Em uma mina do Vale Hukawng, na Birmânia, foi descoberto um pedaço de âmbar de aproximadamente 99 milhões de anos. A resina contém uma nova espécie de caracol terrestre, com uma concha coberta de pelos curtos e eriçados em sua margem. Um artigo a ser publicado na edição de dezembro da revista Cretaceous Research concluiu que a presença de pelos pode ter oferecido aos moluscos uma vantagem evolutiva.
“Esta já é a sexta espécie com concha peluda [da família] Cyclophoridae, um grupo de caracóis terrestres tropicais encontrados até hoje, encontrados em âmbar mesozoico”, afirma a pesquisadora Adrienne Jochum, do Instituto de Pesquisa Senckenberg, do Museu de História Natural em Frankfurt e do Museu de História Natural de Berna, em nota.
Por meio de microscopia clássica e de microtomografia computadorizada, os pesquisadores conseguiram visualizar os pelos na concha do animal. A nova espécie, chamada Archaeocyclotus brevivillosus, tem em seu corpo pelos finos que medem de 0,1 a 0,2 milímetros de comprimento. Segundo Jochum, o âmbar foi coletado em 2017 e o fóssil preservado do caracol mede 2,6 centímetros de comprimento, 2,1 centímetros de largura e 0,9 centímetros de altura.
“A margem externa da concha é forrada de pelos curtos que se agrupam ao redor da abertura da concha. Seu nome deriva das palavras latinas brevis (curto ou pequeno) e villōsus (peludo ou desgrenhado)”, descreve Jochum.
Liderada por Jean-Michel Bichain, do Museu de História Natural e Etnografia de Colmar na França, a equipe internacional descobriu que os pelos são formados pela camada proteica superior da concha, chamada de perióstraco.
O fato de se existir pelos nas conchas não surpreenderam os pesquisadores, uma vez que são comuns em várias famílias de caracóis terrestres, incluindo os caracóis Polygyridae. Esse fato sugere que os pelos apareceram várias vezes durante a evolução dos caracóis terrestres e, até mesmo, em grupos de parentes distantes ao animal. Além de pelos, os animais podem apresentar sulcos, nódulos e dobras.
Para os pesquisadores, os pelos podem ser uma vantagem evolutiva, uma vez que eles ajudam o animal a se agarrar melhor em caules e folhas, algo já observado nos caracóis atuais. Uma outra função dada para essas estruturas é a regulação térmica, pois permite que gotículas sejam aderidas pela casca, refrescando-o. Os pelos também podem ter servido de camuflagem contra ataques de pássaros e predadores. Para Adrienne Jochum, não se pode descartar que os pelos também tenham tido um papel ativo durante a seleção sexual.
Fonte: Galileu