Armazenar o CO2 debaixo da terra é, segundo os especialistas, uma técnica indispensável para a luta contra o aquecimento global, mas seus custos e a falta de estímulos financeiros dificultam sua colocação em prática.
“Há cerca de 50 milhões de toneladas já armazenadas, mas representam apenas 0,06% do que deveria haver antes de 2050”, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), recorda à AFP Isabelle Czernichowski-Lauriol, presidente emérita da CO2GeoNet, uma rede de 16 grupos de investigação europeus.
Além de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, a AIE acredita ser necessário enterrar 90 bilhões de toneladas de CO2 emitidas pela indústria para limitar o aquecimento a um máximo de 2°C em relação à era pré-industrial, o objetivo do comunidade internacional que se reunirá em dezembro em Paris para a conferência COP21.
Se a temperatura subir mais de 2°C, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC por sua sigla em Inglês) acredita que, em muitas partes do planeta, as populações não serão capazes de se adaptar.
Desta forma, faz-se necessário o CCS (sigla em inglês para a captura e armazenamento de CO2) para respeitar esse objetivo, especialmente porque em países como a China e a Índia as usinas de carvão, altamente poluentes, tardam a desaparecer.
Esta tecnologia envolve a captura de CO2 nas chaminés das indústrias e armazenamento em um local apropriado, com um poço de petróleo esgotado ou camadas profundas de água salina.
Nos anos 2000, foram lançados diversos projetos-piloto, mas o entusiasmo por esta técnica diminuiu, em parte por causa do custo e da falta de estímulos financeiros, tais como os impostos sobre as emissões de carbono.
“O custo é um dos principais obstáculos”, confirma Samuela Bassi da London School of Economics.
Em 2013, um enorme projeto na refinaria de Mongstad (Noruega) foi abandonado. E em 2014 o grupo energético sueco Vattenfall decidiu abandonar o armazenamento de CO2 depois de investir muito dinheiro.
Existem atualmente cerca de vinte grandes projetos de armazenamento industrial em curso ou prestes a começar.
“Há alguns anos, acreditávamos que teríamos 100 projetos operacionais em 2020, mas, no final, haverá apenas cerca de 30”, explica Isabelle Czernichowski-Lauriol.
De acordo com a pesquisadora, os únicos projetos rentáveis são aqueles associados a um poço de petróleo: o CO2 capturado é reinjetado nos poços antigos, onde os restos de petróleo bruto podem ser recuperados e, assim, cobrir o custo de armazenamento.
No Canadá, existem dois grandes projetos de armazenamento, uma na central de carvão de Boundary Dam, inaugurado em 2014, e outro chamado Quest, alimentado pela Shell.
Nos Emirados Árabes Unidos está prevista em 2016 a criação de um local de armazenamento, juntamente com uma fábrica de aço.
Existem também vários projetos na China, que ainda precisam ser aprofundados.
Além do financiamento, outro problema é identificar com precisão os potenciais locais de armazenamento para determinar “a quantidade de carbono que pode ser armazenado indefinidamente”, afirma Henri de Waisman, especialista em política climática no Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais (Iddri) em Paris.
Diante dessas dificuldades, as ONGs se opõem a esta técnica e consideram que seria melhor investir esse dinheiro em energia renovável e eficiência energética.
Mas, segundo Henri Waisman, “o CCS não será uma solução milagrosa, mas tampouco o é a eficiência energética”, para a qual “há a necessidade de um máximo de pesquisa nos próximos anos.” (Fonte: G1)