Pesquisadores da Universidade do Arizona e do Instituto de Pesquisas Geológicas do Colorado conduziram estudos separados que chegaram à mesma conclusão: o asteroide Bennu, um dos mais conhecidos objetos potencialmente danosos à Terra, tem uma superfície extremamente porosa, quase sem resistência, e isso pode trazer riscos ao nosso planeta caso ele entre em nossa rota orbital.
As informações vêm das duas passagens da sonda OSIRIS-REx, a missão lançada pela NASA em outubro de 2020 e que pousaram no asteroide a fim de analisar várias de suas propriedades. E desde a primeira visita, nós tivemos diversas surpresas.
Quando chegamos ao asteroide, nosso pouso desencadeou uma explosão inesperada na superfície, e o que era para ser uma simples retirada de amostra se provou algo bem mais aprofundado: “Esperávamos que a superfície fosse bem sólida, meio que como se você pisar descalço numa pilha de cascalhos: nada mais que um pouquinho de poeira levantando e umas partículas subindo”, disse Dante Lauretta, cientista planetário no Arizona e investigador principal de um dos estudos.
Segundo ele, o que aconteceu na verdade foi, em suas próprias palavras, “uma parede de destroços voando por todas as direções a partir da área de coleta da amostra”. Essa impressão ficou marcada em todos os operadores – tanto que Lauretta sugeriu e teve atendida a ideia de uma segunda passagem. Seis meses depois, em abril de 2021, a OSIRIS-REx observou o ponto do pouso original, encontrando a cratera de impacto. Um segundo pouso gerou uma nova cratera dentro da anterior, com oito metros de tamanho, deslocando rochas e pedras menores para várias direções.
E aí veio a maior surpresa: os cientistas esperavam cavar cerca de 30 centímetros para coletar novas amostras – a capacidade máxima da sonda. Entretanto, o braço que serve de coletor “afundou” cerca de 70 centímetros. “Não havia qualquer tipo de resistência”, disse Lauretta, que ressaltou ter encontrado material intocado pelo bombardeio de ventos solares e radiação cósmica.
Segundo Lauretta, cálculos especulativos estimaram que a densidade do material de superfície do Bennu era de algo entre 500 e 700 quilogramas (kg) por metro cúbico (m³). Para fins de comparação, qualquer rocha na Terra tem uma densidade seis vezes maior que isso – algo como três toneladas por m³.
O segundo estudo confirmou esses números: “as rochas da superfície são bem porosas e tem muito espaço vazio entre elas”, disse Kevin Walsh, autor do paper e geólogo do Instituto Southwest Research do Colorado. “Esperávamos que os grãos menores e mais finos da poeira se aderissem às grandes rochas e preencher esse vazio, agindo como uma ‘cola’ e oferecendo alguma força de resistência, o que permitiria à superfície sustentar melhor a nave. Mas isso simplesmente não existe lá”.
Esses são detalhes importantes pois, embora pequena, há uma chance do asteroide Bennu entrar em rota de colisão com a Terra entre os anos 2175 e 2199 – especificamente, uma chance em 2,7 mil. Na prática, é um risco pequeno, mas ainda com essa superfície “fofa”, o Bennu é um dos asteroides mais perigosos para o nosso planeta.
O problema: se viermos a ter que desviar o Bennu de uma possível colisão – como a NASA vem testando com a missão DART -, não há como prever a reação de suas rochas diante de um impacto de, digamos, uma nave lançada diretamente contra ele. Por ser, como dissemos, “fofa”, a superfície do Bennu pode acabar absorvendo o impacto sem alteração de rota.
Por ora, tudo está no campo especulativo: a sonda OSIRIS-REx está a caminho da Terra, voltando para casa com as amostras coletadas, e deve entregá-las até setembro de 2023, quando partirá para uma nova missão, agora visitando o asteroide Apophis – um outro asteroide de risco moderado para nós (e mudando seu nome para “OSIRIS-APEX”.
Fonte: Olhar Digital