Uma nova pesquisa feita por cientistas da Universidade de Cambridge e do serviço de meteorologia Met Office, ambos no Reino Unido, mostra que as mudanças climáticas causadas por ação humana gerarão impactos sobre a forma como gases vulcânicos interagem com a atmosfera.
Publicado na última quinta-feira (12) na revista Nature Communications, o estudo informa que o aumento da temperatura terrestre deve intensificar os efeitos de resfriamento gerados por grandes erupções. Por outro lado, os impactos causados por pequenas e médias erupções podem encolher em até 75%.
O que acontece é que quando a atmosfera aquece devido às mudanças climáticas, as plumas de cinzas e gases emitidas por grandes erupções ficam cada vez maiores, e os aerossóis de sulfato vulcânico são mais rapidamente transportados para latitudes mais altas. A união desses fenômenos faz com que a neblina criada pelos aerossóis impeça a luz solar de atingir a superfície da Terra e, consequentemente, gere um resfriamento temporário no planeta.
Em 1992, por exemplo, após o Monte Pinatubo, nas Filipinas, entrar em erupção no ano anterior, as temperaturas globais caíram até 0,5ºC. A pluma da erupção atingiu mais de 30 quilômetros no céu e criou uma camada de neblina ao redor da Terra.
O efeito dos aerossóis vulcânicos persiste por pouco tempo — de um a dois anos. Por sua vez, as emissões antropogênicas têm potencial para afetar o clima por séculos. “Mesmo que os vulcões tenham uma influência limitada no clima em comparação com as emissões humanas de gases de efeito estufa, eles são uma parte importante do sistema”, contrapõe Thomas Aubry, autor principal do estudo, em comunicado.
A partir de modelos climáticos e modelos de pluma vulcânica, os pesquisadores buscaram entender de que forma um evento influencia o outro. Em relação às grandes erupções, que são mais raras e acontecem uma ou duas vezes por século, as mudanças climáticas estimulam a altura até onde a pluma sobe e a rapidez com que os aerossóis se espalham pelo planeta, amplificando os efeitos de resfriamento em 15%.
Já as erupções de tamanho moderado, que têm maior frequência — cerca de uma vez por ano —, vão observar seus impactos reduzindo em 75%. Segundo os autores, pesquisas indicam que a altura da fronteira entre a troposfera e a estratosfera deve aumentar, e isso dificulta que as plumas vulcânicas atinjam a camada onde elas se espalham. Ao serem mantidos na troposfera, os aerossóis são lavados pelas chuvas e há uma redução de impactos climáticos desse tipo de erupção.
Os cientistas pretendem continuar investigando não apenas a mecânica por trás do aumento da pluma vulcânica e do ciclo de vida dos aerossóis, mas também o modo como o derretimento de geleiras e precipitação extrema, por exemplo, poderão modificar os futuros efeitos climáticos de erupções.
As alterações na frequência e magnitude das explosões também serão acompanhadas de perto. “A mudança climática não é algo que está por vir – ela já está aqui, como claramente demonstrado pelo relatório do IPCC”, afirma a coautora Anja Schmidt, do departamento de geografia de Cambridge.
Fonte: Galileu