Substituir 20% da carne de gado consumida no planeta por uma proteína feita de microrganismos, como fungos, até o ano de 2050, pode reduzir pela metade o desmatamento e as emissões de CO2 vindas do uso da terra. É o que mostra um estudo publicado em 4 de maio na revista Nature.
Realizada pelo Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático (PIK), na Alemanha, a análise demonstra que consumir proteínas alternativas, com textura semelhante à carne de gado, pode ajudar a diminuir a derrubada de florestas. Isso porque a vegetação é cada vez mais desmatada para pastagens ou cultivo de ração que alimenta animais de abate.
“O sistema alimentar está na raiz de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, sendo a produção de carne de ruminantes a maior fonte”, destaca Florian Humpenöder, principal autor do estudo, em comunicado.
Por meio de uma simulação computacional, os pesquisadores detectaram os efeitos ambientais de todo o sistema alimentar e agrícola até 2050. Eles consideraram fatores como o crescimento populacional, a demanda por alimentos, os padrões alimentares, além da dinâmica do uso da terra e da agricultura.
Os autores dizem que o consumo de carne de animais provavelmente continuará aumentando no futuro, o que poderá levar à extinção de mais e mais florestas e vegetações. Porém, se o planeta substituísse 20% da carne de ruminantes por proteína microbiana, a Terra passaria por menos apertos.
Humpenöder cita que cairiam as emissões de metano do rúmen (primeiro compartimento do estômago do gado) e a diminuiria a liberação de óxido nitroso da fertilização da ração ou do esterco. “A substituição da carne de ruminantes por proteína microbiana no futuro poderia reduzir consideravelmente a pegada de gases de efeito estufa do sistema alimentar”, afirma o cientista.
Segundo o pesquisador, a boa notícia é que as pessoas não precisam ter medo de comer apenas verduras no futuro. Elas poderão continuar comendo hambúrgueres e outros alimentos proteicos — só que esses serão produzidos de modo diferente. Assim como a cerveja e o pão, a proteína microbiana é feita em culturas específicas, onde micróbios vivem de açúcar e em uma temperatura constante.
O resultado é um produto muito rico em proteínas que pode ter gosto, sabor e ser tão nutritivo quanto a carne vermelha. Conforme explica Isabelle Weindl, coautora do estudo, mesmo que o açúcar sirva de matéria-prima para essa carne, a produção requer muito menos terras agrícolas em comparação com o produto de origem animal.
“Existem basicamente três grupos de análogos de carne. Existem produtos à base de plantas, como hambúrgueres de soja, e células animais cultivadas em uma placa de Petri, também conhecida como carne cultivada, que até agora é muito cara, mas recebeu muita atenção do público recentemente”, cita Weindl. “E há a proteína microbiana derivada da fermentação, que consideramos mais interessante.”
Alexander Popp, líder do grupo Land Use Management do PIK, considera que as alternativas, incluindo os substitutos para produtos lácteos, podem “beneficiar massivamente o bem-estar animal, economizar água e evitar a pressão de ecossistemas ricos em carbono e biodiversos”.
Porém, é preciso adequar a produção, garantindo fornecimento de energia para o processo de fermentação, por exemplo. “Uma transformação em grande escala para alimentos biotecnológicos requer uma descarbonização em larga escala da geração de eletricidade para que o potencial de proteção climática possa ser totalmente desenvolvido”, diz Popp. “Se fizermos isso corretamente, a proteína microbiana pode ajudar os amantes da carne a abraçar a mudança”.
Fonte: Galileu