De um lado, um planeta que conseguiu atingir a meta quantitativa de territórios verdes conservados. De outro, um grave déficit de biodiversidade impulsionado pela má administração de muitas dessas ecorregiões. Este é o atual panorama do mundo segundo a edição mais recente do relatório Planeta Protegido, assinado pelo Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep-WCMC) e pela União Internacional para a Conservação da Natureza, com apoio da National Geographic Society.
Publicado nesta quarta-feira (19), o documento apresenta a avaliação final da Meta 11 de Aichi, estipulada em 2011, que incluía o objetivo de proteger pelo menos 17% das zonas terrestres e de águas continentais do planeta, além de 10% das zonas costeiras e marinhas. A análise deve influenciar a meta universal que a sucederá – o Marco Global Pós-2020 de Biodiversidade –, que será definida em outubro de 2021 na Conferência sobre Diversidade Biológica da ONU em Kunming, na China.
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Atualmente, pelo menos 16,64% de ecossistemas terrestres e águas interiores estão dentro de áreas protegidas e conservadas documentadas, o que equivale a 22,5 milhões de km². Embora não tenha alcançado a meta de 17%, o relatório considera que o objetivo foi cumprido, uma vez que muitas áreas protegidas ainda não foram documentadas.
Segundo a investigação, foram as regiões marinhas e costeiras que registraram o maior crescimento em áreas protegidas ao longo dos últimos dez anos: o índice chegou a 18,01%, superando, assim, a meta de 10%. O mesmo não foi observado no percentual de conservação das áreas oceânicas (7,74%), que ficou aquém da Meta de Aichi. O estudo, no entanto, afirma que “a designação pendente de várias grandes áreas marinhas protegidas pode aumentar esse número”.
O outro lado
Embora esses números demonstrem que a comunidade internacional fez consideráveis progressos em direção à meta global de conservação, o relatório alerta que essas áreas representam menos da metade (44,5%) de todas as ecorregiões terrestres e apenas 47,4% das ecorregiões marinhas.
Pior: de acordo com o documento, um terço das principais áreas de biodiversidade do planeta ainda não estão protegidas de nenhuma forma e menos de 8% da terra está conectada – muito abaixo dos quase 17% de área que agora está sob proteção –, o que prejudica a movimentação de espécies.
Por isso, segundo o relatório, um dos principais objetivos que deverão guiar o planeta nos próximos anos é aumentar a “qualidade” dessas áreas, o que significa melhorar a eficácia de sua administração. “Designar e contabilizar áreas mais protegidas e conservadas são [medidas] insuficientes, elas precisam ser administradas de forma eficaz e governadas de forma equitativa se quiserem realizar seus muitos benefícios em escalas local e global e garantir um futuro melhor para as pessoas e o planeta”, diz, em comunicado, Neville Ash, diretor do Unep-WCMC.
O relatório sugere que o uso integrado da terra e o planejamento do espaço marinho são medidas necessárias para facilitar a conexão entre os territórios, da qual “depende a persistência da biodiversidade no longo prazo”. Além disso, o documento recomenda que as regiões circundantes sejam geridas de forma adequada e que os países prestem apoio aos esforços de conservação de grupos indígenas, comunidades locais e instituições privadas.
Em comunicado, o diretor-geral da IUCN, Bruno Oberle, reconhece o progresso feito na última década, mas, diante do declínio da biodiversidade global, antecipa a sugestão de uma “meta ambiciosa” a ser discutida na Conferência sobre Diversidade Biológica da ONU. ”Pedimos que as Partes da Conferência da ONU sobre Biodiversidade em Kunming estabeleçam uma meta ambiciosa que irá garantir a cobertura de área protegida de 30% da terra, água doce e oceanos até 2030 – e essas áreas devem ser colocadas da melhor maneira para proteger a diversidade da vida na Terra e ser geridas de forma eficaz e governadas de maneira equitativa “, afirma.
Fonte: Galileu