Um estudo do instituto de pesquisas Climate Accountability Institute, com sede nos Estados Unidos, diz que um grupo de 20 empresas é responsável por mais de um terço das emissões de gases causadores do efeito estufa em todo o mundo desde 1965. A estatal brasileira Petrobras aparece na lista, na 20ª posição.
Segundo a análise, publicada inicialmente pelo jornal britânico The Guardian nesta quarta-feira, as 20 empresas produtoras de petróleo, gás natural e carvão foram responsáveis por 480,16 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e metano liberados na atmosfera nesse período.
O montante representa 35% das emissões totais de combustíveis fósseis e cimento, que foram de 1,35 trilhão de toneladas.
O cálculo feito é baseado na produção anual de petróleo, gás natural e carvão relatada por cada empresa, e leva em conta as emissões desde a extração até o uso final do combustível.
A lista tem 12 empresas estatais e oito privadas (confira a relação completa abaixo), e é encabeçada pela estatal saudita Saudi Aramco, responsável pela emissão de 59,26 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente, o equivalente a 4,38% do total mundial no período analisado.
Em seguida aparecem a americana Chevron, com 3,20% do total, e a russa Gazprom, com 3,19%. A Petrobras responde por 8,68 bilhões de toneladas de carbono equivalente, o que representa 0,64% do total.
“Nós escolhemos 1965 como ponto inicial (da análise) porque pesquisas recentes revelaram que em meados dos anos 1960 o impacto climático dos combustíveis fósseis era conhecido por líderes industriais e políticos”, diz o autor do estudo, Richard Heede.
Responsabilidade
O estudo atualiza uma análise anterior de Heede sobre o papel das principais empresas de combustíveis fósseis nas mudanças climáticas. O pesquisador diz que essas empresas têm responsabilidade “moral, financeira e legal” pela crise climática e responsabilidade de ajudar a combater o problema.
“Apesar de consumidores globais, de indivíduos a empresas, serem os emissores finais de dióxido de carbono, nós nos concentramos nas empresas de combustíveis fósseis que, em nossa opinião, produziram e venderam esses combustíveis a bilhões de consumidores com o conhecimento de que seu uso conforme previsto vai piorar a crise climática”, diz Heede.
O pesquisador diz que as empresas que “valorizam sua licença social para operar” devem respeitar a ciência climática, gerenciar os riscos corporativos de acordo com isso e “se comprometer em reduzir a produção futura de combustíveis fósseis e suas emissões” em alinhamento com o Acordo de Paris.
Esse acordo tem o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Heede também diz que as empresas deveriam direcionar seus investimentos para combustíveis renováveis e de baixo carbono. “As empresas liderando essa transição irão prosperar, e as que ficarem para trás irão perecer”, afirma.
Resposta das empresas
A Petrobras disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que tem buscado aplicar em suas operações “tecnologias que têm como consequência direta a redução da intensidade de carbono, com resultados significativos já alcançados” (confira a nota completa no final da matéria).
Segundo comunicado da empresa, “desde 2008, já foram reinjetadas 9,8 milhões de toneladas de CO2 dos campos de pré-sal na Bacia de Santos”, e até 2025, “a companhia projeta reinjetar cerca de 40 milhões de toneladas de CO2”.
“Entre 2009 e 2018, foi evitada a emissão de mais de 120 milhões de toneladas de CO2, o que equivale a dois anos de emissões totais da Petrobras”, diz o comunicado.
No processo de reinjeção, o CO2 é separado do petróleo e do gás extraído do poço e reinjetado de volta, aumentando também a pressão interna o que acaba por induzir uma produção maior.
“Atualmente, a Petrobras apresenta, dentre as grandes produtoras de óleo e gás natural, o segundo melhor desempenho em emissões relativas (CO2/barril) nas atividades de exploração e produção”, diz o texto.
A empresa diz ainda que “assumiu o compromisso de crescimento zero das emissões operacionais no horizonte até 2025 (ano base 2015), mesmo com o aumento da produção, firmando metas de redução de intensidade de emissões de 32% na exploração e produção de petróleo e 16% no refino”.
