Muita coisa pode dar errado quando os furacões param. Seus ventos destrutivos duram mais. A onda de tempestade pode permanecer alta. E a chuva continua caindo.
Durante o furacão Sally, a Estação Aeronaval de Pensacola relatou mais de 600 mm de chuva enquanto o movimento para a frente da tempestade diminuía de velocidade ao longo da costa. Vimos efeitos semelhantes quando o decadente Furacão Harvey passou sobre Houston por quatro dias em 2017 e caiu até 60 polegadas de chuva em algumas áreas – isso é cerca de 1524 mm! O furacão Dorian desacelerou para aproximadamente 1,6 Km/h em 2019 quando seus ventos e chuva castigaram as Bahamas por dois dias.
Leia também:
A tempestade pós-tropical Beta foi a última tempestade estagnada, inundando as ruas de Houston enquanto se arrastava lentamente pela costa do Texas e finalmente se mudou para a Louisiana.
A pesquisa mostra que a paralisação se tornou mais comum para ciclones tropicais no Atlântico Norte desde meados do século 20 e que sua velocidade média de avanço também diminuiu.
Então porque isso acontece? Aqui estão as respostas para algumas perguntas que ouço como meteorologista sobre como os sistemas de tempestades se movem e por que às vezes eles diminuem de velocidade.
Por que algumas tempestades se movem rápido e outras lentas?
Os furacões são guiados pelos ventos ao seu redor. Chamamos isso de fluxo atmosférico. Se esses ventos estiverem se movendo rapidamente, eles moverão a tempestade rapidamente. Você pode imaginá-lo como uma folha flutuando em um riacho. Se o fluxo se move mais devagar, a folha se move mais devagar. Quando o fluxo muda, a folha gira.
O que o fluxo atmosférico está fazendo em um determinado local no dia a dia pode ser bastante variável. A rapidez com que uma tempestade se moverá depende de alguns fatores, como por exemplo se uma crista de alta pressão está próxima ou se há baixa pressão onde o ar flui no sentido anti-horário. E as correntes de direção podem enfraquecer se uma tempestade for pega entre diferentes tipos de fluxo.
Um fator que afeta o fluxo no Atlântico é um sistema de alta pressão chamado de alta das Bermudas. Muitos furacões que se formam a leste das Pequenas Antilhas são controlados pelo alto das Bermudas.
O que a mudança climática tem a ver com isso?
O Ártico está aquecendo cerca de duas vezes mais rápido do que as latitudes médias, onde a maior parte dos Estados Unidos está localizada. Isso está mudando a distribuição, ou gradiente, de temperatura entre o Ártico e as latitudes médias. E isso pode afetar as correntes de direção, como as associadas à alta das Bermudas.
Em média, a velocidade de avanço dos furacões está diminuindo. Simulações do comportamento de tempestades tropicais sugerem que essa desaceleração continuará à medida que as temperaturas médias globais aumentam, particularmente nas latitudes médias.
Uma atmosfera mais quente também significa que as tempestades podem gerar mais umidade. Conforme a temperatura aumenta, é mais fácil para a água evaporar. Imagine colocar sua roupa para secar em um dia quente em vez de um dia frio. Sua roupa vai secar mais rápido se estiver quente porque a água líquida pode se transformar em vapor com mais facilidade. Sua roupa também fica fria quando a água evapora, porque a evaporação é um processo de resfriamento. Em um furacão, acontece o oposto – o vapor d’água reverte para o estado líquido na forma de gotículas de nuvem, o que significa que a energia é liberada, e essa energia alimenta a tempestade.
Se uma tempestade diminuir e tiver acesso a mais umidade, ela pode despejar mais chuva e produzir uma tempestade maior devido à câmera lenta.
Por que as tempestades lentas são tão perigosas?
Quando um furacão se aproxima da terra, existem vários efeitos possíveis: o vento do próprio furacão, a chuva que o furacão produz e a tempestade que é impulsionada pelo furacão.
No interior, a chuva excessiva pode fazer com que as áreas baixas se encham de água e também leva a inundações de rios e riachos. Tempestades lentas significam períodos mais longos de chuva forte perto da costa, de modo que a enchente no interior, que se dirige rio abaixo, pode enfrentar a onda de tempestade, que se move rio acima, o que é assustador.
A Carolina do Norte viu isso em 2018, quando o furacão Florence empurrou uma onda de tempestade de três metros no rio Neuse, enquanto despejava mais de 1270 mm de chuva em grande parte do estado.
Por que é tão difícil prever um movimento lento?
Para prever uma tempestade, olhamos para o que chamamos de “orientação dinâmica” – modelos de computador que simulam a atmosfera e fazem uma previsão com base em nosso conhecimento de física. Os meteorologistas inserem variáveis como o vento atual, a temperatura e a pressão, e o computador usa esse ponto de partida para simular como o tempo poderia estar em horas ou dias no futuro.
Mas nossa imagem inicial da atmosfera não é perfeita, e o computador só pode funcionar com o que damos a ele. Cada modelo de computador também é um pouco diferente. Eles são todos baseados nas leis da física, mas as suposições que fazem e como recebem os dados podem variar de modelo para modelo.
Quando uma tempestade está se movendo lentamente, o que poderia ser uma pequena diferença na imagem atmosférica inicial, pode resultar em grandes diferenças nos próximos dias. Por quê? Quando as correntes de direção são fracas, como 8 km/h, uma diferença de velocidade de 3 km/h no fluxo inicial tem um impacto maior do que quando as correntes são fortes, então é mais fácil para os modelos produzirem previsões que acabam parecendo diferentes do que eventualmente acontece.
Fonte: The Conversation / Kimberly Wood
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: https://theconversation.com/what-makes-hurricanes-stall-and-why-is-it-so-hard-to-forecast-146804