Hoje – 22 de Março – é o Dia Mundial da Água. A data foi instituída em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco 92-RJ) com objetivo de estimular a reflexão sobre a situação dos recursos hídricos, mobilizando a sociedade civil e o poder público para a elaboração de medidas práticas de preservação deste patrimônio natural.
Assim, desde o início da semana, enquanto grande parte do país preocupava-se em saber quem seria o próximo eliminado no Big Brother Brasil, várias entidades dedicavam-se a promover eventos sobre “Lidando com a escassez de água”, tema do Dia Mundial este ano.
A julgar pela quantidade enorme de pessoas que continua lavando carros e calçadas com mangueiras, ou que escova os dentes com a torneira aberta – só para citar três exemplos de absoluta falta de consciência ambiental -, esta data tenderia a ser marcada pelo signo da educação. Porém, algumas das atividades programadas se baseiam em protestos.
Como seria de se esperar, o Dia Mundial da Água enseja manifestações por parte do time contrário à transposição do rio São Francisco.
Amanhã, sexta-feira, entidades ambientalistas de Minas Gerais vão tentar mais uma vez alertar para as “incoerências do projeto”, numa atividade organizada pelo Projeto Manuelzão/UFMG, pelo Fórum de ONGs Ambientalistas de Minas Gerais e pela Amda – Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente.
Os manifestantes partirão às 12 horas da Praça da Assembléia, em Belo Horizonte, até a sede do Ibama, onde pretendem realizar o enterro simbólico “daqueles que têm se empenhado em levar o projeto adiante, ignorando os apelos por diálogo”.
As instituições promotoras apontam uma incompatibilidade entre os objetivos colocados pelo Governo e o real aproveitamento que pode ser feito dessa água e fazem isso com base em propostas do próprio governo, como o Atlas do Nordeste, da Agência Nacional das Águas, que indica alternativas para a convivência com o semi-árido. “Além da transposição não matar a sede da população, a finalidade produtiva, como a de irrigar plantações, e alimentar criações de camarão no litoral nordestino, também é comprometida pelo alto custo de manutenção das obras”, argumentam, no material de divulgação do evento.
O “não” ao projeto do Velho Chico é também um dos focos da caminhada “Preserve os Mananciais Hídricos do Planeta”, que acontece hoje em Salvador (BA), partindo do Campo Grande à Praça Municipal.
A atividade, programada para as 14h, é uma realização do SINDAE, o Sindicato dos Empregados na área de água e esgoto daquele estado, em parceria com o Grupo Ambientalista da Bahia – Gambá.
Os participantes também pretendem rechaçar a privatização da Embasa – a empresa baiana de saneamento e água – e a construção do II Emissário Submarino de Salvador.
Mobilização – Hoje, a partir das 9h, no Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), diversas instituições brasileiras da iniciativa privada, governos e do terceiro setor se reunirão para um seminário sobre a água, em que será lançado um movimento em defesa das águas brasileiras.
Os participantes formularão um documento de compromissos em torno da gestão da água no Brasil: a Carta de Princípios Cooperativos pela Água. A iniciativa é baseada em acordos globais para a sustentabilidade e preservação do meio ambiente, como as Metas do Milênio e a Agenda 21. Os signatários reconhecem a água como um bem universal e assumem a responsabilidade de promover ações e alinhar esforços para a preservação dos recursos hídricos.
Promovem o evento a Organização das Nações Unidas – ONU, por meio da FAO; a Agência Nacional de Águas – ANA; o Ministério do Meio Ambiente – MMA, por intermédio da Secretaria Nacional de Recursos Hídricos – SRH; a Fundação Roberto Marinho e a Itaipu Binacional. Entre as autoridades que participarão do evento estão a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; o diretor-presidente da ANA, José Machado e o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia.
Também estarão presentes instituições formuladoras de políticas nacionais de setores usuários da água, como: a Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, a Confederação Nacional da Indústria – CNI, a Confederação Nacional da Agricultura – CNA, a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB e a Organização das Cooperativas Brasileiras.
Entre outros objetivos, as instituições que fazem parte dessa iniciativa, denominada SOS H2O, se comprometem a melhorar a gestão do uso das águas, eliminar a poluição e os casos de doenças relacionadas à falta de saneamento básico, criar incentivos ao uso sustentável da água e adotar programas educacionais em torno do tema. Durante o evento haverá a apresentação de casos de sucesso na preservação e recuperação da água, como o da própria Itaipu Binacional, por meio do programa Cultivando Água Boa.
O quadro atual
A escassez de água já é uma realidade em muitos lugares do planeta. Hoje, cerca de 1,1 bilhão de pessoas não tem acesso a água potável. Nos países em desenvolvimento, esse problema aparece relacionado a 80% das mortes e enfermidades. A perspectiva de escassez põe em discussão o controle público e privado de um bem considerado essencial para a vida e exige inovações tecnológicas para as grandes questões da gestão das águas e seu uso racional, expansão industrial e agrícola, crescimento populacional, degradação dos mananciais e alteração do ciclo hidrológico, provocado principalmente pela urbanização e desmatamento.
Apesar de ter cerca de 12% da água doce do mundo, o Brasil enfrenta problemas em relação à disponibilidade. Conforme aponta o relatório GEO Brasil Recursos Hídricos, há uma enorme discrepância em relação à distribuição geográfica e populacional da água no país: a região amazônica abriga sozinha 74% da disponibilidade de água, mas é habitada por menos de 5% dos brasileiros.
Além disso, o Brasil convive com outro aspecto que colabora para o quadro de escassez em algumas localidades. Fora a poluição dos rios e nascentes, merece destaque a deficiência nos sistemas de coleta de esgotos. Hoje, 54% dos domicílios brasileiros contam com esse serviço.
Há também a questão do desperdício. De acordo com dados da ANA, dos 840 mil litros de água consumidos no Brasil a cada segundo, 69% são destinados à agricultura. Tanto o uso urbano como o uso com animais demanda, cada um, 11% da água brasileira. O consumo industrial (7%) e o rural (2%) completam o quadro. Todos estes consumidores tendem a usar a água de modo abusivo, por motivos que vão desde problemas na irrigação até o abuso no consumo doméstico. Somente o reaproveitamento da chamada “água cinzenta” – resultante das lavagens e banho – para a descarga de latrinas resultaria numa economia de um terço de todo o consumo doméstico, por exemplo.
Mas o Brasil também tem virtudes na área de recursos hídricos. Conforme estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef – e da Organização Mundial de Saúde – OMS -, entre 76 e 90% dos habitantes do país têm acesso a fontes de água potável, cenário somente menos favorável que o da maioria dos países desenvolvidos.
* Com Assessorias de Imprensa da Agência Nacional de Águas – ANA – e da Itaipu Binacional.