O atraso nas negociações para fechar o documento que será assinado ao final da Rio+20 é resultado da pouca ambição por parte do governo brasileiro e da cautela de vários governos em não aumentar demais as expectativas sobre o resultado da conferência. É o que disse em entrevista exclusiva ao iG Mikkel Aaro-Hansen, vice-secretário do ministério do Meio Ambiente da Dinamarca, que está representando a presidência dinamarquesa da UE nas negociações em Nova York.
“Tanto o governo brasileiro quanto os líderes dos outros países não quiseram aumentar demais as expectativas sobre o que seria possível atingir na Rio+20. Eles temiam causar uma grande decepção internacional como a que tivemos durante a COP15, em Copenhagen”, disse Hansen. “Mas o exagero de cautela por parte dos brasileiros acabou gerando um documento pouco ambicioso”, explicou ele.
Um membro da delegação brasileira em Nova York rebateu às críticas. “É importante lembrar que o Brasil não está presidindo a produção do documento final da Rio+20. Esse é um processo que está sendo administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, e o Brasil só vai assumir essa cadeira a partir do dia 15 de junho, no Rio de Janeiro”, disse um diplomata ao iG.
Após a falência do evento que discutiu o aquecimento global em Copenhagen em 2009, o COP15, vários críticos disseram abertamente que o governo dinamarquês não havia sabido administrar as expectativas de que tipo de resultado o encontro poderia gerar.
Fortes divisões entre países desenvolvidos, países em desenvolvimento e os grupos que cada os representam forçaram a ONU a acrescentar uma rodada adicional de negociações nesta semana, para chegar a uma versão final do documento que será assinado na Rio+20 em junho. O secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon, deu um puxão de orelha nos negociadores presentes em Nova York. “Todo mundo já examinou esse documento microscopicamente. Agora o tempo acabou”, disse Ki-Moon, solicitando que o documento seja encerrado nos próximos dias.
Como parte dos esforços para aumentar o grau de ambição do texto a ser apresentado no Brasil, a União Europeia está solicitando que os outros países considerem a inclusão de objetivos e metas em vários parágrafos que, por enquanto, estão “amplos e pouco focados”, segundo o diretor geral para o Meio Ambiente da Comissão Europeia (o braço executivo da União Européia), Karl Falkenberg.
Ele apresentou cinco áreas que, segundo a UE, estão maduras o suficiente para serem melhor controladas ao redor do mundo: água, oceanos, recursos naturais, terras e energia. “Não queremos, nesse momento, criar limites para o uso desses recursos ou escrever regulamentações internacionais. Isso tem que ficar a cargo de cada país para fazer como preferir. Mas todos nós dividimos esses bens naturais, e todos nós sairemos perdendo se não cuidarmos deles”, afirmou Falkenberg.
A proposta da UE para o documento da Rio+20 é criar “metas abertas que possam inspirar os Estados a estipularem seus próprios limites”, segundo o diretor geral. Eles propõem, por exemplo, a criação de um parágrafo sobre a pesca nos oceanos que afirme: “até 2020, a pesca ilegal, desregulamentada ou secreta deverá ser eliminada através de instrumentos internacionais efetivos que já existem ou que virão a ser implementados”. Diversos países, como o Japão, o Canadá, a Noruega e metade do G77+China (o grupo dos países em desenvolvimento do qual o Brasil faz parte), discordam que esse parágrafo seja incluído no documento final.
“Simplesmente afirmar que a pesca irregular e ilegal tem que ser monitorada e diminuída não cria metas e torna o documento pouco ambicioso”, disse um diplomata europeu que acompanhava o vice-ministro dinamarquês.
Por outro lado, os diplomatas brasileiros, que passam quase todo o tempo das negociações realizando conversas bilaterais com outros países diretamente “para avançar as discussões mais rapidamente”, segundo um deles, se disseram otimistas quanto ao avanço do documento esta semana em Nova York. “Vai sair daqui um documento bem mais avançado, com menos colchetes”, afirmou o diplomata. As partes do texto de mais de quase 100 páginas que se encontram dentro de colchetes são as partes que ainda causam discórdia e que ainda deverão encontrar um consenso entre os países membros da ONU. Atualmente, a três semanas da Rio+20, pelo menos dois terços do texto inteiro estão dentro de colchetes. (Fonte: Carolina Cimenti/ Portal iG)