O Brasil finalmente possui seu primeiro plano de vacinação contra a covid-19.
O Ministério da Saúde acaba de anunciar um rascunho de como deve ser a imunização contra o coronavírus responsável pela pandemia atual. A tendência é que a campanha se inicie a partir do primeiro trimestre de 2021.
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De acordo com a pasta, estão previstas quatro etapas que abrangem diferentes grupos prioritários:
– Primeira fase: trabalhadores da saúde, pessoas com mais de 75 anos, indivíduos acima dos 60 anos que vivem em instituições de longa permanência (asilos e hospitais psiquiátricos) e população indígena.
– Segunda fase: pessoas com 60 a 74 anos.
– Terceira fase: pessoas com doenças que representam risco para agravamento da covid-19 (como portadores de problemas cardiovasculares e renais).
– Quarta fase: professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade.
Claro que todo esse planejamento dependerá dos resultados de eficácia e segurança das vacinas mais adiantadas e, também, da aprovação desses produtos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
Os grupos podem mudar, por exemplo, se uma vacina liberada não tiver dados suficientes de eficácia e segurança num determinado público, como idosos acima de 75 anos. É possível, portanto, que esse projeto apresentado hoje passe por alterações até a sua versão final.
Como suprir a demanda?
O ministério calcula que 109,5 milhões de brasileiros serão vacinados nessas quatro fases. Como a maioria das vacinas precisa de duas doses para surtir efeito, isso significa uma necessidade superior a 218 milhões de ampolas, seringas e outros materiais necessários nos postos de saúde.
Boa parte dessa necessidade poderá ser garantida pelo acordo do ministério para a compra e fabricação de 100,4 milhões de doses vacina que está sendo desenvolvida e avaliada pela farmacêutica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Outra fonte importante de imunizantes poderá ser a Covax Facility, uma aliança feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir a chegada desses produtos aos países menos desenvolvidos. O Brasil é um dos participantes do projeto e garantiu 42,5 milhões de doses por meio desta iniciativa.
Para fechar a conta dessas primeiras quatro etapas, faltariam cerca de 80 milhões de doses. Em nota enviada à imprensa, o ministério afirma estar fazendo reuniões com outros laboratórios cujos imunizantes estão avançados, como Pfizer/BioNtech, Moderna e Instituto Gamaleya.
Tarde de reuniões
Esse primeiro esboço do plano nacional de imunização contra a covid-19 foi anunciado após um longo encontro hoje à tarde no Ministério da Saúde, que reuniu representantes de diferentes instituições relacionadas ao tema.
Além dos líderes da pasta, outras entidades que participaram da reunião foram a Anvisa, o Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz, o Instituto Butantan, o Instituto de Tecnologia do Paraná, a ONG Médicos Sem Fronteiras, os conselhos das secretarias estaduais e municipais de saúde, várias sociedades médicas e os conselhos nacionais de diversas categorias de profissionais da saúde.
Depois da reunião, o ministério publicou um vídeo em seu canal no YouTube com um pequeno resumo do que foi discutido. Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde, disse que o governo federal não descarta a adoção de nenhuma das candidatas neste momento.
“O que nós queremos é uma vacina que seja registrada na Anvisa e que mostre a eficácia e a segurança necessárias que a população brasileiro precisa, de modo que não exista descarte ou abandono de nenhuma vacina que se encontre em fase 3 no Brasil”.
Em outro trecho, o secretário destaca a importância do planejamento apresentado.
“A partir de hoje, o Brasil começa sim a pensar de maneira mais concreta sobre a vacinação para a covid-19“.
Campanhas informativas
Outro destaque do vídeo apresentado por Medeiros é o lançamento de campanhas de comunicação voltadas à população sobre a imunização contra a covid-19. De acordo com as informações apresentadas até o momento, o ministério dividiu esse projeto em duas etapas.
“A primeira fase é de esclarecimento, onde serão ministrados vários vídeos na televisão, na rádio, nas mídias sociais esclarecendo como será a vacinação, o que é e qual a sua segurança”.
A segunda parte será a campanha de imunização propriamente dita, quando as doses estiverem disponíveis para os grupos prioritários.
Concorrência acirrada
As vacinas contra a covid-19 mais avançadas do momento são as candidatas feitas por Pfizer/BioNtech e por Moderna. Utilizando uma tecnologia inédita, essas farmacêuticas já apresentaram resultados preliminares com uma eficácia superior a 90%, número considerado ótimo.
Uma taxa parecida foi obtida pela Sputnik V, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya de Pesquisa, da Rússia.
Outro a apresentar dados iniciais foi o imunizante de AstraZeneca/Universidade de Oxford, que já possui acordo com o Ministério da Saúde. Nesse caso, a eficácia variou entre 62 a 90%, de acordo com o esquema de doses adotado.
Essa concorrente, porém, se envolveu em algumas polêmicas na semana passada, quando os responsáveis pela pesquisa admitiram alguns erros na pesquisa. Serão necessários novos testes clínicos por aqui, o que pode atrasar um pouco a sua liberação.
Por fim, há duas outras vacinas que devem apresentar novidades nas próximas semanas. A primeira delas é a CoronaVac, feita pelo laboratório chinês Sinovac, que tem parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. A segunda é a JNJ-78436735, da Johnson & Johnson, que também é testada em voluntários brasileiros.
Fonte: BBC