É preciso aprender com cultivos indígenas a enfrentar crise climática

Estudo ressalta importância de plantios indígenas para preservação da diversidade genética dos alimentos, que pode proteger plantações agrícolas das mudanças climáticas

Imagens de índios iauanauás do estado do Acre – Foto: Wikimedia Commons

Um novo estudo desenvolvido por cientistas do Instituto Carnegie de Stanford e da JR Biotek Foundation conclui que é necessário repensar como vemos as plantações indígenas. Publicado em 23 de setembro no periódico Trends in Plant Science, o artigo defende a importância da linguagem anticolonial.

As plantações indígenas se estendem pela África, Ásia e América do Sul e incluiem uma ampla variedade de cereais, grãos, frutas, leguminosas e tubérculos. Entretanto, por mais que ela seja uma cultura ampla, esse tipo de cultura de alimentos (apelidado de “plantio órfão”) é negligenciado por não desempenhar um papel significativo na economia agrícola global.

No entanto, segundo os autores do estudo, as plantações indígenas são responsáveis por produzir alimentos básicos cruciais para nutrição e sustentar comércios existentes por gerações nas áreas onde há cultivo. Portanto, o uso da terminologia “plantios órfãos” é fruto de um pensamento colonial e diminui esse importantíssimo papel das plantações de povos indígenas

“O termo ‘órfão’ ignora os importantes papéis de administração desempenhados por gerações de agricultores, que mantiveram essas culturas saudáveis ​​e produtivas para alimentar suas comunidades”, explica, em nota, William Dwyer, autor e pesquisador do Departamento de Biologia Vegetal da Carnegie.

Ainda de acordo com os autores, ao utilizar a terminologia correta (cultivo indígena), o significado da transferência de conhecimento sobre domesticação de alimentos — crucial para alimentar as populações indígenas ao redor do mundo — é ressaltado.

A visibilidade sobre a importância de manter o plantio indígena vivo tem crescido à medida que cientistas ocidentais passam a pesquisar culturas regionais que são cultivadas há gerações por agricultores locais em todo o mundo.

Isso porque os plantios indígenas são exclusivamente adaptados aos ambientes locais, sendo tolerantes a condições desafiadoras e possuindo vastos reservatórios de diversidade genética. Essa diversidade é um aspecto importante para que uma planta se adapte às mudanças climáticas e ao estresse

“À medida que esses esforços de pesquisa avançam, é crucial que, quando nos baseamos na promessa das culturas indígenas para ajudar a enfrentar os próximos desafios [climáticos], biólogos de plantas e outros especialistas reconheçam e colaborem com as culturas e os países que as preservaram por milhares de anos”, afirma Dwyer.

Fonte: Galileu