Proteger o oceano tem um efeito de golpe triplo, salvaguardando o clima, os alimentos e a biodiversidade, de acordo com novas pesquisas.
Um mapa global compilado por cientistas internacionais aponta os locais prioritários de ação para maximizar os benefícios para as pessoas e a natureza.
Leia também:
Atualmente, apenas 7% do oceano está protegido.
A promessa de proteger pelo menos 30% até 2030 está ganhando impulso antes da cúpula da ONU sobre biodiversidade deste ano.
O estudo, publicado na revista científica Nature, estabelece uma estrutura para priorizar áreas do oceano para proteção.
O oceano cobre 70% da Terra, mas sua importância para resolver os desafios de nosso tempo foi negligenciada, disse o pesquisador Prof Boris Worm da Universidade Dalhousie em Halifax, Nova Escócia.
“Os benefícios são claros”, disse ele. “Se quisermos resolver os três desafios mais urgentes de nosso século – perda de biodiversidade, mudança climática e escassez de alimentos – devemos proteger nosso oceano.”
O que o estudo analisou?
O oceano sustenta uma teia única de vida e abriga valiosos recursos alimentares, enquanto atua como um sumidouro de gases de efeito estufa.
Os pesquisadores desenvolveram um algoritmo para identificar onde no mundo as proteções dos oceanos, como áreas marinhas protegidas e gestão responsável da pesca, poderiam proporcionar os maiores benefícios em três objetivos de proteção da biodiversidade, produção de frutos do mar e mitigação do clima.
Os locais foram mapeados para criar um “plano” que os governos possam usar no planejamento e na implementação de compromissos para proteger o oceano da pesca predatória e da destruição do habitat.
Em vez de um único mapa para a conservação dos oceanos, os pesquisadores criaram uma estrutura para os países decidirem quais áreas proteger, dependendo de suas prioridades nacionais.
Quanta proteção o oceano precisa?
A análise sugere que 30% é a quantidade mínima de oceano que o mundo deve proteger, a fim de fornecer vários benefícios à humanidade.
Isso se encaixa com a promessa de proteger 30% do mundo e da terra até 2030, à qual um número crescente de países se inscreveram, incluindo os EUA, Reino Unido, Canadá e a Comissão Europeia.
Muitos dos locais prioritários identificados na pesquisa estão sob a jurisdição de países que podem implementar políticas oceânicas proativas e sustentáveis, disse Jennifer McGowan, do Centro para Biodiversidade e Mudança Global da Universidade de Yale e da The Nature Conservancy (Conservação da natureza).
“Muitas vezes pensamos em proteção apenas como uma forma de salvar as baleias, mas os oceanos fornecem muito mais para nós – eles estão fornecendo alimentos para o planeta, fornecendo refúgios para espécies influenciadas pela mudança climática, além de ser um enorme reservatório de carbono, o que realmente importa para nosso clima “, disse ela à BBC News.
“O que esta pesquisa está sugerindo é que com um de nossos mecanismos mais fortes, que é a proteção do oceano, podemos ajudar a entregar bons resultados para todas essas coisas.”
As áreas prioritárias para proteção da biodiversidade incluem a Península Antártica, a Cadeia do Atlântico Médio, o Planalto de Mascarenhas e a Cadeia sudoeste do oceano índico.
O que o oceano faz pelo clima?
O estudo revelou pela primeira vez números sobre a quantidade de carbono liberado no oceano através da pesca de arrasto no fundo do oceano.
Esse método de pesca, que arrasta redes pesadas pelo fundo do oceano, está lançando um gigatonelada de emissões de carbono no oceano a cada ano, o equivalente a todas as emissões da aviação global, disseram os cientistas.
Se quisermos deter o aquecimento global, devemos deixar o leito marinho rico em carbono intocado, disse a Dra. Trisha Atwood, da Universidade Estadual de Utah.
“Nossas descobertas sobre os impactos climáticos da pesca de arrasto de fundo tornarão as atividades nas profundidades dos oceanos difíceis de ignorar nos planos climáticos futuros”, acrescentou ela.
O estudo constatou que a eliminação de 90% do risco atual de liberação de gases de efeito estufa, devido à pesca de arrasto de fundo, exigiria a proteção de apenas cerca de 4% do oceano, principalmente nas águas nacionais.
O estudo é financiado pela National Geographic Society e pela Fundação Leonardo DiCaprio.
Fonte: BBC News / Helen Briggs
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: https://www.bbc.com/news/science-environment-56430542