Com a distribuição da vacina contra a covid-19 mundo afora, todos os olhares estão voltados para quem já foi vacinado. Para os que não leem além das manchetes, alguns títulos de notícias podem parecer preocupantes: “Mortes após a vacinação contra o coronavírus” ou “Voluntária nos testes morre após a vacina contra covid-19”.
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A DW analisou casos na Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Noruega, Bélgica e Peru e descobriu que em todos eles as autoridades sanitárias não encontraram ligações causais entre a vacinação e as mortes:
Alemanha
O Instituto Paul Ehrlich (PEI, do nome em alemão), responsável pelo lançamento de vacinas na Alemanha, investigou dez mortes no país entre várias horas a quatro dias após as vacinações. Em todos os casos, os mortos tinham entre 79 e 93 anos e sofriam de doenças pré-existentes, segundo Brigitte Keller-Stanislawski, chefe do departamento de segurança de produtos médicos do PEI.
“Com base nos dados que temos, acreditamos que os pacientes tenham morrido de sua doença anterior, e num momento coincidente com a vacinação”, disse ela à emissora alemã n-tv. Embora sem comentar casos individuais, ela disse se tratar de “pacientes muito seriamente doentes, com muitas outras doenças anteriores”.
“Se os idosos ou pessoas com doenças pré-existentes graves forem vacinados, haverá um certo número de mortes acidentais que ocorrerão logo após a vacinação, o que não pode ser associado causalmente com a vacinação”, apontou.
Em seu último relatório de segurança, o Instituto Paul Ehrlich destaca os casos de 20 indivíduos vacinados que morreram em decorrência da covid-19.
Uma porta-voz da imprensa disse à DW via e-mail que “todos eles, exceto um homem, tinham proteção vacinal incompleta, já que a covid-19 ocorreu após a primeira dose”, antes de a proteção começar.
“Em todas as outras pessoas, havia em alguns casos múltiplas doenças anteriores, tais como carcinomas, insuficiência renal, doenças cardíacas e alterações arteroscleróticas, que foram presumivelmente a causa da morte”, acrescentou Keller-Stanislawski.
Na Alemanha, estão sendo utilizadas as vacinas da Biontech-Pfizer e Moderna.
Espanha
A mídia espanhola noticiou que nove pessoas morreram em um lar de idosos após terem recebido a primeira dose da vacina da Pfizer. Todas elas tinham doenças pré-existentes.
O diretor do lar de idosos El Salvador, em Lagartera, disse que sintomas “como dores de cabeça ou diarreia ocasional” começaram a aparecer nos residentes após cinco dias e um médico lhe disse que isso poderia ser devido aos efeitos colaterais das vacinações.
Todas as nove mortes foram atribuídas a complicações com a infecção por covid-19, como consequência de um surto que ocorreu enquanto a vacinação estava em andamento. O gerente do lar de idosos disse que a vacina serve à proteção, e que as infecções não derivaram da vacinação.
Mesmo após a vacina ser administrada, é possível desenvolver a doença se a imunização tiver ocorrido durante o período de incubação do coronavírus, entre cinco e seis dias. Também é possível se infectar após a administração da vacina, já que ela geralmente tem efeito 10 a 14 dias após a primeira dose, de acordo com o Instituto Robert Koch de Doenças Infecciosas (RKI, do nome em alemão).
Tanto a mídia estatal russa quanto a chinesa abordaram vigorosamente este caso, com a chinesa citando a russa. O artigo original da mídia estatal russa afirma claramente que “não há atualmente nenhuma indicação de que a vacina tenha desempenhado qualquer papel nas mortes”.
Em seguida, remete os leitores à verificação do fato, afirmando que “é estatisticamente inevitável que algumas pessoas adoeçam e morram após receberem a vacina, por razões que não estão relacionadas à resposta de seu corpo à vacina”. Quem replicou a reportagem não reproduziu esta explicação.
Estados Unidos
Amplamente divulgada na Índia, uma notícia sobre 181 mortes nos Estados Unidos após a aplicação da vacina contra o novo coronavírus é baseada em um comunicado à imprensa da Children’s Health Defense, um grupo antivacinação liderado pelo proeminente Robert F. Kennedy Jr. e conhecido por produzir desinformação e propaganda contra vacinas.
Embora a notícia afirme que os números vêm de um “banco de dados governamental”, as informações estão no site do Centro Nacional de Informação sobre Vacinas, uma organização descrita como “a mais poderosa organização antivacina da América” pelo jornalista de ciência, tecnologia e saúde pública Michael Specter.
