Esse processo pode suprimir a formação das nuvens”, diz um texto no site da instituição governamental.
A fumaça pode ser vista mais claramente na imagem do dia 13 de agosto. No dia 21, parece haver menos.
13 de agosto
21 de agosto
Incêndio pelos satélites da Nasa
A partir de seus satélites, a Nasa mostra “anomalias térmicas” e incêndios no mundo. As anomalias térmicas podem indicar um incêndio ou “qualquer fonte de calor significativa”, segundo a agência espacial americana.
Os dados utilizam um algoritmo, de acordo com a Nasa, que analisa fortes emissões de radiação infravermelha de anomalias térmicas e incêndios. Na imagem, essas emissões são os pontos vermelhos – que representam o centro de um pixel onde um ou mais incêndios ocorreram.
“Esses incêndios não podem se esconder”, diz um texto no site da Nasa. “Até nos cantos mais remotos do globo, seus sinais de calor podem ser detectados por sensores de satélites que observam a Terra.”
A geolocalização de um ponto detectado pode ter pequenas diferenças, “geralmente menos de 100 metros”, entre o local indicado no mapa e sua real localização na Terra.
Segundo a Nasa, entre 15 e 22 de julho, a plataforma de monitoramento de incêndios Global Forest Watch Fires, que utiliza dados da agência, enviou 178.484 alertas de incêndio para seus assinantes na Rússia, 136.087 alertas para os assinantes da República Democrático do Congo e 109.512 alertas para os assinantes de Angola.
Selecionamos, no sistema da Nasa, a área perto de Porto Velho, em Rondônia. Diversos pontos vermelhos podem ser vistos nos mapas do começo do mês e de mais recentemente.
5 de agosto
14 de agosto
Fonte: BBC