Um diamante encontrado em Orapa, na República do Botswana, país localizado no sul do continente africano, contém um mineral que intriga a comunidade científica. Isso porque ele nunca havia sido visto na natureza, e até hoje existia apenas em teoria.
Explica-se: em 1975, uma equipe de pesquisadores criou uma “fase de alta pressão de aSiO3” – um mineral que poderia existir apenas sob certas condições. Para sintetizá-lo, os cientistas tiveram que combinar elementos em condições de alta temperatura e pressão.
Eles notaram que, assim que a pressão era reduzida, o mineral imediatamente mudava para uma forma de vidro. Essa descoberta sugeriu que não era provável que o aSiO3 pudesse existir na natureza.
No entanto… Provou-se que essa suposição estava errada, já que o diamante encontrado em Botswana contém três minúsculas amostras desse ‘mineral teórico’ (bem, teórico até agora).
De acordo com o site Phys, a descoberta, conduzida pelo mineralogista Oliver Tschauner, da Universidade de Nevada, foi publicada na revista Science, que também traz um artigo do geofísico e geoquímico Yingwei Fei, do Instituto Carnegie de Ciência, de Washington DC, descrevendo o trabalho e explicando porque ele é tão importante para a geologia.
Mineral encontrado em diamante é feito no manto inferior da Terra
Segundo Tschauner, o novo mineral agora é chamado de davemaoíta, e é considerado uma perovskita de silicato de cálcio (CaSiO3). A palavra perovskita se refere a um grande grupo de materiais caracterizado por uma estrutura cristalina bem definida.
“A análise estrutural e química do mineral mostrou que ele é capaz de hospedar uma grande variedade de elementos, não muito diferente de colocar objetos volumosos em uma lata de lixo”, escreveu Tschauner em seu artigo. “Especificamente, ele contém uma grande quantidade de potássio aprisionado. O davemaoíta pode, portanto, hospedar três dos principais elementos produtores de calor (urânio e tório foram previamente mostrados experimentalmente) que afetam a geração de calor no manto inferior da Terra”.
Como esse mineral só pode se formar sob condições extremas de calor e pressão, os pesquisadores suspeitam que as partículas detectadas no diamante tiveram que se formar bem abaixo da superfície terrestre (a quase 900 km de profundidade), ou seja, no manto inferior da Terra (área entre o núcleo e a crosta). “Consequentemente, as abundâncias regionais e globais de davemaoíta influenciam o balanço de calor do manto profundo, onde o mineral é termodinamicamente estável”, explica Tschauner.
Segundo a Perspectiva de Fei, o silicato de cálcio é encontrado em várias formas, uma das quais é a volastonita – um mineral encontrado na crosta terrestre. “Desse modo, uma forma de silicato de cálcio (como a volastonita) pode ter encontrado as condições ideais para formar perovskita de silicato de cálcio bem abaixo da superfície e, logo depois disso, se viu cercado por carbono que estava sendo prensado em um diamante”, descreve Fei.
“Depois disso, o material ao redor do diamante o carregou para cima até atingir a superfície, onde foi encontrado”, resume. O nome davemaoíta é uma homenagem a Ho-Kwang “Dave” Mao, geólogo octogenário do Centro de Pesquisa Avançada em Ciência e Tecnologia de Alta Pressão em Xangai, na China, pós-doutor pelo Instituto Carnegie de Ciência.
Fonte: Olhar Digital