Já a Chevron alegou que o estudo “está cheio de imprecisões e preconceitos”. Segundo a empresa, a pesquisa ignora a qualidade de vida gerada por combustíveis fósseis, como melhorias na saúde, no transporte e produção agrícola. Além disso, a Chevron classificou o estudo como “um exercício matemático tendencioso, mascarado de ciência (…) e ignora as emissões de CO² de fontes de combustíveis não fósseis, como práticas agrícolas e de gestão da terra.”
Em resposta ao The Guardian, a companhia disse que está “tomando medidas para enfrentar as mudanças climáticas investindo em tecnologia e oportunidades de negócio de baixo carbono que podem reduzir emissões de gases do efeito estufa enquanto continuam a produzir energia acessível, confiável e cada vez mais limpa para sustentar o progresso econômico e social”.
A empresa disse que apoia “um diálogo honesto” sobre como “equilibrar o fornecimento de energia para um mundo em crescimento, desenvolvimento econômico e o meio ambiente”.
A BBC News Brasil também entrou em contato com a Saudi Aramco e a Gazprom, que também encabeçam a lista, mas até o fechamento desta reportagem as empresas não haviam se pronunciado.
As empresas
Em bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente e percentual do total global.
1. Saudi Aramco (estatal, Arábia Saudita) 59,26 (4,38%)
2. Chevron (privada, EUA) 43,35 (3,20%)
3. Gazprom (estatal, Rússia) 43,23 (3,19%)
4. ExxonMobil (privada, EUA) 41,90 (3,09%)
5. National Iranian Oil Co (estatal, Irã) 35,66 (2,63%)
6. BP (privada, Reino Unido) 34,02 (2,51%)
7. Royal Dutch Shell (privada, Países Baixos e Reino Unido) 31,95 (2,36%)
8. Coal India (estatal, Índia) 23,12 (1,71%)
9. Pemex (estatal, México) 22,65 (1,67%)
10. Petróleos de Venezuela-PDVSA (estatal, Venezuela) 15,75 (1,16%)
11. PetroChina (estatal, China) 15,63 (1,15%)
12. Peabody Energy (privada, EUA) 15,39 (1,14%)
13. ConocoPhillips (privada, EUA) 15,23 (1,12%)
14. Abu Dhabi National Oil Co (estatal, Emirados Árabes Unidos) 13,84 (1,01%)
15. Kuwait Petroleum Corp (estatal, Kuwait) 13,48 (1,00%)
16. Iraq National Oil Co (estatal, Iraque) 12,60 (0,93%)
17. Total SA (privada, França) 12,35 (0,91%)
18. Sonatrach (estatal, Argélia) 12,30 (0,91%)
19. BHP Billiton (privada, Austrália e Reino Unido) 9,80 (0,72%)
20. Petrobras (estatal, Brasil) 8,68 (0,64%)
Íntegra da resposta da Petrobras
A Petrobras acompanha a evolução da ciência do clima e seus desdobramentos sobre os sistemas energéticos, sociais e econômicos há mais de 15 anos. A companhia monitora as oportunidades que as novas regulações e as inovações tecnológicas ensejam em termos de novos produtos e modelos de negócios.
Em suas operações, a Petrobras tem buscado aplicar tecnologias que têm como consequência direta a redução da intensidade de carbono, com resultados significativos já alcançados: desde 2008, já foram reinjetadas 9,8 milhões de toneladas de CO2 dos campos de pré-sal na Bacia de Santos. Até 2025, a companhia projeta reinjetar cerca de 40 milhões de toneladas de CO2. Entre 2009 e 2018, foi evitada a emissão de mais de 120 milhões de toneladas de CO2, o que equivale a dois anos de emissões totais da Petrobras.
Atualmente, a Petrobras apresenta, dentre as grandes produtoras de óleo e gás natural, o segundo melhor desempenho em emissões relativas (CO2/barril) nas atividades de exploração e produção.
A Petrobras assumiu o compromisso de crescimento zero das emissões operacionais no horizonte até 2025 (ano base 2015), mesmo com o aumento da produção, firmando metas de redução de intensidade de emissões de 32% na exploração e produção de petróleo e 16% no refino.
Adicionalmente, a Petrobras investirá, até 2023, US$ 350 milhões em linhas de pesquisa e desenvolvimento nas áreas de CCUS (Carbon Capture Utilization and Storage), biocombustíveis avançados, eólica offshore e energia solar.
Fonte: BBC