EXCLUSIVO – Artesanato em fibra de bananeira é fonte de renda para quilombolas em São Paulo

Mônica Pinto / AmbienteBrasil

A banana é fruto que dispensa apresentações. Agrada a quase todos os paladares e tem propriedades nutricionais reconhecidas. Mas é para a bananeira que voltam-se cada vez mais olhos. A fibra da árvore presta-se à produção de peças artesanais variadas e vem sendo utilizada com esse objetivo.

Um bom exemplo desse movimento está em oito comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, em São Paulo. Nelas, grupos de artesãos têm conseguido agregar valor à bananicultura, principal cultivo da região, utilizando a palha da bananeira como matéria-prima para a confecção de jogos americanos, esteiras, bolsas e cintos, entre outros produtos.

Esse tipo de artesanato vem se tornando uma fonte de renda complementar, sobretudo para as mulheres, que ganham também em auto-estima e poder decisório dentro das respectivas famílias.

O projeto é realizado pelo Instituto Socioambiental – Isa -, que responde pela infra-estrutura material (teares, equipamentos para a coleta da fibra etc) e pelas oficinas de capacitação, em diferentes estágios, conforme o tempo de convivência de cada grupo com a atividade.

As oficinas contemplam, por exemplo, aprimoramento, acabamento e oportunidades de comercialização dos produtos em fibra de bananeira. O projeto orienta também sobre a gestão dos recursos dentro das Associações de artesãos. “Nossa preocupação é que, quando o Isa sair, o grupo possa dar continuidade ao trabalho, numa alternativa permanente de geração de renda”, disse a AmbienteBrasil Nilton Tatto, coordenador do Programa Vale do Ribeira do Instituto Socioambiental.

Por enquanto, o forte do mercado consumidor desse artesanato está em lojas de São Paulo (SP) e visitantes das feiras de que as associações participam.

Do ponto de vista ambiental, o uso dessa fibra tem dois méritos. Primeiro, ao garantir mais renda por cada bananeira – mediante o uso do cacho e do caule -, se contribui para diminuir a pressão pelo aumento da área de cultivo, leia-se desmatamentos. Em segundo lugar, em roças grandes, quando se retira o cacho, o caule fica jogado, apodrecendo e tornando-se potencial vetor de doenças. Ao dar-lhe um uso produtivo, esse problema é sanado.

As experiências com fibra de bananeira no Quilombo de Ivaporunduva foram tema de livro lançado em novembro de 2006 pelo Isa. A obra narra o passo-a-passo da extração da matéria-prima, como nasceu a idéia de recuperar a atividade para voltar a produzir objetos que estavam sendo substituídos por outros, industrializados; e o estímulo e o incentivo de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, que atuavam no Vale para tornar o artesanato uma alternativa de geração de renda para as comunidades.

O Instituto Socioambiental, o Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq e o Quilombo de Ivaporunduva realizam em conjunto, nos próximos dias 6 e 7, o seminário “Da Roça à Arte: Perspectivas de Políticas Públicas para o Artesanato com Fibra de Bananeira”.

O evento objetiva definir as principais limitações para esta atividade, discutir estratégias de viabilidade como alternativa sustentável de ocupação e renda e ocorrerá das 8h às 18h, no anfiteatro do Pavilhão de Engenharia.

Destinado a pesquisadores, artesãos e profissionais que trabalham com a fibra de bananeira, o seminário pretende definir os principais entraves para esse tipo de artesanato, dos pontos de vista econômico, social, cultural e ambiental.

(A foto da página inicial é meramente ilustrativa)