Após um ano no “gelo eterno”, o navio quebra-gelo alemão de pesquisa Polarstern (estrela polar, em alemão), que estava a milhares de quilômetros de distância de qualquer epicentro do coronavírus, acabou tendo a logística de sua expedição ao Ártico impactada pela pandemia.
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Revezamentos na tripulação não puderam ocorrer como planejado, navios de abastecimento atrasaram ou não puderam atracar, e voos de reconhecimento planejados para apoiar os cientistas no gelo não aconteceram porque o aeroporto de Svalbard, na Noruega, foi temporariamente fechado devido à pandemia.
Para alguns tripulantes da expedição MOSAiC (sigla em inglês para Observatório Flutuante Multidisciplinar para o Estudo do Clima do Ártico), o tempo passado a bordo pode ter parecido ainda mais longo devido às difíceis opções de comunicação. Além disso, os pesquisadores tiveram que trabalhar metade do tempo na noite polar, quando a escuridão nessa região se estende por semanas, 24 horas por dia.
Como despedida, o time de pesquisadores, de diferentes partes do globo, tirou uma foto junto – e nesta terça-feira (22/09) foi dada a largada para a viagem de retorno.
Maior expedição ao Ártico já organizada
O navio de pesquisa é aguardado ansiosamente de volta ao seu porto de origem, Bremerhaven, na Alemanha, em 12 de outubro. O navio quebra-gelo partiu de Tromsø, na Noruega, em 20 de setembro de 2019.
Sob a direção do Instituto Alfred Wegener de Pesquisa Polar e Marinha em Bremerhaven (AWI, na sigla em alemão), se agarrou num bloco de gelo durante quase um ano, só se movimentando quando se deixava levar pela corrente do gelo flutuante. O objetivo era realizar medições extensas no gelo, no oceano e na atmosfera.
De acordo com o AWI, mais de 70 institutos de pesquisa de quase 20 países e centenas de pesquisadores estiveram envolvidos nessa que é a maior expedição ao Ártico já organizada. Os pesquisadores esperam que as pesquisas forneçam novos dados sobre as mudanças climáticas do mundo. A avaliação real de todos os dados só deve começar após o retorno da expedição.
Mudanças climáticas sentidas imediatamente
Antes mesmo da análise dos dados, os pesquisadores já avaliam que as mudanças climáticas estão afetando o Ártico numa escala alarmante. De acordo com o AWI, novas ondas de calor já teriam afetado o gelo tanto de cima quanto de baixo e derretido uma grande área. Nenhuma outra região do mundo está aquecendo mais rápido do que o Ártico.
O Centro de Dados Nacional de Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC, na sigla em inglês), em Boulder, Colorado, anunciou na terça-feira que o gelo marinho no Ártico havia encolhido para a segunda menor extensão desde que as medições começaram, há cerca de 40 anos. Com 3,74 milhões de quilômetros quadrados, o mínimo para este ano provavelmente foi atingido na semana passada, de acordo com as autoridades americanas.
“Foi um ano louco no norte, com o gelo do mar perto de um mínimo recorde, ondas de calor de quase 40 graus na Sibéria e grandes incêndios florestais”, disse o chefe do NSIDC, Mark Serreze. “O ano de 2020 será um ponto de exclamação em uma tendência de baixa na expansão do gelo marinho do Ártico. Estamos caminhando para um Oceano Ártico sazonalmente livre de gelo e este ano foi mais um prego no caixão.”
Ao partir de Tromsø, na Noruega, o Polarstern já havia navegado por uma área marítima na qual os quebra-gelos costumavam enfrentar dificuldades para cruzar o gelo espesso que encobria o mar. Em setembro passado, o navio precisou de apenas seis dias para chegar ao Polo Norte.
“Às vezes tínhamos mar aberto até onde a vista alcançava”, disse o líder da expedição MOSAiC, Markus Rex, referindo-se à área geralmente coberta por espesso gelo marinho. “Eu nunca tinha experimentado isso antes tão ao norte”, acrescentou o capitão do Polarstern, Thomas Wunderlich.
Fonte: Deutsche Welle