EXCLUSIVO: A beleza de recursos naturais ao alcance das mãos, dedos, pescoços…

Danielle Jordan / AmbienteBrasil


As tendências da moda muitas vezes acompanham o momento vivido. O movimento da Tropicália, no final da década de 60 e início da de 70, influenciou a cultura, os costumes, a política e até a moda. Neste início de século, quando a natureza mostra o impacto sofrido durante anos de exploração, numa época em que a palavra da hora é preservar, o meio ambiente ganha espaço até mesmo nos acessórios. As biojóias – como são chamadas as peças que utilizam ou se inspiram em produtos retirados do meio ambiente – estão em alta e colocam em desfile a biodiversidade e a natureza.

Para Sandra Sinicco, promotora dos eventos “Jóias da Cor do Brasil” e “Jóias do Artesanato Paulista”, é preciso que se faça a distinção: “as pessoas chamam qualquer peça de biojóia”, diz, explicando que, para receber essa classificação, deveriam ser utilizados critérios internacionais que categorizam como jóias peças que utilizem ouro e/ou pedras preciosas de alto valor. Dentro dessa linha, o evento trabalha com dois segmentos. Um deles posssui diversos artistas que produzem peças aliando à produção o uso de materias naturais como couro, palha e pedras.

Outro segmento não faz, necessariamente, uso desses materiais, mas se inspira nos motivos da natureza para a produção. É o caso da exposição Biomas, onde os ecossistemas do Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica etc. são retratados. Essas peças, chamadas de jóias de autor, são exclusivas.

Independente da categorização correta, uma coisa é certa: as biojóias brasileiras – em todos os seus sentidos – possuem beleza ímpar e conquistaram fãs não só no país, mas também no exterior.

A empresária Rita Prossi trabalha na área há doze anos, mas foi quando viajou ao Rio de Janeiro, para um curso de design de jóias, que teve a inspiração de criar peças usando produtos naturais. “Quando retornei fiz minha primeira peça, para uma cliente levar para os Estados Unidos”, conta, dando o primeiro passo rumo à exportação. Ela usou palha de arumã tecida pelas índias da aldeia Waimiri-atroari – etnia presente no sul de Roraima e no norte do Amazonas -, com semente de açaí e pingentes em ouro imitando os artefatos indígenas e animais do cotidiano deles.

A empresária, hoje ganhando o território internacional, conta que nem sempre o mercado foi assim. “Eu tive que criar um kit de sementes e vender para outras designers, para incentivá-las a criar peças com esses materiais, então surgiu a joalheria alternativa”, diz, explicando que há 12 anos ninguém trabalhava com biojóias.

Responsabilidade sócioambiental

Rita Prossi possui parcerias com tribos indígenas que colaboram na confecção dos produtos. “Toda vez que uma pessoa compra uma peça nossa vai lembrar que está ajudando no sustento de uma grandiosa cadeia de produção e também que existem animais que precisam ser preservados”, comemora.

Outro exemplo também mostra como a responsabilidade sócioambiental está estreitamente relacionada a esses trabalhos. A designer Suzana Rodrigues há três anos desenvolve um projeto na Penitenciária Feminina de Brasília e o que seria um simples curso voluntário de bijuterias tomou maiores proporções. Mais de 250 mulheres foram capacitadas, e 40 trabalham diariamente, recebendo remuneração por produtividade – a preço de mercado -, além de reduzirem as suas penas à razão de um dia por cada três trabalhados. “O que as motiva é a certeza de emprego na minha empresa ao conquistarem a liberdade”, avalia Suzana.

Uma de suas funcionárias, ocupante de um cargo de confiança, é uma ex-interna que trabalhou durante um ano enquanto detenta e que, há dois anos, gerencia o setor de produção. Depois de lutar pela sobrevivência no mundo do tráfico de drogas, a funcionária virou o jogo. “É uma cidadã respeitada e com sua auto-confiança elevadíssima, sendo um exemplo para as demais mulheres que ora aguardam a liberdade”, diz a empresária.

Sementes, pedras brasileiras, madeiras, fios naturais e prata servem como material para as peças produzidas no projeto. “A fé, a intuição e a natureza” são fontes inspiradoras, segundo Suzana, para quem, entre os benefícios ao meio ambiente, está “o cultivo das plantas para a preservação da espécie”.

A Amazônia é berço de mais iniciativas exemplares também nessa questão. A criatividade do artesão Antônio Carlos Gomes do Nascimento chamou atenção do empresário André Luiz Carvalho Pinheiro e, em parceria, eles criaram uma rede de lojas e vendas em todo o Brasil. Materiais que seriam desperdiçados tomam forma e ganham valor. A Ecojóias da Amazônia aproveita o material local, comprando sementes coletadas por comunidades carentes, assim como conchas de madre-pérola, adquiridas em colônias de pescadores do Pará. Insumos como a casca do coco; sementes de murici, tucumã e açaí; estirpe da pupunheira; assoalhos de madeiras diversas; ossos e chifres, tornam possível a criação de peças originais, sem que o meio ambiente sofra com o acúmulo de resíduos. A empresa ainda permite que interessados participem da rede de revendas, como oportunidade de negócios mesmo em regiões distantes da Amazônia.

* Fotos cedidas por Rita Prossi