Chegar a uma data marcante é sempre motivo de comemoração. Ainda mais quando o trabalho de três décadas é premiado com uma grande conquista. No último fim de semana, o Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), base da Marinha do Brasil em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio, comemorou 30 anos abrindo os portões para a população e anunciando a conquista da primeira patente, que foi registrada nos Estados Unidos (EUA).
O feito foi resultado de uma pesquisa inovadora para utilização de tintas marítimas anti-incrustantes, ou seja, que impedem a criação de crostas nos cascos das embarcações. Um detalhe importante é que o produto é isento de substâncias nocivas ao meio ambiente. O objetivo é que o produto seja disponibilizado no mercado para ser usado em navios e plataformas de petróleo.
“A criação de crostas nas embarcações, além de transportar organismos de uma região para outra, tornando esses organismos invasores onde eles chegam, também fazem com que as embarcações fiquem mais pesadas, gastando mais combustível. As tintas anti-incrustantes que existiam no mercado eram altamente nocivas ao ambiente, por isso foram proibidas. Desde 2007 iniciamos essa pesquisa, em parceria com a UFRJ, na tentativa de descobrir elementos naturais que tenham esse efeito. Separamos uma cadeia de esponjas e conseguimos sintetizar quimicamente a substância que tem essa ação anti crostas. Essa substância foi testada, teve bons resultados e foi patenteada nos Estados Unidos. Agora buscamos firmar parcerias com a indústria química para que esse produto possa ser desenvolvido e encaminhado para as fabricantes de tintas”, explicou o capitão-de-fragata William Romão, chefe do Grupo de Oceanografia Química e Geoquímica do IEAPM.
O instituto conta, ainda, com os grupos de Oceanografia Física e Biológica, de Geologia e Geofísica Marinhas, de Acústica Submarina e de Sensoreamento Remoto. Durante a programação do aniversário, que durou de sexta-feira (25) a domingo (27) – o aniversário foi comemorado no sábado (26) – uma das atrações foi a abertura dos portões para a comunidade. Segundo o comandante do IEAPM, o contra-almirante Oscar Moreira da Silva Filho, o objetivo é aproximar a comunidade.
“Muita gente sabe que existe um ‘quartel’ da Marinha em Arraial do Cabo mas não sabe o que a gente faz. Queremos explicar como fazemos nossas pesquisas e a importância do IEAPM entre os principais institutos de pesquisas no mar em todo o Brasil”, assinala o diretor.
Excelência até 2017 – A iniciativa foi comemorada por crianças e pais que aproveitaram a programação. Morador de Arraial do Cabo, Hilson Júnior aproveitou o domingo para levar a mulher e os filhos, Lucas, de 12 anos, e Pedro, de 9, até o local. Ele considera importante que as crianças tenham contato com o mundo das pesquisas.
“Isso desperta a curiosidade deles. Acho bom esse tipo de atividade para que comunidade tome ciência da importância desse instituto”, disse ele.
“Eu gostei mais de ver os plânctons iluminando as ondas do mar”, completou o filho Lucas sobre a experiência de ver os microorganismos em um microscópio.
Durante a visita, a população pôde acompanhar o início de um processo de revitalização do instituto. São três novos prédios em construção para a instalação de novos laboratórios.
“Além das melhorias na estrutura, estamos capacitando nossos pesquisadores com cursos e intercâmbios. Nosso objetivo é ter o reconhecimento da classe acadêmica como um instituto de excelência até 2017”, explicou o diretor Oscar Moreira Filho.
Projeto Cabo Frio – A história do IEAPM se mistura com a carreira profissional da bióloga Eliane Gonzales Rodriguez. Atual chefe do departamento de pesquisas, ela era uma estagiária quando viu o vice-almirante Paulo de Castro Moreira da Silva iniciar o Projeto Cabo Frio, que resultou na criação do instituto.
“Ele era um visionário e sempre quis mostrar a importância de conhecermos as riquezas do mar. Trabalhou muito para criar isso aqui e gostava de atrair os jovens para estudar e pesquisar sobre o oceano. Depois de 30 anos, tudo o que ele dizia ainda se mostra muito atual. Precisamos trabalhar para que a sociedade entenda a importância da preservação do mar”, conta a bióloga, analisando também o que mudou na rotina de trabalho desde então.
“Antes fazíamos as pesquisas de forma manual. Às vezes uma análise demorava meses. Hoje temos equipamentos de ponta e fazemos monitoramentos em tempo real”, completou.
O Projeto Cabo Frio – que resultou na criação do IEAPM – teve início em novembro de 1971, idealizado pelo vice-almirante Paulo de Castro Moreira da Silva, que na época exercia o cargo de Diretor do Instituto de Pesquisas da Marinha. O projeto tinha como objetivo a criação de uma instituição destinada a apoiar e executar estudos do mar e de seus recursos oceanográficos, físico-químicos e biológicos, estimulando a produção natural e promovendo a produção controlada de peixes, crustáceos, moluscos e algas, com o máximo aproveitamento das condições ambientais existentes na região.
Absorvendo a infraestrutura de pesquisa e capacitação técnica já existentes no Projeto Cabo Frio, foi criado em 26 de abril de 1984 o Instituto Nacional de Estudos do Mar (INEM). No ano seguinte teve sua denominação alterada para Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), em homenagem ao seu idealizador.
O local escolhido para instalação da sede não foi por acaso. As características geográficas da região de Cabo Frio, tais como a mudança de orientação da linha da costa, o estreitamento da plataforma continental e o vento predominante na direção nordeste, favorecem a ocorrência de um fenômeno conhecido como Ressurgência – afloramento de águas profundas, frias e ricas em nutrientes – conferindo à região condições meteorológicas e oceanográficas únicas e tornando Arraial do Cabo (na época distrito de Cabo Frio) uma área ideal para sediar uma instituição voltada à investigação das ciências e processos marinhos. (Fonte: G1)