EXCLUSIVO: Retrospectiva 2010 – Acordos, manifestações e descobertas sobre as mudanças climáticas

Começou antes do que se imaginava… Com base em coleta, comparações e análise crítica das informações da literatura produzidas mundialmente sobre o tema, a advogada Aretha Sanchez, em sua tese de mestrado “Atividades humanas e mudanças climático-ambientais: Uma relação inevitável” afirmou que o aquecimento global começou antes mesmo da Revolução Industrial.

Um artigo publicado na revista “Science”, em 17 de junho, foi mais além e afirmou que um padrão global de mudança começou a se estabelecer há milhões anos, como pode-se ler em “Estudo liga gás carbônico a mudança climática há 2,7 milhões de anos”.

Diferente do que foi previsto… O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, IPCC, chegou a divulgar no relatório de 2007 que havia uma chance muito alta de que as geleiras do Himalaia desaparecem em 2035. O órgão se desculpou e retirou a citação do relatório de mais de 900 páginas.

Um relatório divulgado no final de janeiro pela Federação Nacional da Vida Selvagem relacionou o frio intenso do norte dos Estados Unidos às mudanças climáticas. A previsão incluía nevascas mais intensas.

No início de fevereiro secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Yvo de Boer, anunciou que 55 países, que são responsáveis por 78% das emissões globais de gases do efeito estufa, confirmaram as metas de redução nacionais dentro do prazo estabelecido pelo Acordo de Copenhague. Neste mesmo mês os Estados Unidos anunciaram o plano de criar uma nova agência federal exclusivamente dedicada às mudanças climáticas.

Em abril, setenta e cinco países responsáveis por mais de 80% das emissões de gases estufa gerados por uso energético assumiram o compromisso de cortar ou limitar suas emissões de carbono até 2020. Entre os países estavam o Brasil e a Índia, de acordo com a Convenção Climática das Nações Unidas.

No mês seguinte senadores americanos apresentaram o plano para as mudanças climáticas, projetando um corte de 17% nas emissões de CO2 para 2020 em comparação com os níveis de 2005, mediante a regulação da energia, da indústria e do transporte. “Finalmente podemos dizer ao mundo que os Estados Unidos estão prontos para assumir seu papel como líder mundial em energia limpa”, indicou o senador John Kerry, um democrata de Massachusetts e aliado do presidente Barack Obama.

Na véspera do feriado da Independência do Brasil o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, assinou quatro acordo de cooperação com a China, em Pequim, visando melhorar o acompanhamento das mudanças climáticas.

O Brasil criou um Fundo destinando recursos vindos da cadeia produtiva do petróleo para o financiamento de ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e seus efeitos. O decreto que regulamentou o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, FNMC ou Fundo Clima, foi assinado no dia 26 de outubro.

A Bolsa de Valores de São Paulo, BM&Fbovespa, também anunciou a criação de um índice que contemplará com peso maior ações de empresas com taxas baixas de emissão de dióxido de carbono, CO2. “O índice tem como objetivo trazer o item da mudança climática para dentro das empresas por meio de instrumento econômico, que é a Bolsa [de Valores]”, explicou a diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa, Sonia Favaretto.

Mais consequências

Especialistas em clima e saúde alertaram para o aumento de alergias e doenças causadas pelas conseqüências das mudanças no clima. Principalmente doenças transmitidas por mosquitos e problemas intestinais ligados à falta de água.

A América Latina pode sofrer com de acordo com o relatório “Desenvolvimento Mundial 2010: Desenvolvimento e Mudança Climática”, do Banco Mundial, apresentado em março na capital do Peru, Lima. Os efeitos sugerem a drástica extinção da floresta amazônica e uma escassez de água que afetará 77 milhões de pessoas na América Latina e Caribe em 2020.

As mudanças climáticas foram assunto, também, entre os índios. Um grupo de 20 jovens, supervisionados pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, elaborou a cartilha Mudanças Climáticas e Povos Indígenas, para distribuir nas aldeias da região do Amazonas. “Nós, que vivemos em aldeias, percebemos que as coisas já estão diferentes. Já não existe tanto alimento quanto antes”, afirmou a jovem indígena Maria Baré, da Aldeia Taperera.

Mais lixo espacial… Este pode ser mais um dos efeitos das mudanças climáticas. As camadas superiores da atmosfera atuam como freios em satélites desativados. Ao reduzir a velocidade desses satélites, as camadas altas da atmosfera fazem com que eles saiam de órbita, caiam e queimem, segundo um estudo de um pesquisador inglês.

Apagão ecológico

No dia 27 de março um movimento mundial chamou atenção para as mudanças climáticas. A “Hora do Planeta” foi organizada pela rede de ONGs WWF e convocou as pessoas, empresas e governos e apagarem as luzes das 20h30 às 21h30 do sábado. O movimento começou em 2007 na Austrália e ganhou adeptos em todo o mundo. Em 2010, 125 países participaram.

Pesquisas

Polêmicas sobre as causas e os efeitos das mudanças climáticas levaram um comitê de parlamentares britânicos a pedir mais transparência aos cientistas na hora de informar o público sobre as razões por trás das mudanças climáticas. O vazamento de e-mails de um cientista britânico em 2009 levantou suspeitas sobre manipulação de informações para exagerar a influência humana sobre o fenômeno.

No Brasil, uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Esalq, da Universidade de São Paulo, USP, avaliou o impacto das variações climáticas sobre a agricultura. O engenheiro agrícola Gabriel Constantino Blain, relacionou as chuvas e as temperaturas máximas e mínimas do Estado de São Paulo, nos últimos sessenta anos.

Os agricultores familiares serão mais afetados do que os grandes produtores, na avaliação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar, Consea.

Em Curitiba, no Paraná, o Seminário “Impactos das Mudanças Climáticas sobre Espécies e Ecossistemas: Lacunas de Conhecimento”, reuniu especialistas para debater o assunto, conforme publicado em “EXCLUSIVO: Especialistas discutem em Curitiba impactos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas”.

Cancun

Otimista, o governo brasileiro apostou em um acordo multilateral em favor da proteção climática na COP-16, realizada de 29 de novembro e 10 de dezembro em Cancún, no México. O país foi o primeiro entre os emergentes a fixar limite absoluto de CO2. Até 2020, o Brasil estará emitindo no máximo 2,1 bilhões de toneladas de CO2 por ano e fica obrigado a publicar anualmente estimativas do total de emissões do país, que facilitarão a verificação do compromisso assumido.

Durante o encontro os cientistas voltaram a alertar para os impactos das mudanças climáticas, que segundo eles já têm graves consequências em setores como agricultura e urbanismo, especialmente em regiões como a América Latina, onde quase 80% da população vive em cidades.

No dia 17 de dezembro a ONU pediu que os governos se apressem na redução de emissões. “Todos os países, mas em especial os industrializados, precisam aprofundar seus esforços de redução de emissões, e precisam fazê-lo rapidamente”, disse em comunicado a chefe do Secretariado da ONU para as Mudanças Climáticas, Christiana Figueres.