Realizar uma Copa do Mundo “verde” é uma promessa do Brasil, que busca construir estádios ambientalmente sustentáveis e prepara ações para alavancar a reciclagem, a coleta seletiva, os produtos orgânicos e os parques. Mas resolver entraves ambientais de anos parece ser uma missão difícil.
Ao mesmo tempo em que busca construir ou reformar estádios utilizando o reaproveitamento da água, o uso da energia solar, a reciclagem e a ventilação natural, o Brasil tenta superar problemas como os aterros, a sujeira das cidades, o esgoto não tratado, a drenagem e os altos índices de desmatamento e emissões de gases poluentes.
“O Brasil é um país com liderança na área ambiental e também é reconhecido como uma grande potência de biodiversidade mundial, então o Brasil tomou a decisão de que essa vai ser uma agenda forte na Copa. Isso é uma prioridade”, disse à Reuters Claudio Langone, coordenador da câmara temática do meio ambiente e sustentabilidade, uma das nove criadas para a Copa do Mundo de 2014, ligada ao Ministério Esporte.
Desde a Mundial da Alemanha em 2006 a Fifa recomenda que os países-sede tenham uma preocupação ambiental na preparação das competições, e o Brasil pretende fazer uma Copa “verde”, como anunciou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julho, no lançamento do emblema oficial de 2014.
“O Brasil quer fazer uma Copa mais marcada pela sustentabilidade do que as duas anteriores”, explicou Langone.
A câmara temática do meio ambiente e sustentabilidade pretende equacionar os licenciamentos da infraestrutura necessária para a Copa, busca uma estratégia para alavancar a produção e distribuição de produtos orgânicos e sustentáveis até 2014 e planeja estruturar cerca de 40 parques – muitos deles deteriorados atualmente – para receber visitação no período da competição.
Como essas iniciativas são nacionais, a realização delas depende dos governos estaduais e municipais, e questões políticas podem ser envolvidas e impedir que as ações se desenvolvam por completo.
Para João Alberto Viol, presidente do Sinaenco, o Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva, o Brasil conseguirá cumprir parte do objetivo.
“Acho que vai ser mais uma missão feita mais ou menos, ao nosso estilo. Para fazer uma Copa verde nós temos que pensar no conceito da sustentabilidade: o equilíbrio do homem com o meio ambiente. E para isso, todas as soluções têm que ser pensadas sob esse aspecto: a obra, o local, o equilíbrio dela com o entorno”, disse Viol.
“Nós conseguiremos fazer alguns projetos com inovações, que venham de encontro à sustentabilidade, mas isso não está num plano global, em que todas as soluções foram discutidas e colocadas.”
Ele citou ainda problemas como os resíduos sólidos, os aterros, a sujeira das cidades, o esgoto não tratado e a drenagem como “pontos que afetam a visibilidade da Copa, mas não impedem a sua realização”.
Estádios “certificados” – O coordenador da câmara do meio ambiente e sustentabilidade disse que todos os estádios que usarão recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terão que ter um certificado com selos reconhecidos internacionalmente. O mesmo acontecerá para os hotéis.
Por enquanto, nove dos 12 estádios da Copa entraram em contato com o banco. Porém, as obras estão atrasadas, o que despertou a preocupação da Fifa.
“Os estádios que usarão dinheiro privado não estão obrigados a fazer (a certificação), mas há uma diretriz de que eles também façam. A tendência é que todos tenham.”
Ter um estádio “certificado” significa que ele obedece a uma série de exigências ambientais, conforme explicou o arquiteto Sergio Coelho, responsável pela construção do estádio de Cuiabá.
“Toda a especificação do projeto (de Cuiabá) leva em conta a eficiência energética, a reciclagem, o uso de madeira certificada, é uma lista bastante grande de itens que tem a ver com a questão ambiental”, declarou.
“Não é razoável você usar rede pública de água, então estamos fazendo no nosso projeto bastante reuso da água, seja água de chuva, a água de cobertura é toda captada, e a água de irrigação do gramado também faz parte desse sistema.”
A construção da Fonte Nova, em Salvador, utilizará um processo de reciclagem dos resíduos do antigo estádio, demolido no domingo. O entulho é fragmentado em pedaços ainda menores, separado do metal e da madeira, tornando-se um tipo de material apropriado para reaproveitamento em serviços de terraplanagem e pavimentação, informou a construtora responsável pelas obras.
O arquiteto Marc Duwe, que trabalha para a empresa que projeta a reconstrução da Fonte Nova, destaca “o reuso da água, o sistema da cobertura que usa menos aço e a ventilação natural” como fatores importantes do projeto. (Fonte: G1)