Os cientistas descobriram uma nova maneira inteligente de medir o aquecimento dos oceanos, usando ondas sonoras de terremotos submarinos.
Os pesquisadores dizem que a análise funciona porque o som viaja mais rápido em águas mais quentes.
A equipe analisou dados sônicos do Oceano Índico emitidos por tremores durante um período de 10 anos.
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Como os mares esquentaram devido ao aquecimento global, os cientistas viram as ondas sonoras aumentarem de velocidade.
O novo método mostra que a tendência de aquecimento decadal no Oceano Índico foi muito maior do que as estimativas anteriores.
Ter informações precisas sobre o aquecimento de nossos oceanos é fundamental para os cientistas do clima.
Eles entendem que cerca de 90% da energia aprisionada em nossa atmosfera pelos gases de efeito estufa é absorvida pelos mares.
Mas ter medições de temperatura precisas, em vários locais e profundidades, é um grande desafio.
A implantação de cerca de 4.000 dispositivos autônomos, chamados de flutuadores Argo, que capturam informações de temperatura, ajudou muito, mas existem grandes lacunas em nosso conhecimento.
Em especial para análises relacionadas a águas mais profundas do que 2.000 m.
Mas agora uma equipe de pesquisadores desenvolveu uma abordagem muito diferente, que explora o fato de que a velocidade do som na água do mar depende da temperatura.
A ideia foi proposta e testada pela primeira vez no final dos anos 1970, usando ondas sonoras geradas por cientistas.
No entanto, devido as preocupações com o impacto desses sons sobre os mamíferos marinhos e os custos crescentes, a ideia foi abandonada.
A nova abordagem envolve o uso de ondas sonoras produzidas naturalmente durante um terremoto subaquático.
Os cientistas examinaram dados de mais de 4.000 tremores que ocorreram no Oceano Índico entre 2004 e 2016.
A equipe então procurou por pares de “repetidores”, terremotos com origens e intensidades quase idênticos.
Ao medir quanto tempo esses sinais lentos levaram para cruzar as águas da Indonésia, até uma estação de monitoramento na ilha de Diego Garcia, eles foram capazes de calcular as mudanças de temperatura de todo o oceano, durante o período de 10 anos.
“As ondas sonoras levam cerca de meia hora para viajar de Sumatra a Diego Garcia”, disse o autor principal, Dr. Wenbo Wu, do Instituto de Tecnologia da Califórnia à BBC News.
A mudança de temperatura do oceano profundo entre Sumatra e a ilha de Diego Garcia faz com que esse tempo de viagem de meia hora varie em alguns décimos de segundo.
“Como podemos medir essas variações com muita precisão, podemos inferir as pequenas mudanças na temperatura média do oceano profundo, neste caso cerca de um décimo de grau.”
O autor diz que o sistema tem algumas vantagens importantes, pois é capaz de fornecer uma temperatura média em grande escala ao longo do caminho de 3.000 km de Sumatra a Diego Garcia, o que reduz a influência das flutuações locais e o torna mais preciso sob a análise do oceano como um todo.
O método também é bastante barato, pois usa dados que já estão sendo coletados, além de ser sensível a temperaturas mais profundas do que a restrição atual de 2.000 m.
Em sua pesquisa, os cientistas mostraram que o aquecimento no Oceano Índico ao longo da década que estudaram, foi maior do que o estimado anteriormente.
No entanto, o artigo contém algumas ressalvas importantes.
“É importante enfatizar que este é um resultado que se aplica a esta região em particular e a esta década em particular”, disse o Dr. Wu.
“Precisamos aplicar nosso método em outras regiões e em diferentes períodos de tempo para avaliar se existe alguma subestimação ou superestimação sistemática da tendência do oceano profundo em nível global.”
“É muito cedo para tirar conclusões nesse sentido.”
Para fazer a ideia funcionar em escala global, os cientistas precisarão de acesso a mais receptores subaquáticos.
No momento, a equipe de pesquisa está trabalhando com dados coletados por uma rede de hidrofones, operada pela Organização do Tratado de Proibição de Testes Nucleares Abrangentes das Nações Unidas, que está monitorando explosões nucleares subaquáticas.
Esses hidrofones captam sinais de boa parte dos 10.000 terremotos submarinos superficiais que ocorrem globalmente a cada ano, explicou o Dr. Wu.
“Todos esses dados contêm informações sobre a mudança de temperatura nas profundezas do oceano – estão apenas esperando que os estudemos.”
O estudo foi publicado na revista Science.
Fonte: BBC News / Matt McGrath
Tradução: Redação Ambientebrasil / Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em inglês acesse: https://www.bbc.com/news/science-environment-54193334