Os primeiros testes de uma bomba atômica, realizados em 1945 no estado americano do Novo México, formaram um novo material. Esse composto é uma substância vítrea, que foi batizada de trinitito vermelho. Forjado em altas temperaturas dentro de um pedaço de trinitita, ele é um grão de material com apenas 10 micrômetros de diâmetro, um pouco maior que um glóbulo vermelho.
Esse grão contém uma forma rara da matéria que é chamada de quasicristal, que nasceu junto com a era nuclear da humanidade. O novo experimento foi relatado em um estudo publicado no último dia 17 de maio na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
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Os cristais normais são compostos por átomos presos em uma rede que se repete em um padrão regular. Já a estrutura dos quasicristais, apesar de ser ordenada, não se repete, ou seja, eles podem ter propriedades que são “proibidas” nos cristais. Sua descoberta foi feita no início dos anos 1980 e eles também aparecem na natureza em meteoritos.
Os quasicristais descobertos no Novo México são os mais antigos feitos por humanos. Seu nome, trinitita, é uma referência ao nome do teste nuclear no qual eles foram criados, a Experiência Trinity, realizada em 1945 no chamado Site Y, que foi o primeiro teste nuclear da história.
Contudo, o trinitito estudado pela equipe do geofísico Terry Wallace, diretor emérito do Laboratório Nacional de Los Alamos, que é o nome atual do Site Y, é de uma variedade mais rara, chamada de trinitito vermelho. Em geral, este quasicristal tem uma coloração mais esverdeada, porém, o trinitito vermelho contém cobre, que vem dos restos dos fios que se estendiam do solo até a bomba.
Formação dos quasicristais
Os quasicristais se formam em materiais que sofreram um impacto violento e, em geral, envolvem metais. O trinitito vermelho, na teoria, se encaixa nesses dois critérios. Porém, os pesquisadores precisavam encontrar algumas amostras dele antes para poderem estudá-lo.
“Passei meses procurando por trinitito vermelho por aí”, disse o físico teórico Paul Steinhardt, da Universidade de Princeton, nos EUA. Porém, ele só foi receber amostras quando Luca Bindini, mineralogista da Universidade de Florença, na Itália, passou a colaborar com a equipe. Ele havia conseguido uma amostra do material com outro especialista.
Em seguida, o trabalho começou a ser feito, com Bindi examinando cada partícula do grão microscópico. Logo depois, o grão foi extraído da trinitita e irradiado com raios X, com os pesquisadores revelando, finalmente, que o material tinha um tipo de simetria encontrado somente em quasicristais.
O trinitito vermelho é formado de silício, cobre, cálcio e ferro. Em entrevista para o Science News, o mineralogista do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), Chi Ma, que não participou do estudo, declarou que o material é “totalmente novo para a ciência”. “É uma descoberta muito legal e emocionante”, disse ele.
Para o futuro, cientistas pretendem examinar outros locais que sofreram golpes violentos, como crateras de impacto e outros locais de testes nucleares. O objetivo é encontrar estruturas que são formadas por um forte impacto no solo.
Fonte: Olhar Digital