A produção de alimentos responde por até 29% das emissões humanas de gases do efeito estufa, o dobro do que a Organização das Nações Unidas (ONU) estimava, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira. A diferença ocorre porque a ONU avaliou apenas as emissões decorrentes da agricultura, ao passo que a entidade de pesquisas agrícolas CGIAR levou em conta também o desmatamento, a produção de fertilizantes e o transporte dos produtos agrícolas.
O relatório, intitulado “Mudança Climática e Sistemas Alimentares”, estima que a produção de alimentos gere 19% a 29% de todas as emissões humanas. A estimativa da ONU era de 14%. “Do ponto de vista alimentar, (a abordagem da ONU) não faz sentido”, disse Bruce Campbell, diretor do programa de pesquisas da CGIAR sobre mudança climática, agricultura e segurança alimentar.
Muitos países poderiam fazer uma economia significativa se reduzissem suas emissões, segundo ele. “Há boas razões econômicas para melhorar a eficiência na agricultura, não só para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.”
A China, por exemplo, poderia reduzir fortemente suas emissões se melhorasse a eficiência na fabricação de fertilizantes. Na Grã-Bretanha, seria mais vantajoso consumir carne de cordeiro importada de fazendas mais eficientes na Nova Zelândia, em vez de criar seus próprios animais.
Outra recomendação do relatório é para que o mundo altere sua dieta, dando preferência ao vegetarianismo. O cultivo de alimentos para vacas, porcos e ovelhas ocupa muito mais terras e emite mais gases do efeito estufa do que a manutenção de lavouras para consumo humano.
Outro relatório do CGIAR indica que a mudança climática deve reduzir nas próximas décadas a produtividade dos três produtos agrícolas que mais fornecem calorias à humanidade – milho, trigo e arroz – nos países em desenvolvimento.
Isso obrigaria alguns agricultores a optarem por cultivos mais tolerantes ao calor, a inundações e a secas, segundo o segundo relatório, intitulado “Recalibrando a Produção Alimentar no Mundo em Desenvolvimento”.
Cultivos mais resistentes, como inhame, cevada, feijão-fradinho, milheto, lentilha, mandioca e banana, podem preencher o espaço deixado por produtos mais sensíveis, diz o estudo.
“Os sistemas agrícolas mundiais enfrentam uma árdua luta para alimentar projetados 9 a 10 bilhões de pessoas em 2050. A mudança climática introduz um obstáculo significativo pra essa luta”, disse o texto. A população mundial atualmente está ligeiramente acima dos 7 bilhões.
O estudo diz também que o aquecimento global, atribuído por cientistas da ONU à atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, implica riscos para a produção alimentar além das lavouras, por gerar problemas também no armazenamento e transporte. (Fonte: Portal Terra)