Mônica Pinto / AmbienteBrasil
O seqüestro de carbono está sendo pesquisados por um consórcio que reúne oito empresas petrolíferas do mundo, entre as quais a Petrobras. Na terça-feira 07, no Hotel Caesar Park, em Ipanema, no Rio de Janeiro, aconteceu a primeira reunião aberta do projeto, batizado de C02 Capture, com a participação de representantes do Governo, da Academia e do terceiro setor.
O consórcio de empresas é liderado pela British Petroleum, cujos representantes fizeram palestras no evento, explicando sobretudo os desafios da tecnologia empregada na separação e captura, transporte e armazenagem do CO2.
Gardiner Hill, um dos palestrantes, destacou que hoje é praticamente unânime na comunidade científica o entendimento de que as mudanças climáticas estão efetivamente associadas às emissões de gases causadores de efeito estufa. “A maioria das pessoas sabe que não seria sábio fazermos tantas emissões na atmosfera. O que temos de fazer para parar com isso é o que temos de tratar aqui”, disse ele, abrindo a reunião. Hill lembrou ainda que 2005 foi o primeiro ano, no planeta, em que mais pessoas viviam nas cidades do que na área rural.
Um dos maiores desafios da tecnologia em debate é a redução de custos da captura do CO2, essencial para viabilizar sua aplicação em escala comercial. Nesse sentido, os governos seriam protagonistas no campo dos incentivos, auferindo, com isso, ganhos de imagem. “Os governos têm um papel importante para mostrar como estão lidando com diversidade energética segura”, ponderou Gardiner Hill.
Para João Marcelo Ketzer, pesquisador do Instituto de Meio Ambiente da PUC do Rio Grande do Sul, o que vai acontecer num caso de vazamento do CO2 armazenado no subsolo será a grande preocupação da opinião pública. “Vamos ter que achar espaço para sete bilhões de toneladas de CO2 até 2050, se quisermos manter os níveis atuais”, disse ele – também um dos palestrantes – a AmbienteBrasil. “Isso é um esforço gigantesco”, avalia Ketzer, para quem não haverá avanço no seqüestro geológico de carbono sem o empenho coletivo da indústria e alguma espécie de incentivo econômico por parte do governo.
No âmbito da indústria petrolífera, a tecnologia está sendo testada em três grandes projetos, mas ainda em escala piloto – no Canadá, na Noruega e na Algéria. “Ainda não tem escala comercial”, diz Luiz Pinguelli Rosa, do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, também presente ao evento. “A perspectiva para a proposta ser economicamente viável seria de uns dez anos”.
Para Telma Krug, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe –, hoje atuando no Instituto Interamericano para Pesquisa em Mudanças Globais (Inter American Institute for Global Change Research – IAI), nenhuma iniciativa isolada terá efeitos significativos. “O que se discute é um portfólio de projetos que teriam a capacidade de trazer a estabilização nos níveis de gases formadores de efeito estufa”.
Segundo ela, os debates sobre seqüestro geológico de carbono estão bem adiantados no Painel Intergovernamental em Mudança do Clima – IPCC. “Já estão incluindo a possibilidade dos países reportarem emissões evitadas a partir dessa técnica”, diz Telma, para quem é “inevitável” que a tecnologia em testes esteja na mesa dos próximos compromissos do Protocolo de Kyoto.
Rodolfo Dino, geólogo sênior do Centro de Pesquisas – Cenpes – da Petrobras, não acredita que haverá problemas com o espaço para o armazenamento geológico do CO2. “Os reservatórios das bacias sedimentares são muito grandes”, diz, também tranqüilo em relação aos eventuais temores que decerto surgirão na opinião pública quanto ao escape do CO2. “As pessoas esquecem que existem reservatórios naturais de CO2”, coloca, lembrando as estâncias hidrominerais e, nos Estados Unidos, “jazidas” com CO2 com 99% de pureza.
O especialista reforça, porém, a necessidade de um monitoramento constante. “Queremos que o CO2 fique preso lá por milhões de anos.
Para Marco Aurélio Ziliotto, diretor da ONG Instituto Ecoplan, que participou do evento, a emissão dos gases causadores de efeito estufa requer duas ações imediatas: eficiência energética e incremento do uso de fontes renováveis de energia.
Em sua avaliação, o seqüestro geológico se qualifica como uma opção futura porque as ações atuais são consideradas “ineficientes e ineficazes”. Para Ziliotto, a difusão destes projetos demanda uma pesquisa de opinião qualitativa e quantitativa com diferentes setores da sociedade brasileira. “É preciso conhecer a percepção de ONGs, Academia, estudantes etc”.
Em breve, consulte o Ambiente Carbono para saber mais sobre a tecnologia de seqüestro geológico de CO2 e conhecer as apresentações que aconteceram no evento.