Os povos indígenas sofreram desproporcionalmente com os impactos econômicos da COVID-19, mas possuem conhecimento essencial para a reconstrução de um mundo mais sustentável e resiliente pós-pandemia, livre da pobreza e da fome. Esta é a avaliação do presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola da ONU (FIDA), Gilbert F. Houngbo, feita na abertura da quinta reunião global do Fórum dos Povos Indígenas .
“A COVID-19 devastou a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Mas essa terrível praga também nos leva a procurar maneiras de viver de forma mais harmoniosa com a natureza”, disse Houngbo. “Sabemos que a única maneira de conseguir isto é unindo forças com os povos indígenas, que são os guardiões tanto da natureza quanto de um vasto conhecimento tradicional em todo o mundo.”
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O encontro bienal, realizado virtualmente neste ano até 4 de fevereiro, tem como tema “O valor dos sistemas alimentares indígenas: a resiliência no contexto da pandemia da COVID-19″. Realizado pelo FIDA, o evento reúne 154 líderes indígenas de 57 países, além de representantes de organizações de desenvolvimento e governos, para discutir sistemas alimentares indígenas e a resiliência que demonstraram em face da COVID-19, e como enfrentar desafios e avançar. .
Em mensagem, o Papa Francisco disse que é necessário “promover o desenvolvimento sem abraçar o consumismo como meio e fim; significa realmente cuidar do meio ambiente para ouvir, aprender e respeitar.” O Papa acrescentou: “Somente nesta humildade de espírito venceremos definitivamente a fome e alcançaremos uma sociedade baseada em valores duradouros, que fluem não de tendências de passagem unilateral, mas sim de justiça e bondade.”
Entre os participantes estava Margaret Tunda Lepore, integrante dos povo Maasai, na África Oriental, que disse que a situação de sua comunidade piorou devido à pandemia, o que “representa sérias ameaças às economias nativas, cujos modos de vida já estão comprometidos pelos vários desafios colocados pelas mudanças climáticas e pela posse da terra”. Ela acrescentou: “A presença dessa pandemia tornou os povos indígenas mais vulneráveis e marginalizados do que antes.”
A pandemia da COVID-19 representa uma grave ameaça aos povos indígenas em todo o mundo e está afetando desproporcionalmente suas comunidades, exacerbando as desigualdades estruturais de base e a discriminação generalizada. O acesso a alimentos e água segura diminuiu, as economias locais e tradicionais foram interrompidas.
À medida que os bloqueios continuam em inúmeros países, comunidades indígenas cujos direitos de terra são negados ou que não têm autodeterminação em seus territórios não são capazes de exercer controle sobre sua produção de alimentos, perdendo seus meios de subsistência e reduzindo sua capacidade de se sustentar.
No entanto, os povos indígenas têm aplicado suas próprias soluções para lidar com a pandemia. Seu estilo de vida, sistemas alimentares, cultura e conexão com a terra têm sido uma grande fonte de resiliência diante da COVID-19.
Eles têm agido usando seus próprios conhecimentos e práticas tradicionais, incluindo isolamento voluntário e bloqueio de acesso a território, bem como fazendo uso de medidas de cuidados preventivos em suas próprias línguas, a fim de manter suas comunidades vivas.
“Vocês têm mostrado como a resiliência precisa ser construída a partir das bases, incorporando o melhor do conhecimento tradicional e mantendo a conexão com a natureza “, disse Houngbo. “Trazer conhecimentos e práticas indígenas para sistemas alimentares globais pode estimular soluções novas e criativas para os desafios que enfrentamos, especialmente quanto às mudanças climáticas. E isso pode ajudar a acabar com as más práticas, que prejudicam os povos indígenas e a natureza.”
Os povos indígenas desempenham um papel fundamental como guardiões do meio ambiente, com 80% da biodiversidade remanescente do mundo encontrada em seus territórios.
O Fórum dos Povos Indígenas vai até 4 de fevereiro, seguido pela Semana Indígena (8 a 12 de fevereiro), com diálogo sobre conservação da biodiversidade.
O FIDA apoia projetos com foco nos povos indígenas para garantir a proteção, promoção, reintrodução ou revitalização de variedades tradicionais locais de culturas, sistemas alimentares, sistemas de sementes, agrobiodiversidade e sistemas agroecológicos. Desde o início de suas operações, há quatro décadas, o FIDA aprovou 245 projetos de apoio a pelo menos 42 milhões de indígenas.
O evento é aberto para a imprensa e pode ser acompanhado aqui.
Fonte: ONU