Mônica Pinto / AmbienteBrasil
Dessa segunda-feira até ontem, foi realizado em Curitiba (PR) o I Seminário Internacional de Aquecimento Global nas Cidades, promovido pelo Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getulio Vargas (ISAE/FGV), em parceria com a Prefeitura da capital paranaense e o Global Compact – iniciativa desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional “para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, trabalho e meio ambiente”.
No evento, palestrantes do Brasil, Estados Unidos, França e Alemanha analisaram como o planejamento urbano poderá minimizar o efeito do aquecimento global nas cidades.
Um dos debatedores no Seminário foi o cientista José Roberto Moreira, professor da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Centro Nacional de Referência em Biomassa, organização que trouxe para o Brasil o primeiro ônibus movido a etanol.
AmbienteBrasil fez a ele três perguntas.
AmbienteBrasil – O senhor afirmou no evento em Curitiba que “Uma cidade pode ficar despoluída 30% a 40% com biodiesel, mas 100% com o etanol”. De que maneira esse propósito pode se tornar realidade?
José Roberto Moreira – No caso de uso de biodiesel, a expectativa é usar sempre uma mistura biodiesel/diesel. Fala-se em misturas até B20, ou seja 20% biodiesel – 80% diesel. Isso é um limite por problemas técnicos nos motores e pela enorme área agrícola para produzir óleo de soja – para o programa atual B2 precisamos de um milhão de hectares.
No caso do etanol com aditivo, substituímos todo o diesel. A poluição com o biodiesel decorre da presença de diesel. No nosso produto, não temos diesel e assim reduzimos o SOx (enxofre) em 100%. Outros poluentes como os particulados se reduzem em 80%. Como o etanol é renovável e consome pouca energia na sua produção, as emissões de CO2 se reduzem em 84%.
AmbienteBrasil – Como se chegou ao primeiro ônibus movido a etanol do Brasil? Ele está circulando onde? Após quanto tempo se poderá verificar a total eficiência do veículo?
José Roberto – Eu não desenvolvi o ônibus. Ele foi desenvolvido na Suécia há 16 anos e roda lá há 15 anos. Hoje existem 600 ônibus na Suécia. O que eu fiz foi arrumar recursos da União Européia e de parceiros brasileiros para trazer e montar um ônibus em São Paulo. Ele está rodando numa linha de transporte coletivo desde dezembro de 2007.
Nossa única motivação é chamar a atenção das autoridades do Brasil sobre o produto. Ele é tecnicamente viável e economicamente viável no período de safra da cana, quando o preço dela abaixa bastante, pelo menos no Estado de São Paulo.
Na entressafra, precisamos de subsídio, mas o produto é mais barato que o biodiesel. Vamos rodar em São Paulo por mais 18 meses só para demonstrar que a tecnologia é confiável.
AmbienteBrasil – A preocupação de muitos é que o crescimento da demanda acabe tendo impactos sobre os ecossistemas brasileiros e na produção de alimentos, sob a lógica do bom lucro dos plantios de cana num futuro próximo. O senhor admite esse risco? Como minimizá-lo?
José Roberto – Num mundo capitalista, os produtores sempre se interessam pelos produtos que dão mais lucro. O que pode ser feito é o zoneamento agrícola que limita as áreas para alimento e energia. Também o Governo pode criar impostos sobre o combustível e transferir esses recursos para subsidiar o plantador de alimentos. Portanto, há risco, mas o Governo tem as ferramentas para evitá-los.