Os cortes são aplicáveis ao que “o Brasil emitiria se nada fosse feito” nos próximos 11 anos (mais uma vez na estimativa do governo, isso dá 2,7 bilhões de toneladas de gás carbônico). Se o objetivo brasileiro for alcançado, chegará ao fim do período emitindo 1,65 bilhão de toneladas de gases-estufa. Veja abaixo infográfico do G1 com as emissões e as metas de um grupo selecionado de países.
Também consultado sobre a existência de algum registro do raciocínio adotado para chegar às porcentagens brasileiras, o físico Luiz Pinguelli Rosa, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, recomendou que se procurasse o governo. Organizações ambientalistas confirmaram que os critérios permanecem misteriosos (uma delas usou o termo “caixa-preta”).
Assim, se você é um estudante e precisa entregar um detalhado trabalho de fim de ano sobre o tema, ou é um ambientalista, um parlamentar, um cidadão preocupado com a crise climática ou até mesmo funcionário do governo federal e quer saber como foram derivados objetivos tão precisos (afinal, os números têm até casa decimal), isso por enquanto é impossível. Ninguém no governo tem ou reconhece que tem em mãos tal estudo.
“É claro que existem contas por trás, há uma racionalidade”, explicou ao G1 na quinta-feira passada a diretora do departamento de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Branca Bastos Americano. “Mas não tem um lugar com isso publicado, não.”
Na quinta-feira (26) uma boa oportunidade para revelar a equação foi desperdiçada. O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, apresentou à Comissão do Meio Ambiente do Senado o tão esperado inventário atualizado de emissões do Brasil (uma versão preliminar).
Ele indica que a emissão de gases-estufa no Brasil cresceu 62% entre 1990 e 2005 e chegou a 2,2 bilhões de toneladas quatro anos atrás. Como atualiza as emissões vigentes em 1990 (1,36 bilhão de toneladas), é possível calcular que, se o Brasil de fato alcançar a meta voluntária, chegando a 1,65 bilhão de toneladas de gases-estufa em 2020, terá aumentado em 21,3% suas emissões em relação a 1990.
“(O intervalo de redução) foi projetado por alguém, segundo um determinado modelo”, diz André Ferretti, coordenador do Observatório do Clima. “Ninguém vai deixar de parabenizar por ter compromisso de redução, e por constar em projeto de lei, mas também é preciso apontar que não há documento que justifique aqueles números.”
O compromisso voluntário brasileiro será apresentado na Conferência do Clima das Nações Unidas sobre Mudança Climática, entre 7 e 18 de dezembro em Copenhague, capital da Dinamarca. (Fonte: G1)