O extraordinário impacto da erupção de vulcão submarino na atmosfera terrestre

Vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai provocou uma das maiores erupções já registradas – NASA

Desde o princípio do ano, a atmosfera da Terra tem mais vapor d’água do que de costume.

Em 15 de janeiro de 2022, o vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha’apai entrou em erupção perto da ilha de Tonga, no Pacífico, criando um tsunami e uma explosão sônica com ondas sonoras que se espalharam por todo o mundo em duas ocasiões.

Essa erupção foi considerada uma das mais fortes já registradas no planeta. Agora, um grupo de cientistas descobriu que seus impactos foram além da lava, das cinzas e do estrondo.

Um estudo do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, a agência espacial americana, na Califórnia (EUA), publicado na edição mais recente da revista Geophysical Research Letters, demonstra que o vulcão também liberou uma gigantesca quantidade de vapor d’água na atmosfera.

A quantidade foi tão grande que os cientistas receiam que ela aqueça a superfície da Terra mais do que o esperado — embora seu efeito seja apenas temporário.

“Essa erupção pode afetar o clima (…) por meio do aquecimento da superfície, devido à força radioativa do excesso de água estratosférica”, segundo o estudo.

O artigo explica que se trata de um efeito anômalo, já que as grandes erupções vulcânicas normalmente esfriam o clima do planeta, devido às nuvens de cinza que encobrem o Sol. É o chamado “inverno vulcânico” — um exemplo aconteceu após a erupção do monte Tambora, na Indonésia (1815), que desencadeou o “ano sem verão” em 1816.

Enorme quantidade de água

O estudo indica que a quantidade de enxofre e outras substâncias liberadas pelo Hunga Tonga-Hunga Ha’apai foi pouco relevante em comparação com a quantidade de água.

Os cientistas acreditam que a atividade vulcânica tenha lançado 146 teragramas (146 milhões de toneladas) de água na estratosfera, entre 12 e 53 km acima da superfície da Terra.

Para se ter uma ideia, a quantidade de vapor d’água liberada seria suficiente para encher 58 mil piscinas olímpicas — equivalente, segundo a pesquisa, a 10% da água que já estava presente na estratosfera.

“Isso não surpreende, pois a caldeira do Hunga Tonga-Hunga Ha’apai estava situada a 150 metros abaixo do nível do mar. A forte explosão liberou vapor d’água a altitudes de até 53 km”, segundo o estudo.

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A violência da erupção

1 – O magma sobe em alta velocidade

2 – O contato do magma em alta velocidade com a água fria cria uma “interação combustível -refrigerante”

3 – O magma se fragmenta e os pedaços ficam expostos a uma maior quantidade de água do mar

4 – Reação em cadeia e grande explosão química

5 – As partículas saem em disparada com velocidade hipersônica

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Os registros indicam que essa é a maior quantidade de água já liberada para a estratosfera “por um vulcão ou de qualquer outra forma”, desde o início da “era dos satélites”.

Isso porque a detecção foi realizada por um instrumento chamado Microwave Limb Sounder, que se encontra no satélite Aura, da Nasa. O satélite mede vapor d’água, ozônio e outros gases atmosféricos.

“Nunca havíamos visto algo assim. Nós tivemos que inspecionar cuidadosamente todas as medidas para garantir que elas fossem confiáveis”, disse em um comunicado o autor do estudo, Luis Millán, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.

Aquecimento

O estudo prevê que esse aumento da quantidade de vapor d’água poderia potencialmente aquecer a superfície da Terra, já que uma das suas funções é capturar o calor do Sol.

Água liberada pelo vulcão seria suficiente para encher 58 mil piscinas olímpicas. – NASA

Os pesquisadores acreditam que o excesso de vapor d’água pode permanecer na estratosfera por vários anos, causando reações químicas que enfraquecem a camada de ozônio que protege a Terra.

Mas eles destacam que esse efeito terá menor escala e será temporário, dissipando-se à medida que o vapor excedente for reduzido.

Por isso, não se acredita que ele seja suficiente para ampliar as mudanças climáticas causadas pelas atividades humanas, que todos já enfrentamos.

Fonte: BBC