Dos 17 estados brasileiros que têm a Mata Atlântica presente no território, Santa Catarina é o quarto que mais desmatou o bioma entre 2019 e 2020. Segundo uma pesquisa divulgada na quarta-feira (26) em alusão ao Dia da Mata Atlântica comemorado nesta quinta-feira (27), o estado perdeu 887 hectares no período.
Em comparação ao relatório do Atlas da Mata Atlântica de 2018 a 2019, o estado aumentou em 25% o índice de desmatamento. Um ano antes foram destruídos de forma irregular 710 hectares em Santa Catarina.
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Para o biólogo e ex-professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), João de Deus, o resultado no Atlas não era esperado
“Temos áreas já alteradas mais do que suficientes para acomodar atividades e empreendimentos. Não é razoável que tenhamos ainda o estado e municípios autorizando supressão de vegetação de Mata Atlântica. Ficar entre os 5 principais desmatadores de Mata Atlântica é vergonhoso”, afirmou o biólogo.
Até a noite desta quinta, o G1 tentava contato com o Instituto do Meio Ambiente do estado para posicionamento em relação aos dados.
A pesquisa, que é realizada desde 1989, mostrou variação dos índices de destruição ao longo dos anos no estado. Nos últimos dez anos, a menor marca registrada de desmatamento foi de 499 hectares, entre 2011-2012 (veja mais abaixo).
Santa Catarina conserva 2.183.862 hectares de áreas de florestas remanescentes da Mata Atlântica. O bioma abriga diversas formações florestais como restingas, manguezais e campos de altitude e está presente nas áreas urbanas e rurais do estado.
Desmatamento da Mata Atlântica em SC
Ano | Desmatamento (hectares) |
19-20 | 887 |
18-19 | 710 |
17-18 | 905 |
16-17 | 595 |
15-16 | 846 |
14-15 | 598 |
13-14 | 692 |
12-13 | 672 |
11-12 | 499 |
10-11 | 568 |
Estudo
O levantamento foi feito por meio de imagens de satélite e tecnologias na área da informação, do sensoriamento remoto e do geoprocessamento. O objetivo é determinar a distribuição espacial dos remanescentes florestais e de ecossistemas associados da Mata Atlântica, monitorar as alterações da cobertura vegetal e gerar informações permanentemente aprimoradas e atualizadas desse bioma.
O estudo é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica em convênio com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), unidade do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI iniciada em 1989.
“A manutenção de um alto patamar de perda da vegetação nativa da Mata Atlântica, com o aumento do desmatamento em alguns estados, mantém o bioma em um grau elevado de ameaça e risco. […] a proteção e a restauração do bioma são fundamentais para garantir serviços ecossistêmicos para 70% da população que vivem em seus domínios e 80% da economia brasileira”, aponta o relatório.
Importância Mata Atlântica em SC
O biólogo João de Deus explica que a preservação da Mata Atlântica é essencial para manutenção de organismos importantes para polinização que realizam o controle de herbívoros, o que gera reflexos diretos na agricultura.
“A sequência de períodos de estiagem nos mostra claramente a importância da Mata Atlântica para a segurança hídrica, com reflexos diretos na produção industrial e agropecuária e, sem dúvida, na qualidade de vida de todo cidadão catarinense”
Na área costeira do estado, segundo João, também tem interferência da mata na proteção das restingas e manguezais. É ela que evita a erosão costeira e garante até a sustentabilidade das atividades ligadas à pesca, de acordo com ele.
“A redução da poluição e manutenção da qualidade do ar também se vincula diretamente a manutenção de remanescentes de vegetação nativa. […] Para isso é essencial fortalecer as entidades organizadas da sociedade civil, para ter maior atuação com a geração dessas demandas, tentando frear medidas tomadas pelo estado que contribuem para a ampliação dessa degradação da Mata Atlântica em Santa Catarina”, conclui.
Fonte: G1