Aumento da temperatura na superfície do Oceano Atlântico faz com que umidade se desloque. Além de aumentar a seca na floresta, mudança pode levar à formação de furacões nos EUA.
O aumento da temperatura na superfície do Oceano Atlântico poderá levar ao maior registro de incêndios na Amazônia, e à formação de furacões nos Estados Unidos. O alerta é de cientistas da Agência Espacial Americana (Nasa) da Universidade da Califórnia.
“2020 está programado para ser um ano perigoso para incêndios na Amazônia”, afirmou Doug Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas do Centro de Vôo Espacial Goddard da Nasa em Greenbelt, Maryland.
“A previsão para a temporada de queimadas é consistente com o que vimos em 2005 e 2010, quando as temperaturas quentes da superfície do Oceano Atlântico provocaram uma série de furacões graves e secas recordes no Sul da Amazônia, que culminaram em incêndios florestais”, relata.
As águas mais quentes na superfície do Oceano Atlântico na altura do Equador atraem umidade para o norte, retirando-a da Amazônia. O deslocamento desta massa úmida leva à formação de furacões nos EUA e a uma temporada mais seca na floresta, aumentando os riscos de incêndios se propagarem.
“Nossa previsão sazonal de incêndio fornece uma indicação precoce do risco de queimadas para orientar os preparativos em toda a região”, disse Morton, observando que a análise é mais precisa três meses antes do pico de queima na Amazônia brasileira, em setembro. “Agora, as estimativas por satélite de incêndios ativos e chuvas serão o melhor guia para o desenrolar da temporada de incêndios de 2020”.
A temporada de incêndios na Amazônia deve ser observada com cautela, disse Morton. Os estados brasileiros com o maior risco de incêndio projetado nesta temporada – Pará, Mato Grosso e Rondônia – estavam entre as regiões com maior atividade de desmatamento no ano passado, que registrou o maior número de detecções ativas de incêndio na bacia amazônica desde 2010.
Além disso, a pandemia global do Covid-19 pode aumentar ainda mais as dificuldades logísticas em responder a emergências de incêndio em regiões remotas da Amazônia, disse Morton, já que viagens restritas, ambientes de teletrabalho e prioridades mais altas para orçamento e pessoal significam que o combate a incêndios pode ser mais desafios.
“Você tem uma tempestade perfeita: seca, o recente aumento do desmatamento e novas dificuldades para o combate a incêndios”, disse Morton.
As perspectivas de longo prazo para a temporada de incêndios na Amazônia dependem de fatores climáticos e humanos, disse Yang Chen, cientista da Terra da Universidade da Califórnia, Irvine, e co-criador da previsão de temporada de incêndios na Amazônia.
“As mudanças no uso de fogo provocado pela ação humana, especificamente o desmatamento [que gera material combustível para as queimadas], adicionam mais variabilidade ano a ano nos incêndios na Amazônia”, disse Chen. “Além disso, é provável que a mudança climática torne toda a região mais seca e mais inflamável – condições que permitiriam que incêndios por desmatamento ou uso agrícola se espalhassem nas florestas amazônicas existentes”.
Furacões nos EUA
Enquanto isso, a temporada de furacões no Atlântico dos EUA já mostrou sinais de aumento de atividade, com cinco tempestades nomeadas já nos livros, no início da temporada, disse Morton.
No entanto, um conjunto complexo de condições influencia a formação de tempestades tropicais.
Por exemplo, em junho, uma grande nuvem de poeira do Saara flutuou pelo Atlântico, suprimindo temporariamente a formação de tempestades.
Essas circunstâncias destacam a interconectividade e a complexidade do sistema terrestre, pois mudanças rápidas nas condições atmosféricas ou nas temperaturas da superfície do mar influenciarão os padrões de chuva em 2020 e o potencial de impactos sincronizados de furacões e incêndios.
A Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica é responsável pela previsão e monitoramento operacional de furacões nos Estados Unidos. O papel da Nasa como agência de pesquisa é desenvolver novos tipos de recursos observacionais e ferramentas analíticas para aprender sobre os processos fundamentais que impulsionam os furacões e as conexões entre os furacões e a variabilidade regional das chuvas para incorporar dados que capturam esses mecanismos nas previsões.
Morton é co-criador de uma previsão da temporada de incêndios na Amazônia. Agora em seu nono ano, a previsão analisa a relação entre as condições climáticas e as detecções ativas de incêndio dos instrumentos de satélite da Nasa, como o Espectrorradiômetro de Imagem de Resolução Moderada no Terra e no Aqua, para prever a gravidade da estação de incêndio.
Fonte: G1