O Centro Nacional de Informações sobre Vacinas afirma que seus dados são extraídos do Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS), do governo dos EUA, que declara explicitamente que “qualquer pessoa pode apresentar um relatório ao VAERS, incluindo pais e pacientes”, e que “os relatórios sozinhos não podem ser usados para determinar se uma vacina causou ou contribuiu para um evento ou doença adversa”.
Além disso, o Sistema de Notificação incentiva os fornecedores de vacinas a relatar problemas de saúde significativos, “se eles acreditam ou não que a vacina foi a causa”, e adverte que seus dados “não podem ser interpretados ou usados para chegar a conclusões sobre a existência, gravidade, frequência ou percentuais de problemas associados às vacinas” e “devem ser interpretados no contexto de outras informações científicas”.
Já em 2015, um estudo avaliando as alegações de mortes por vacinação destaca que os dados do sistema VAERS são distorcidos, pois é um sistema que “aceita qualquer relatório apresentado de um evento adverso sem julgar seu significado clínico ou se ele foi causado por uma vacinação”. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças também adverte contra o enviesamento de relatórios e a qualidade inconsistente dos dados em tal sistema.
Entretanto, o Centro Nacional de Informação sobre Vacinas também solicita relatórios através de seu próprio website no mesmo formato básico que o VAERS, mas não especifica se as duas agregações de dados estão combinados em seu banco de dados ou se eles são mantidos separados.
Noruega
A Agência Norueguesa de Medicamentos Statens Legemiddelverk investigou 33 relatos de mortes em lares de idosos após a vacinação dos residentes.
A agência afirmou que “muitos dos residentes de lares que foram vacinados são pacientes muito frágeis ou doentes terminais”. “Todos os dias, uma média de 45 pessoas morrem em lares de idosos noruegueses ou outras instituições similares. Portanto, mortes próximas ao momento da vacinação são esperadas, mas não implicam uma relação causal com a vacina”, aponta.
O Comitê de Avaliação de Risco da Agência Europeia de Medicamentos (PRAC) também estudou os casos, declarando em um relatório que “a avaliação não revelou nenhuma preocupação com a segurança”, acrescentando que “(múltiplas) doenças pré-existentes parecem ser uma explicação plausível para as mortes”.
Ao avaliar os casos, um artigo na revista da Associação Médica Britânica cita Steinar Madsen, diretor médico da Agência Norueguesa de Medicamentos, dizendo: “Não há uma conexão segura entre essas mortes e a vacina”. Em vez disso, Madsen disse que “reações adversas comuns, que não são perigosas em pacientes mais fortes, mais jovens, e não são incomuns com vacinas, podem agravar doenças pré-existentes em idosos”.
“Não estamos alarmados ou preocupados com isto, porque estas são ocorrências muito raras e aconteceram com pacientes muito frágeis e com doenças muito graves”, disse ele, acrescentando que os médicos foram instruídos a “realizar uma avaliação adicional de pessoas muito doentes cuja condição subjacente pode ser agravada pela vacina”.
Bélgica
Na Bélgica, a Agência Federal de Medicamentos e Produtos de Saúde relatou que 14 pessoas morreram após serem vacinadas contra o coronavírus. Entretanto, não foi encontrada uma causalidade.
Todos os pacientes mortos tinham mais de 70 anos de idade, sendo que cinco tinham mais de 90 anos, informou o portal Brussels Times. Mais detalhes sobre as mortes não foram liberados.
“O fato de as mortes relatadas não apresentarem um quadro clínico comum é um elemento bastante tranquilizador, assim como o fato de que elas tenham ocorrido após um período variável de tempo”, informou a Agência de Medicamentos, acrescentando que “até hoje, não foi encontrada formalmente nenhuma relação causal” com a vacina contra covid-19.
Como resultado, a Agência de Medicamentos belga tem publicado relatórios semanais examinando os efeitos colaterais da vacina. O relatório de 4 de fevereiro destacou “até hoje, nenhuma relação causal formal foi estabelecida com o imunizante contra covid-19”.
Embora as vacinas usadas não tenham sido especificadas nestes casos, sabe-se que a Bélgica está vacinando com os produtos da Biontech-Pfizer e da Moderna.
Peru
A Universidade Cayetano Heredia, que conduziu um estudo duplo-cego (em que nem o objeto de estudo nem o examinador sabem o que está sendo utilizado como variável) sobre a vacina da chinesa Sinopharm, registrou a morte por pneumonia de uma paciente que participava dos testes.
Mais tarde, foi revelado que a voluntária que morreu não havia sido vacinada, mas estava no grupo dos que receberam um placebo. Em declaração, a universidade informou que “é importante precisar que a morte da participante do estudo não está relacionada à vacina, já que ela recebeu um placebo”.
Fonte: Deutsche Welle