Altos funcionários da ONU que trabalham para preservar o mundo natural estão pedindo “ação agora” antes de uma cúpula crucial sobre biodiversidade nesta semana, onde os líderes mundiais reafirmarão seu compromisso com a causa.
“Não temos tempo a perder. A perda da biodiversidade e da natureza está em um nível sem precedentes na história da humanidade”, disse Elizabeth Mrema, secretária-executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica. “Somos a espécie mais perigosa da história global.”
Leia também:
A Convenção sobre Diversidade Biológica é um tratado internacional firmado na Cúpula da Terra das Nações Unidas realizada no Brasil em 1992. Tem três objetivos: a conservação da diversidade biológica; o uso sustentável da natureza; e a repartição justa e equitativa dos benefícios decorrentes da ciência genética.
Sob a convenção, os países concordaram em 2010 com as Metas de Biodiversidade de Aichi – um grupo de 20 metas para conservar a biodiversidade que vão desde a preservação de espécies até a redução do desmatamento até 2020. As metas de Aichi são para a biodiversidade o que o acordo climático de Paris é para o aquecimento global.
Os países tinham até este ano para atingir as metas e, então, avançar para a criação de uma estrutura de biodiversidade global pós-2020. Mas, apesar de algum progresso, as metas – que vão desde impedir a extinção de espécies até o corte da poluição e a preservação das florestas – não foram alcançadas.
“Se você olhar o cartão de pontuação, como um boletim escolar, o valor mais alto está abaixo de 30% do progresso”, disse Mrema. “Nenhuma meta de Aichi será totalmente atingida, de modo que falhamos nas 20 metas de 10 anos.”
As discussões estão em andamento para uma nova estrutura que se baseie nessas falhas, disse Mrema. O documento ainda está em um estágio inicial, sendo revisado em consultas informais, mas precisa estar pronto para adoção na 15ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, que ocorre na China em 2021.
Uma das principais diferenças entre as Metas de Biodiversidade de Aichi e a estrutura pós-2020 será a implementação. Depois de Aichi, alguns países tiveram que criar estratégias nacionais para agir de acordo com as metas, que estão agora em vigor. “Não estamos pedindo a reinvenção da roda, então, basicamente, a implementação deve começar imediatamente”, disse Mrema. A nova estrutura também incluirá recursos como transferência de tecnologia e capacitação, que não foram considerados prioridades em Aichi.
Para criar impulso para esta nova forma de viver com a natureza, o presidente da Assembleia Geral da ONU vai convocar a Cúpula sobre Biodiversidade nesta quarta-feira (30), onde os líderes mundiais devem declarar os compromissos de seus países com a natureza e um quadro de biodiversidade pós-2020.
“Eles não vão dizer: ‘Vamos continuar no caminho da destruição’. Eles vão dizer: ‘Vamos entrar no caminho da sustentabilidade'”, disse Inger Andersen, chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Andersen, falando ao lado de Mrema no SDG Media Zone, destacou outras vozes que serão ouvidas esta semana no Salão da Assembleia Geral e nas chamadas sessões de diálogo com líderes, que enfocarão o desenvolvimento sustentável e a ciência e tecnologia.
Energia jovem
“Assim como no movimento climático, e depois na Cúpula de Ação Climática, vimos a energia que os jovens trazem para dentro, para a sala, para a rua, nas mesas de jantar, em casa, na sala de aula e, eventualmente, da cabine de votação”, disse Andersen sobre a inclusão dos jovens nas discussões da semana.
“Essa é uma energia que queremos ver também para a natureza e a biodiversidade.”
Ela destacou a voz dos povos indígenas, chamando-os de “defensores ambientais”, “partidários da natureza” e “detentores do conhecimento” cuja “voz, na ONU e fora dela, é irreprimível e essencial”.
A semana contará com a participação do setor privado e destacará a necessidade de incentivar a agricultura a se alinhar de forma mais eficaz com a preservação da biodiversidade.
“Nossas práticas agrícolas precisam mudar para melhor, e isso significa que a grande agricultura tem uma tarefa a fazer em sua lista em termos de como fazemos isso, e os legisladores têm um item a fazer para ajudá-la a mudar.”
Embora esses altos funcionários da ONU esperem uma forte participação de uma variedade de grupos, a voz mais importante são os fortes compromissos dos chefes de Estado que têm a capacidade de direcionar mudanças políticas. “É hora de ação. E de entender, portanto, que o que os chefes de Estado disserem realmente importará, porque as gerações futuras os julgarão”, disse Anderson, ecoando Mrema.
Fonte: ONU